Conheça iniciativas para tentar promover a nossa arte lá fora
A internet inaugurou uma nova fase na divulgação da nossa música pelo mundo. Mas o retorno financeiro modesto propiciado por muitos serviços de streaming e a ausência de consenso sobre a inclusão desse tipo de reprodução on-line na categoria execução pública (o que potencializaria os ganhos dos autores) fazem do rádio o canal ainda mais lucrativo de difusão. E não é só: diferentes pesquisas publicadas no segundo semestre do ano passado mostram que o rádio ainda é o canal preferido da maioria dos americanos (61%) e também dos brasileiros (64%) para descobrir novas músicas. A crise das grandes gravadoras, porém, afetou os mecanismos de envio de novidades musicais nacionais a radialistas estrangeiros, como mostra um estudo da Brasil Música & Artes (BM&A), organização dedicada à promoção da nossa arte. A conclusão a que a entidade chegou não é das mais animadoras: a música nacional “parou no tempo” para muitos ouvintes lá de fora.
“Eu já trabalhei em gravadoras, e, durante anos, montamos um banco de dados de rádios estrangeiras, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Vários desses radialistas são meus amigos. Ano passado, enviei e-mail para 200 deles, e o retorno foi o seguinte: eles basicamente não sabem mais o que se passa no mercado musical brasileiro”, afirma David McLoughlin, responsável pelo segmento internacional do projeto Brasil Music Exchange, criado pela BM&A. “Um desses radialistas, o Tom Schnabel, tem um programa muito conhecido em Los Angeles chamado 'Rhythm Planet' e promoveu uma discussão sobre a Karol Conka (apontada como um dos próximos grandes 'estouros' pela revista 'Rolling Stone'). Mas é exceção. A maioria dos radialistas ficou para trás. Há uma década ainda havia as gravadoras enviando coisas para eles. Já não. Só conhecem coisas antigas. Tocam Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento, talvez até Céu ou Vanessa da Mata. Mas, se você pergunta se conhecem Karina Bur, Emicida, Criolo, não sabem quem são. Se não tocam música brasileira, vão tocar do Mali, do Senegal, da Argentina, de onde for. Alguns países estão mais articulados nessa difusão”, ele completa.
A música francesa, por exemplo, dispõe da plataforma Francodufision, que permite a radialistas do mundo todo acessar e baixar novos conteúdos, com informações detalhadas sobre os artistas e até a contextualização das cenas e dos movimentos musicais a que pertencem. É um esforço coletivo que, na opinião de especialistas, também pode ser feito individualmente. Manter bons canais no YouTube e no SoundCloud é o mínimo. Mas, segundo McLoughlin e Leandro Ribeiro da Silva, gerente do projeto BME, não basta. É preciso provocar os radialistas, ainda grandes lançadores de tendência. Por meio do BME, eles planejam enviar pacotes de novos conteúdos de artistas nacionais periodicamente a algumas das mais importantes rádios americanas e europeias, a fim de fazer a roda girar e criar outra vez uma cultura entre os radialistas de atenção à música brasileira.
“Na minha opinião, as grandes gravadoras não são insubstituíveis nesse papel de difusão da nossa música. Os artistas é que devem se adaptar aos novos tempos”, pondera Silva. “É preciso correr atrás. O nosso projeto, por exemplo, vai oferecer essa ponte com os radialistas. A cada dois meses, incialmente, enviaremos dez álbuns a esses curadores. Já temos 50 e poucas rádios cadastradas no nosso banco de dados interessadas em receber o material. Aos poucos, vamos aumentando.”
McLoughlin cita o caso da banda brasileira Far From Alaska, de Natal. Eles cantam em inglês e fizeram uma turnê ano passado nos Estados Unidos, inclusive passando pelo festival South By Southwest, de Austin, no Texas. Por meio da BM&A, contrataram uma empresa de Chicago especializada em rock para promover seu trabalho em rádios universitárias americanas. O pacote de divulgação de três meses ficou em apenas US$ 4.500 e multiplicou a visibilidade da banda nos EUA, além de lhe garantir bom público na turnê. “É preciso ter em mente que o artista deve fazer um investimento para se tornar conhecido”, diz Silva.
A participação direta em feiras musicais também é desejável. Em algumas delas, é possível “vender” a própria música a formadores de opinião de todo o mundo. Tida como a maior da América Latina, a ExpoMusic terá sua 33ª edição de 21 a 25 de setembro em São Paulo. Em Medellín, na Colômbia, a Circulart é a de maior reverberação para o resto do subcontinente latino-americano. A próxima edição será em novembro. E a principal do mundo, Midem, no balneário francês de Cannes, de 3 a 6 de junho, espera reunir outra vez mais de seis mil representantes de dezenas de países, que participam de encontros e debates e celebram muitos contratos. Todas elas ainda têm inscrições abertas, e mais informações podem ser obtidas por meio dos sites.