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Luedji Luna: 2 álbuns em 18 dias, sem se prender a tendências
Publicado em 15/07/2025

Cantora e compositora baiana diz ser essencial cantar aquilo que escreve e mostra como vem tomando as rédeas de sua carreira

Por Kamille Viola, do Rio

Fotos de Henrique Falci

No dia 26 de maio, Luedji Luna lançou o disco “Um Mar Pra Cada Um”, com 11 faixas. Dezoito dias depois, em 13 de junho, foi a vez de “Antes Que a Terra Acabe”, com dez. Em um tempo em que boa parte dos artistas opta por soltar singles ou dividir um álbum em dois EPs, a cantora e compositora baiana escolheu não se render a regras do momento e, simplesmente, dar vazão à sua criação. Afinal, para ela, ao mesmo tempo que não fazia sentido lançar as músicas em um só trabalho, deixar o segundo disco para muito tempo depois também não era uma opção.

A artista explica que eles carregam a mesma essência, porque trazem os mesmos sentimentos, já que surgiram no mesmo contexto, o ano de 2024, que foi bastante intenso para ela. Mas, ao mesmo tempo, têm energias distintas e complementares.

“Se eu lançasse os dois no mesmo dia, talvez as pessoas fizessem a leitura de que é um disco duplo, e eu queria deixar demarcado que são trabalhos diferentes. Por isso também não coloquei tudo em um álbum só”, explica. “Eu quero fazer um show, e deixar o ‘Antes Que a Terra Acabe’ para ser lançado daqui a um ou dois anos não fazia sentido, porque, com certeza, já vou ter sido atravessada por outras questões. Quero viver essas canções agora, porque elas ainda estão aqui, na ordem do meu dia, na minha pele, na minha memória."

“Um Mar Pra Cada Um” passeia pelo neo-soul e o jazz, como os trabalhos anteriores da cantora, e investiga o desejo e a carência dela. O disco tem participações de Nubya Garcia, Liniker, Tali, Takuya Kuroda e Isaiah Shaker, além da voz da historiadora e ativista Beatriz Nascimento recriada por inteligência artificial, lendo o poema de autoria própria “Baby, Te Amo”. Já “Antes Que a Terra Acabe” também tem o neo-soul e o jazz como norte, mas incorpora influências do lo-fi, da bossa nova, do afrobeat e do amapiano, gênero musical sul-africano. As letras expõem as estranhezas e contradições da cantora nessa busca pelo amor que permeia o álbum anterior. Seu Jorge, Arthur Verocai, Alaíde Costa, Robert Glasper, Emillie Lapa e MC Luanna e Rapsody participam da produção.

TANTO AO MESMO TEMPO

Luedji, que é autora de 17 das 21 músicas, conta como elas foram quase todas compostas no ano passado — uma das poucas exceções é “Dentro Ali”, lançada em seu disco de estreia, “Um Corpo no Mundo”, que ela regravou em “Um Mar Pra Cada Um”. Todo o processo criativo foi em meio aos shows de seus discos anteriores, “Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água”, de 2020, e “Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água Deluxe”, de 2022 (este último, apesar do nome, tem repertório distinto, como uma espécie de lado B). Ainda ao mesmo tempo, ela estava dedicada ao projeto “Luedji Canta Sade”, aos shows nos Estados Unidos e à rotina em família: Luedji é mãe de Dayo, que, no próximo 24 de julho, completará 5 anos. O menino é filho dela com o também cantor Zudizilla, com quem é casada.

O processo para a realização dos discos foi novo para a artista, que nos três anteriores, conseguiu fazer uma imersão neles.

“Foi a primeira vez que eu fiz um álbum — ou melhor, dois — vivendo. Por isso demorou tanto, eu fui fazendo no flow: ‘Ah, tenho um tempo essa semana, então vamos para o estúdio’, ‘Agora vou dar uma pausa e focar em outra coisa, depois volto para o disco’. Isso tudo foi para eles. A minha vida, as minhas tretas, as minhas descobertas, tudo que eu vivi em 2024 foi para esses álbuns. Por isso eles são especiais também: eles foram costurados com tempo e vivência.”

Integrante dos parcos 8% de compositoras num universo esmagadoramente masculino, de acordo com o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), ela conta que cantar o que foi criado por ela é algo primordial na sua carreira.

“Esse é o meu lugar. Eu nem sei ser artista de outro jeito, porque, quando decidi enveredar nessa carreira artística, queria fazer isso para expressar a minha escrita. O meu discurso, o meu sentimento, o que eu quero mobilizar no mundo, o que eu quero transmitir, tudo isso está na minha escrita. Eu falo isso direto: que a compositora nasceu antes. Desde adolescente eu escrevo. E acho que o canto vem para espalhar essa escrita”, afirma.

Ela diz que, quando iniciou a carreira, o mercado brasileiro era “um terreno bem baldio”, no sentido de pouca representatividade de mulheres compositoras.

“Sempre foi uma bandeira que eu levantei, de ser protagonista do próprio discurso, de contar minha própria história. E acho que, apesar de 8% serem pouco, faço parte de uma geração muito frutífera, de mulheres que escolheram cantar as próprias canções. Então, eu vejo como um crescimento mesmo, porque se, hoje, somos 8%, ontem éramos menos”, defende a autora. “E que mais mulheres, cantoras ou não, tenham espaço para se expressar com liberdade."

Nesse processo de se expressar plenamente, Luedji vem se envolvendo cada vez mais com a produção dos discos. Se em “Um Corpo no Mundo” (2017) a função ficou a cargo de Sebastian Notini, em “Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água” (2020) e “Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água Deluxe” (2022), ela produziu o trabalho junto ao guitarrista queniano Kato Change. Nos álbuns novos, embora as faixas sejam assinadas por nomes diferentes (Fejuca, Duda Raupp, Kato Change, Lucas Cirilo, Iuri Rio Branco, Toty Samed, Zudizilla, Lucas Romero, Curumin e a própria Luedji, que produziu três canções), tudo passa por ela.

Ela explica que seu trabalho inclui decidir tudo a respeito das músicas, ir ajustando cada uma: ‘Essa linha não está boa’, ‘Faz o looping disso’, ‘Tira daqui, corta, bota isso’.

“E, mais importante que isso, é fazer a diretriz do disco como um todo. De mandar referências para cada produtor, de compreender: ‘Olha, o disco está caminhando por aqui’, mandar instruções do que eu quero, do que eu gosto, e fazer com que as canções conversem”, descreve a artista. “Porque cada produtor, cada cabeça, é um mundo, mas eles têm que construir juntos o meu mundo, e fui eu a responsável por fazer com que cada planeta desses criasse esse universo ‘Um Mar Pra Cada Um’ e esse universo ‘Antes Que a Terra Acabe’”, diz.

PARCEIROS DE VIDA

Por falar em Zudizilla, Luedji Luna se derrete ao comentar a parceria com o companheiro, na música e na vida.

“É um cara muito talentoso: artista plástico, designer, estudou publicidade, é produtor, rapper, canta. Enfim, estou com essa fonte inesgotável de criatividade aqui. É impossível não me influenciar”, elogia ela. “A gente escuta muita música, troca muita música, debate sobre música, pesquisa junto, curte junto. Outro dia ele estava no estúdio fazendo um beat para ele, eu estava na cozinha fazendo alguma coisa, fui lá, comecei a cantar em cima e falei: ‘Não sei o que você vai fazer com isso, mas eu quero’. E botei no disco, foi uma das últimas a entrar no ‘Antes Que a Terra Acabe’. Era ‘Requinte’”, lembra ela.

Os dois, que estão juntos desde 2018, fizeram diversas parcerias desde o single “Proveito”, de 2020. “Eu amo o processo desses dois discos, porque foi tudo tão orgânico, de muita intuição, de muito flow, pouco planejamento. Mas foi muito cansativo, eu não sei se eu vou fazer música de novo dessa maneira. Não sei se eu consigo, porque foi bastante exaustivo emocionalmente. Foi muita coisa que aconteceu, que eu senti. E o Zud participando de tudo isso, porque ele é o cara, ele é muito bom”, conta ela. “Esse disco não sairia sem ele. Não só pelo pela paciência de me escutar, que às vezes eu ficava cansada, reclamava, e ele me dava motivação: ‘Não, bora, bora, foguete não dá ré’. A presença dele também serviu de suporte emocional, foi até mais importante do que a parte técnica”.

 

OUÇA MAIS: O álbum "Um Mar Pra Cada Um"

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