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Rachel Reis, a 'revelação' baiana que brilha em seu 2º disco, 'Divina Casca'
Publicado em 27/05/2025

Indicada ao Prêmio BTG Pactual da Música Brasileira, ela fala sobre o álbum, que teve participações de BaianaSystem e Rincon Sapiência

Por Leonardo Lichote, do Rio

Fotos de Érico Toscano

Rachel Reis explica que “Divina Casca”, nome de seu recém-lançado segundo álbum, se refere por um lado a seu corpo, ou seja, sua presença física no mundo — e o tanto que ele carrega de divino, como tudo que é humano. Mas a expressão também aponta para o tanto de experiência que ela acumulou desde que se lançou pra valer na vida de cantora, com o lançamento dos seus primeiros singles, em 2020.

“A casca vai engrossando com a vivência, como todas as coisas que a gente passa”, define a cantora baiana de 28 anos, indicada (e bem cotada) ao Prêmio BTG Pactual da Música Brasileira 2025 na categoria Artista Revelação. “Você faz para essa casca para se proteger e poder se transformar. Os últimos cinco anos foram muito intensos porque eu não parei de trabalhar na música, mas ainda precisava encontrar maneiras de sobreviver.”

De 2020 pra cá, no caminho de ser apontada entre as grandes novidades da nova cena baiana, Rachel se lançou em várias frentes para pagar as contas:

“Fiz brechó, trabalhei como designer sem nem saber desenhar nada… E, na vida pessoal, estava passando por um turbilhão de coisas, fim de relacionamento. Fui tentando no meio disso tudo me entender enquanto artista. Foi uma reflexão geral.”

ASSESSORA DE SI MESMA

Nos primeiros passos da carreira artística, imperava a mesma lógica da “viração”. Rachel, por exemplo, costumava fingir que era sua própria assessora para dar ares de profissionalismo ao tentar vender shows ou se apresentar para a imprensa.

“Eu mesma escrevia um texto sobre mim, criava um e-mail como se fosse de uma produtora. Fui nesse caminho, trocando pneu com o carro andando, fazendo os festivais, as coisas foram acontecendo”, resume.

O carro de Rachel foi longe — dos bares de Feira de Santana, onde nasceu, aos palcos de festivais como Coala e Psica, passando pela indicação ao Grammy Latino com seu álbum anterior, “Meu Esquema” (2022), e o reconhecimento como Artista Revelação pela Associação Paulista dos Críticos de Arte. O novo “Divina Casca” é mais um marco de quilometragem nessa estrada, marco de consolidação, não de guinada, como ela mesma ressalta:

“Tem uma ligação ali com tudo que eu já fiz: o ‘Encosta’ [EP lançado em 2021], o ‘Meu Esquema’, os singles todos.... Eu gosto de manter uma unidade. Porque rola uma percepção das pessoas de que você tem que chegar, meu Deus, transformado. ‘Olha essa nova era’, tem essa coisa das eras. ‘Olha como eu cheguei roqueira’. As coisas têm que acontecer naturalmente. Se amanhã você estiver azul, legal. Faz um álbum azul. Mas não porque a galera acha mais interessante que você venha com uma roupagem X ou Y.”

‘UMA COISINHA CARIOCA’

“Divina Casca” é, nesse sentido, um amadurecimento natural de “Meu Esquema”. Com outros temperos, como explica Rachel:

“Eu trago mais referências: samba, jazz, uma coisinha carioca ali no meio. Me permiti explorar outros caminhos, mantendo uma unidade ali de coisas que eu gosto, sendo fiel ao que curto.”

Para alcançar o resultado que queria, Rachel convidou diversos produtores para pilotar com ela a sonoridade do disco. Barro — cantor, compositor e produtor pernambucano com quem ela trabalha desde seus primeiros singles — segue presente, mas, além dele, há um time cuja escalação traça um mapeamento da cena de produção contemporânea.

“Queria trazer essas pessoas que já estão comigo, ou gente de quem que eu sou fã, que eu percebo que está fazendo um trabalho legal. Tem Barro, Guilherme Assis, Diogo Strausz, Marcelo de Lamare, Iuri Rio Branco, RDD, Tomaz Loureiro, SekoBass…”, lista Rachel. “Queria perceber como essa minha melodia, essa minha caneta, soaria nessas roupagens desses produtores, com um direcionamento ali meu, de forma que se encaixasse comigo.”

VIBES E PARTICIPAÇÕES

Ela não imaginou uma sonoridade para o álbum, mas sim um processo de construção.

“Eu trazia algumas referências, tipo ‘vamos para essa vibe mais summer eletrohits’. Quando eu fiz ‘Jorge Ben’, por exemplo, a gente levantou algumas músicas dele pra poder se inspirar”, lembra a baiana. “Tudo foi acontecendo de um jeito muito natural, sem uma vontade de fato que o álbum soasse de certa forma, mas ele foi ganhando corpo ali na conversa, na construção com os produtores.”

A ampliação da sonoridade de Rachel também se mostra nas participações especiais. O dolente pagodão “Alvoroço” tem o reforço do BaianaSystem. No reggae-trap “Tabuleiro”, ela  recebe Don L, Nêssa e Rincon Sapiência. Já a swingueira turbinada “Apavoro” tem Psirico como convidado.

“Já havia a expectativa de ter esse feat com BaianaSystem. Temos uma sintonia, a música deles me inspira. E Russo (Passapusso) e eu nascemos na mesma cidade, Feira de Santana. Já Márcio Victor [Psirico] é um gênio, um dos maiores percussionistas do Brasil. Ele colocou percussão na faixa inteira e canta junto comigo. Nêssa, é uma artista aqui de Salvador que, pra mim, é uma popstar. Ela trouxe uma camada de voz que combinou muito com o reggae, deu um glam ali nessa mistura com o Rincon e Don L, que têm uma caneta surreal. Eu trouxe pra eles a mensagem inicial, que eu canto, e eles chegaram com uma visão que casou perfeitamente. As vivências deles se ligam com a minha.”

A abertura para a diversidade sonora não é algo novo para Rachel, que cresceu no ambiente democrático da música de barzinho — no qual MPB e sertanejo e pop internacional dividem espaço sem conflitos. Mas esse olhar amplo da cantora vem ainda de antes, do solo baiano. A Bahia, ela descreve, lhe deu tudo: seresta, reggae, bossa, pagodão…

‘A MELODIA ME PAGA MUITO’

Sobre origem, sua mãe, também cantora, foi uma grande inspiração. Rachel cresceu vendo a mãe cantar e enfrentando o peso de ser mulher preta num mercado excludente. Compositora de música e letra, ela tem em suas canções uma característica não tão comum na cena contemporânea, de valorizar a melodia — em geral, hoje, muitas vezes o conteúdo manifesto nos versos, a mensagem, deixa a musicalidade em segundo plano:

“A melodia me pega muito. Eu geralmente faço a melodia primeiro, aí em cima eu construo, trago ideias. Uma melodia bem feita, que marca, que já te prepara pro refrão, vira uma coisa, vira um chiclete, tem uma energia diferente.”

O canto de Rachel carrega essa mesma energia centrada na musicalidade. É vigoroso, mas sem floreios que desviam das intenções da canção.

“Pra mim, a magia está muito nisso aí, nessa sutileza, nessa coisa do timbre, no rasgar de um timbre, mas de um jeito em que a poesia imprime (e que) a gente consegue enxergar sem malabarismos.”

“Divina Casca” traz uma única canção que não é de Rachel — mas que, numa certa dimensão, é profundamente dela: “Sexy Yemanjá”, clássico de Pepeu Gomes.

“Eu sou noveleira. E, quando eu era criança, era pior”, lembra a cantora. “Quando eu era adolescente, estavam reprisando ‘Mulheres de Areia’, e eu ficava ali esperando essa música. Adorava essa melodia, essa coisa da sereia, isso me pegava muito. Resolvi gravar porque, além de brincar com esse meu apelido de Sereiona, tem esse lado sentimental, essa nostalgia mesmo. Fala muito de mim.”

 

LEIA MAIS: A lista completa de indicados ao Prêmio BTG Pactual da Música Brasileira, que, pelo segundo ano, tem categoria especial oferecida pela UBC

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