Com mais de duas décadas de estrada, banda gaúcha independente lança o EP 'Repuxo', que mistura seu tradicional rock a outras e interessantes sonoridades
Por Fabiane Pereira, do Rio
Foto de Raul Krebs
Uma das mais respeitadas bandas do rock nacional independente, a gaúcha Walverdes está de volta à cena com “Repuxo” (Loop Discos), EP cuja produção artística leva a assinatura do próprio guitarrista, Julio Porto. As músicas já estão disponíveis em serviços de streaming e para download. “Repuxo” dá um passo além no som registrado nos álbuns anteriores. Apesar de a banda continuar investindo na mistura de garage rock, punk e grunge que sempre a caracterizou, nos últimos anos vem experimentando novas texturas e efeitos sonoros que trazem outras audições ao tradicional rock'n'roll, e isso fica bastante nítido neste novo trabalho. Na gravação do EP, o Walverdes optou por gravar as bases ao vivo com uma série de outras sessões de overdubs para experimentar e aprimorar as músicas. O background de funk, reggae e dub de Julio Porto trouxe ainda mais referências para o som. A mixagem precisa de Beto Machado (Titãs, Raimundos, Mundo Livre) fecha o pacote, contribuindo para a coesão e a evolução da sonoridade do quarteto.
O nome do EP, “Repuxo”, é uma referência ao fenômeno que marca a infância de quem passa as férias no litoral gaúcho. “Repuxo é o refluxo intenso da água da costa de volta ao mar pela ação da gravidade. O repuxo forma buracos e pode levar pessoas a se afogarem. Toda criança gaúcha é alertada repetidamente pelos pais e salva-vidas sobre essa ameaça”, conta Gustavo Mini, vocalista e guitarrista da banda.
A Walverdes está em atividade ininterrupta desde 1993 e já lançou quatro álbuns de estúdio, dois EPs e um disco digital ao vivo. A banda surgiu na borbulhante cena do rock gaúcho dos anos 1990 e extrapolou as fronteiras geográficas, apresentando-se em diversos palcos do país. Em 23 anos de carreira e andanças, eles já dividiram o palco com atrações internacionais como Nebula, Breeders, Supergrass e Nada Surf, além de ter feito tours e shows junto com grandes nomes nacionais como Autoramas, Nação Zumbi, Ira!, Ultraje a Rigor, Júpiter Maçã e Wander Wildner. Quase todos os grandes e pequenos festivais independentes do país já tiveram a Walverdes em seu line-up.
Além de Julio e Mini, seguem na banda Marcos Rübenich (bateria) e Patrick Magalhaes (baixo). Confira a minientrevista deles ao nosso site.
É dificil sobreviver no mercado sendo uma banda de rock independente?
Mini: É difícil, mas eu tenho certeza de que hoje há mais opções e caminhos do que há 23 anos, quando começamos. Ainda que existam deficiências estruturais, o ecossistema da música é um pouco mais rico e nutrido do que no início dos anos 90, por exemplo. Claro que tudo depende das aspirações da banda. Nossas aspirações são mais ligadas à música mesmo, então nós estamos estruturados para isso. E esse caminho é um pouco mais independente de questões mercadológicas.
O que mudou na Walverdes do primeiro registro fonográfico para banda que está lançando o EP “Repuxo”?
Não mudamos muito. O eixo básico do nosso som é o mesmo: somos cria dos anos 1990 e fortemente influenciados pelos anos 1960 e 1970. Nossas letras são em português. Tocamos alto. O que mudou foi o mundo ao redor. A forma de produzir e distribuir música mudou radicalmente. Mas a forma de fazer, para nós, é basicamente a mesma. Essa é a beleza do punk e do rock mais básico, né? Nós somos uma banda muito prática, e isso é quase revolucionário hoje, quando todo mundo parece muito complicado, enredado em complicações.
Quais os planos para este segundo semestre?
Estamos na fase de divulgar o disco novo e nos preparando para tocar em bares e festivais.
Como vocês veem a questão do direito autoral no Brasil e o trabalho realizado pela UBC?
O trabalho da UBC é fundamental. O que me impressiona no trabalho da UBC é o tratamento horizontalizado. Mesmo sendo artistas de menor expressão comercial, sempre fomos tratados com dignidade, respeito e eficiência. Isso é uma atitude que não se repete em todos os segmentos da cultura independente.