No novo álbum ‘Peixe’, cantora mineira lança mão de sua voz doce para apresentar canções
Por Fabiane Pereira, do Rio
Cantora, compositora e instrumentista, a mineira Michele Leal, radicada no Rio há uma década, é dona de uma voz doce longe de ser melosa e emociona o ouvinte pela precisa técnica vocal. Há três anos, a canção título de seu EP de estreia, “Jacarandá”, entrou na trilha sonora da novela “Sangue Bom”, da TV Globo, e o feito foi porta de entrada dela para a cena musical contemporânea.
VÍDEO: Michele Leal canta com exclusividade para nosso site
Há pouco mais de um mês, Michele lançou o disco “Peixe” de maneira independente, e o trabalho surpreende positivamente. Novamente seu timbre envolvente é usado com personalidade a serviço de um repertório quase todo inédito a única regravação, “Praça Onze” (Herivelto Martins/Grande Otelo), ganhou ótima releitura. As dez faixas tiveram a produção musical do craque Domenico Lancellotti.
Com participação especial de Jaques Morelenbaum no violoncelo, “Peixe” é um disco de samba, de balada, intimista, de bossa, de pop e de maracatu. Costumo dizer que música boa é aquela que toca a gente e estendo essa "tese" para disco também. O novo álbum de Michele Leal é daqueles que, mesmo finda a audição, continuam transitando em nosso corpo e em nossa mente.
VÍDEO: Assista ao clipe de “Jacarandá”
Num papo com o site da UBC, ela fala sobre suas inspirações e seu processo de criação.
Você é mineira radicada no Rio. Acha que para um artista se destacar no cenário musical brasileiro ainda é necessário que ele esteja no Rio ou em São Paulo?
Michele Leal: Tudo depende um pouco do conceito do que é se destacar no cenário musical. Considero "ter destaque" quando alguém reconhece a qualidade do seu álbum, entende seu teor e sua essência, debate sobre a construção dele. E claro que o eixo Rio São Paulo é, sem dúvida, um dos mais importantes. São os lugares onde se fomenta em maior quantidade o que acontece no Brasil todo. As pessoas vão para SP ou vem para o Rio para conseguir trocar, expor seus trabalhos de forma mais ampla, ter contato com outros músicos. Aqui estamos todos nos movimentando e fomentando a nova música. Batalhando espaços juntos aos espaços públicos, ocupando teatros. Mas o Brasil é um pais tão farto e bonito na sua diversidade cultural e musical que aqui, ao meu ver, é mais onde acontece a erupção dessas ideias e misturas. Acho muito importante trabalhar nosso espaço neste novo cenário, mas ele não é o único.
Em que momento a música se profissionalizou na sua vida?
A música tem sido presente na minha vida desde a infância. Cresci participando de coral. Aos 14 anos criamos um quarteto de MPB inspirado no Quarteto em Cy e começamos a fazer shows pelas redondezas. Acho que foi nesse momento que entendi que queria fazer isso da vida. Comecei a cantar em bares, com o Quarteto, sem Quarteto e, no fim de tudo isso, vim morar no Rio e fazer faculdade. Durante o período da faculdade acabei fazendo a música “Jacarandá”, e ela foi um divisor de águas na minha vida. Desde então, minha vida só tem sido a música. Isso foi no ano de 2012. A partir desse momento, o momento em que a música entrou na novela, comecei a fazer mais shows, participar de projetos, e uma coisa leva a outra. Neste momento, estamos trabalhando o novo disco, “Peixe”. Um momento especial, de amadurecimento, músicas novas e um trabalho muito mais quente e forte. Um excelente momento profissional.
Você costuma participar de muitos projetos musicais. De que maneira eles contribuem para sua criação artística?
Acho que o importante é participar de bons projetos. Justamente aqueles que vão te somar alguma coisa nova, caminhos diferentes daqueles que você sempre escolhe, conhecer pessoas novas. Enfim, tem quatro projetos de que participei recentemente que considero muito relevantes e foram uma experiências incríveis, porque foram grandes desafios. Dois deles circulam nessa cena experimental: “Banquete”, projeto de Marcio Bulk e Cadu Tenorio que une a canção com o noise. Foi de grande significado para mim, pelas pessoas que participaram e fizeram as canções, pelo desafio da interpretação, pela paisagem sonora que se construiu no disco. O mesmo aconteceu com “Baile Primitivo”, um show com a cena experimental, onde fizemos releituras alucinantes dos grandes sambas da época de ouro. Desconstruímos a música, focando na letra e na mensagem. Na contramão do noise, veio o projeto de releituras do Milton Nascimento, gravado na casa dele. Músicos desta "nova cena" fizeram releituras dos grandes sucessos do Clube da Esquina. Por fim, o projeto que ainda estou envolvida é o projeto “MDB: Meninas do Brasil”. Novas compositoras apresentam suas obras em vídeos. Estou fazendo os shows deste projeto em paralelo ao shows do disco “Peixe”.
E sobre esse novo trabalho... Por que 'Peixe'?
“Peixe” tem direção do Domenico Lancellotti e arranjos meus em parceria com uma superbanda (Thomás Harres na bateria; Pedro Dantas no baixo; Cláudio Andrade nos sintetizadores e teclados; Domenico na percussão, efeitos e bateria, e Marcos Campelo na guitarra e no violão de 12 cordas). É um disco mais maduro, com temas fortes e com uma roupagem completamente diferente e bem
mais autêntico do que o EP. É um trabalho muito mais orgânico e original. “Peixe” é um nome muito simbólico. O disco tem varias canções que permeiam a água, o mar, a vida, a alegria, a prosperidade, o cardume, o mar revolto. Uma música quente, cheia de alegria e amor. Cheia de energia boa. E eu queria trazer essa energia e simbolismo para o nome do disco. Além de tudo, “Peixe” é um nome superforte.