Instagram Feed

ubcmusica

No

cias

Notícias

Filipe Catto: arte ardente
Publicado em 02/06/2016

Artista gaúcho comenta inspirações do álbum 'Tomada', que o elevou a outro patamar na cena musical nacional

Por Fabiane Pereira, do Rio
Fotografias de Gal Oppido

Como uma iguaria rara cujo sabor deixa marca muito depois da primeira degustação, o álbum “Tomada”, de Filipe Catto, lançado no segundo semestre do ano passado, continua a surpreender por seu sofisticado “retrogosto”. Segundo trabalho de estúdio do gaúcho radicado em São Paulo, foi produzido por Kassin e transborda personalidade e “autoralidade”, ainda que nem todas as canções tenham sido escritas por Catto. Ao site da UBC, o cantor e compositor comenta as inspirações do disco que o elevou a outro patamar na música nacional e compara o momento que vive ao início da carreira, no fim da década passada, em Porto Alegre. “Eu me considero um intérprete porque não tenho distinção entre as composições de outros autores e as minhas na hora de escolher um repertório. No palco, me sinto um veículo dessas letras, das melodias, e tem músicas que falam mais de mim do que as que eu escrevi e gosto de ter essa liberdade. Ser intérprete me deixa mais solto para eu poder compor qualquer coisa que minha voz quiser cantar, sabe? Ao passo que ser compositor me deixa mais criterioso e responsável na hora de me conectar com as canções de outros autores”, afirma.

O trabalho deixa claro que Catto está em busca de sua essência, dos sons e temas que o aproximaram da música. “Tomada” pode ter diferentes significados: desde a eletricidade pulsante das interpretações do artista que arde no palco até a atitude de tomar posse da própria arte. O  álbum é o sucessor de “Fôlego”, lançado em 2011. Mas, em 2009, Catto já havia lançado o EP independente “Saga”. Entre o primeiro e o segundo trabalho solo, o artista lançou o CD e DVD “Entre Cabelos, Olhos e Furacões”, seu primeiro registro ao vivo.

Sem aproveitar sobras ou qualquer ideia de trabalhos anteriores, Filipe Catto confeccionou o repertório muito interessado em se conectar com artistas que contribuíram para sua formação musical, de PJ Harvey a Cássia Eller, de Radiohead a Jeff Buckley. Vale lembrar que, entre “Fôlego” e “Tomada”, ele fez o show “Catto canta Cássia”, e o repertório afiado da artista influenciou completamente a construção sonora deste segundo trabalho. “Esse show nasceu porque a Cássia sempre foi uma das minhas maiores influências. Me reencontrar com aquele repertório e o desafio de interpretar uma obra já consagrada por outra intérprete foi um aprendizado incrível. A quantidade de coisas que aprendi nesse espetáculo é imensa, e não tinha como isso não estabelecer os caminhos do “Tomada”. Cresci ouvindo o excelente pop rock nacional dos anos 80 e 90 e queria que o “Tomada” tivesse essa pegada de repertório. Por isso a presença do Moska, da Marina Lima, do Pedro Luis (Marina compôs "Partiu" e Pedro Luis e Moska dividem com Catto a autoria de "Adorador" e "Depois de Amanhã" respectivamente)... Tudo isso veio, de certa forma, da experiência de cantar este tipo de canção que estava ali presente no repertório da Cássia e que caiu como uma luva pra minha voz”, afirma Filipe.

VÍDEO: Assista ao clipe de 'Dias e Noites'.

O que mudou do Filipe Catto do início da carreira para o artista que acaba de lançar seu segundo disco e tomar com propriedade as rédeas de uma estrada bem pavimentada?
Filipe Catto: Eu sinto que as coisas se expandiram, que meus horizontes são maiores. Vivendo em Porto Alegre eu tinha poucas referências do que estava acontecendo ao meu redor, não tinha muitos recursos que contribuíssem com minha arte... Hoje eu sinto que o que mais me nutre são as parcerias. Chegar a São Paulo me fez desabrochar intensamente como intérprete, e essa descoberta mudou minha cabeça, fez-me conectar com a minha natureza ao mesmo tempo em que me apresentou a uma porrada de artistas com quem eu pude trocar, me questionar, me reinventar. Hoje eu consigo olhar a minha trajetória e relacioná-la com a minha vida inteira. E perceber o quanto tudo vem sendo natural, bonito e consistente.

Em “Tomada” você apresenta uma versão da canção “Amor Mais Que Discreto”, gravada por Caetano e pouco conhecida do público. A música é considerada um hino gay. Numa época em que os artistas da sua geração estão cada vez mais levantando bandeiras contra padrões machistas, essa música foi regravada com alguma intenção política?
Sim, com certeza. Eu amo o que essa música representa, porque ela é amorosa. Ela não é combativa. É bela, singela, sensual. E acho que a melhor maneira de combater a ignorância, a brutalidade, é com a suavidade, com a gentileza. Eu amo essa música, porque a vivo na pele há anos. E, quando ela caiu no meu colo, foi de uma emoção absurda. Quando a cantei pela primeira vez, diante de tudo, senti que seria uma heresia não gravá-la. 

Seu disco emociona e toca em feridas, principalmente de quem tenha pelo menos 20 e poucos anos. O que o inspirou a compor? Essa mesma inspiração o leva a garimpar pérolas já gravadas e não percebidas pela maioria das pessoas?
É tudo muito pessoal, sabe? Acho que o “Tomada” é um disco que fala desse período da vida em que a gente é jovem e velho ao mesmo tempo. Já viveu, já aprendeu, mas ainda tem muito o que acontecer. O que me inspirou a compor esse universo foi uma vontade de sair do lugar-comum, de cantar coisas novas, frescas, entrar em contato com a minha geração, que é maravilhosa, me apossar disso, desse momento tão especial da música. É um disco onde todas as músicas são em primeira pessoa, não tem personagem, não tem subterfúgio. É o trabalho onde eu mais me expus, sem sombra de dúvidas. A vontade de me despir foi o motor que direcionou as composições e também a escolha das canções que comporiam este universo.

Quando será seu próximo show?
A próxima parada é no festival Vento, na Ilhabela (SP), em 11 de junho. 


 


 

 



Voltar