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Morre Arlindo Cruz, aos 66 anos, no Rio de Janeiro
Publicado em 08/08/2025

Sambista lidava há 8 anos com as sequelas de um AVC que encerrou prematuramente sua brilhante carreira

Do Rio

Como tantas crianças no Rio de Janeiro dos anos 1960, Arlindo Cruz um dia ganhou um cavaquinho de presente. Como pouquíssimas, nunca mais se separou dele. E usou esse belo instrumento para compor, só ou em muitas parcerias, centenas de obras que marcaram o mundo do samba ao longo de mais de 40 anos de carreira profissional.

Ainda muito jovem, Arlindo teve formação nobre: estudou teoria musical e violão clássico. Jovem frequentador de rodas de samba, teve a sorte de, uma noite, dar com o grande Candeia, que se encantou com o estilo do menino e o estimulou a seguir a carreira musical.

Mas a família tinha outros planos para ele: aos 15 anos, foi mandado à Escola Preparatória de Cadetes do Ar, em Barbacena (MG). Cumpriu os primeiros anos da formação, mas não quis dar o passo para se tornar um oficial; voltou ao Rio e passou a frequentar a roda de samba do Cacique de Ramos, na Zona Norte da cidade. Ali, foi se enturmando pouco a pouco com grandes figuras como Jorge Aragão, Beth Carvalho e Almir Guineto. Começou a escrever composições com Zeca Pagodinho e Sombrinha, outros jovens talentosos que trilhavam os primeiros passos de suas trajetórias. Não demorou, e as músicas de Arlindo passaram a ser gravadas por bambas como Beth Carvalho (“Grande Erro”) e Alcione (“Novo Amor”).

O GRANDE SALTO

O destaque crescente o levou a participar de um grupo que mudaria para sempre sua trajetória, o Fundo de Quintal. Foi como substituto de Jorge Aragão, quando este saiu do conjunto. Ali, Arlindo permaneceu 12 anos, lançou quase 10 discos e participou de sucessos como “Seja Sambista Também”, “Só Pra Contrariar”, “Castelo Cera”, “O Mapa da Mina” e “Primeira Dama”.

Em 1993, sentiu que era hora de alçar novos voos e se lançou em carreira solo. Ao primeiro disco, “Arlindinho”, se sucederam outros oito, inclusive com grande repercussão na mídia e no mundo pop, como “MTV ao Vivo: Arlindo Cruz”, que vendeu mais de 200 mil cópias entre CDs e DVDs. Paralelamente, ele teve uma trajetória sólida como compositor de sambas de enredo, emplacando nada menos que 16, entre 1989 e 2016, em diferentes escolas do Rio: Império Serrano, Grande Rio, Vila Isabel e Leão de Nova Iguaçu.

QUASE 800 OBRAS REGISTRADAS

Homem de muitas parcerias, compôs dezenas de canções com o irmão, o também sambista e compositor Acyr Marques. A capacidade de criar de Arlindo sempre impressionou seus pares. No sistema da UBC, há quase 800 obras registradas em seu nome, só ou com parceiros. Destas, segundo dados do site dele, mais de 550 foram gravadas por inúmeros intérpretes.

Zeca Pagodinho e Beth Carvalho foram dois dos que mais registraram criações de Arlindo. Zeca gravou "Bagaço de Laranja", "Casal Sem Vergonha", "Dor de Amor", "Quando Eu Te Vi Chorando". Já Beth deu voz a “Jiló com Pimenta”, “Partido Alto Mora no Meu Coração” e “A Sete Chaves”, entre inúmeras outras.

Em março de 2017, poucos dias depois do carnaval, Arlindo sofreu um AVC que o deixou mais de um ano internado. Jamais se recuperou das sequelas e, para a tristeza do mundo do samba, precisou encerrar prematuramente sua carreira estrelada. Em 2023, foi enredo do Império Serrano, que homenageou aquele que criou alguns de seus mais clássicos sambas.

“Gosto de várias escolas, mas o amor pelo Império Serrano é especial”, costumava dizer o sambista, resumindo sua conexão especial com a escola do bairro de Madureira.

Sua última internação foi no dia 28 de abril de 2025 para tratar de uma pneumonia. Segundo a esposa, Babi Cruz, Arlindo sofreu de pneumonia mais de 30 vezes ao longo dos últimos oito anos.

AMOR DA FAMÍLIA

À globo.com, Flora, filha do artista (pai também de Arlindinho) comentou na época que era melhor manter o pai no hospital, que dispunha de mais recursos para cuidar dele:

“O Arlindão é um paciente que precisa de muito cuidado, por ele não falar e se expressar muito. A gente tem que estar com ele o tempo todo monitorado. [...] É um dia de cada vez. O meu pai é um bebê gigante, é o nosso amor. E ele recebe todo esse cuidado.”

Nesta sexta-feira, 8 de agosto, o grande sambista silenciou. Pouco mais de um mês antes de completar 67 anos, Arlindo partiu, deixando um legado de amor pela música, uma legião de fãs e amigos e o título de “sambista perfeito”, referência a um dos grandes sucessos dele, composto em parceria com Nei Lopes — e que deu nome, este ano, à biografia dele.

Presidente da UBC, a cantora e compositora Paula Lima destacou a leveza e a generosidade do sambista:

"Arlindo Cruz, mestre querido, foi o poeta do povo. Arquiteto da música popular brasileira, nos ensinou que o samba é resistência, afeto e celebração da vida! Arlindo falava de amor, da tradição, da fé, da amizade, de forma harmoniosa e apaixonada. 
Sempre leve e sorridente, nos abraçou com a sua generosidade e seu amor. O seu legado será inspiração para todos em todos os tempos. E agora, lá do alto, nos guiará com toda a sua luz. Uma honra pra todos nós vivermos no mesmo tempo que Arlindo Cruz! Viva o nosso amoroso sambista mais que perfeito!"

Ditetor da UBC, Simoninha fez coro com ela:

"O que sempre me fascinou na obra do Arlindo foi sua qualidade musical. Suas  harmonias, poesia e melodias são realmente especiais. Um grande mestre da nossa música, muito respeito e admiração. Viva Arlindo Cruz."

Em nota publicada nas redes sociais, sua escola do coração publicou uma sentida homenagem, resumindo o sentimento do mercado musical sobre ele:

“Arlindo Cruz é parte da alma do Império Serrano. Compositor genial, cantor de voz marcante e sambista de coração inteiro, ele escreveu páginas inesquecíveis da nossa história. Seu nome, sua música e sua história jamais serão esquecidos.”

VEJA MAIS: Arlindo Cruz canta "Meu Lugar (Ao Vivo)"

 


 

 



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