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Blues in Salvador
Publicado em 29/08/2016

Com pesquisa, intuição e talento, Eric Assmar lidera um trio que faz diferente e ganha reconhecimento na cena alternativa da capital baiana

Por Fabiane Pereira, do Rio

Despontando como um dos novos representantes da cena blueseira no Brasil, o jovem e talentoso guitarrista/cantor/compositor baiano Eric Assmar apresenta, à frente de sua banda, Eric Assmar Trio, uma proposta musical inspirada nos power trios blues/rock dos anos 60 e 70. No caso dele, tudo começou em 2009 e, desde então, já derivou em dois álbuns, “Eric Assmar Trio”, de 2012, e o recém-lançado “Morning”. Vencedor na categoria Melhor Instrumentista do Prêmio Caymmi de Música (2015), Eric mostra que tem estrela. E de berço. Filho do pioneiro do blues na Bahia Álvaro Assmar, o jovem concluiu a graduação em Licenciatura em Música pela Universidade Federal da Bahia e é mestre também pela UFBA. Cerebral, intuitivo, envolvido, ele desenvolve uma carreira que rema contra o mainstream e os clichês normalmente associados à música baiana.

Com produção do pai e do próprio Eric Assmar, "Morning" tem recebido inúmeros elogios da imprensa especializada. Formado por Eric Assmar (guitarra e voz), Rafael Zumaeta (baixo) e Thiago Brandão (bateria e vocais), o trio traz uma sonoridade comprometida com o blues e ainda dialoga com elementos de rock, pop e soul, marcando um momento importante na trajetória do grupo e evidenciando uma identidade própria consolidada nas composições de Eric Assmar – sempre com acento e fôlego muito originais nas performances ao vivo.

O site da UBC conversou com Eric, o vocalista do trio, para saber mais sobre um trabalho que, a despeito do pouco tempo de vida, já conquistou adeptos.

VÍDEO: Eric Assmar toca “Morning”

Como a música entrou profissionalmente em sua vida e por que a escolha do blues?

Eric Assmar A música sempre esteve muito perto de mim ao longo da minha vida. Desde muito cedo tomei gosto pelo rock e pelo blues, por intermédio do meu pai, e acabei me interessando pelo aprendizado da guitarra. Comecei a tocar guitarra com uns 9 ou 10 anos. Na adolescência eu já fazia participações em shows do meu pai, tocava eventualmente com alguns amigos que me convidavam e, aos poucos, foram se tornando comuns os convites para tocar profissionalmente. Ainda na minha adolescência eu já recebia cachês para fazer shows e tinha uma rotina de músico profissional. Tudo foi meio que como uma consequência natural mesmo. Acabei fazendo vestibular e cursando Licenciatura em Música na UFBA um tempo depois, mas a música já estava completamente inserida em minha vida profissional. ¿¿Sobre a escolha, eu diria que o blues escolhe a gente, não o contrário (risos). Eu fui "contaminado" por essa música, me apaixonei completamente. Sempre tive contato com músicos de blues de Salvador e de várias partes do Brasil ao longo de minha infância e adolescência. "Respirei" essa música e essa atmosfera desde cedo e, para mim, sempre foi fascinante. Sempre quis aquele estilo de vida, de tocar blues, compor músicas, reinterpretar clássicos, viver tocando e cantando blues. Em Salvador, apesar de termos poucas iniciativas dedicadas ao segmento, vejo muitas pessoas interessadas.

Quais suas principais referências musicais, além do seu pai?

Grupos como os Beatles e o Black Sabbath foram fundamentais para que eu me apaixonasse pela música e buscasse conhecer mais a respeito. Ouvi bastante figuras como Eric Clapton (me chamo Eric em homenagem ao próprio, inclusive), Jimi Hendrix, Duane Allman, Stevie Ray Vaughan, Robert Cray, Gov't Mule, dentre vários outros. Além da referência do meu pai, também tive contato por muito tempo com guitarristas de blues de Salvador, como Mario Dannemann, Oyama Bittencourt, Fred Barreto, além de outras figuras do blues de outros estados, como Lancaster, Solon Fishbone, André Christovam. Todos esses foram referências que pude ver de perto e, sem dúvida, ajudaram a nutrir meu amor pela música e servem de inspiração para a música que faço.

Como a academia influencia sua arte?

Eu enxergo a academia como um espaço em que posso produzir conhecimento a partir do lugar de onde venho, valorizando esse meu "eu" enquanto pesquisador. Trabalho com uma pesquisa que diz respeito ao ensino da guitarra blues, o que dialoga diretamente com meu cotidiano de professor e guitarrista do gênero. Busco fazer com que minha música e minha vida acadêmica caminhem juntas, penso que dessa maneira ambas se tornam mais instigantes para mim e sinceras para as pessoas com quem divido o que produzo.

Como foi o processo de produção/criação de “Morning”?

Surpreendentemente rápido. Compus as músicas em um intervalo de uns três meses, mais ou menos. Eu tenho um equipamento de gravação caseiro. Ia programando baterias, gravando takes de guitarra, baixo e vozes. Fazia uma mixagem simples e levava para os meninos - Rafael Zumaeta (baixo) e Thiago Brandão (bateria) - ouvirem e desenvolverem os arranjos comigo. Então, tivemos alguns encontros em estúdio para dar forma a essas músicas e, em um fim de semana, fizemos a gravação no estúdio Casa das Máquinas, em Salvador. Fizemos gravações adicionais no estúdio Star Blues num momento seguinte, adicionando camadas de violões, vozes e a participação do amigo Jelber Oliveira no órgão Hammond, em duas faixas. O disco foi produzido por mim e pelo meu pai, Álvaro Assmar, que também cuidou da parte de mixagem e masterização. Além de nós, contamos com o apoio de Márcio Portuga, técnico de gravação. O “Morning” foi o fruto do trabalho de um grupo numericamente pequeno, porém coeso e bastante empenhado em oferecer o melhor possível.

Por que só gravações em inglês? Isso dificulta ou ajuda na divulgação do trabalho em rádios nacionais?

Na verdade tudo foi um grande acaso. Procurei deixar que as músicas falassem por elas mesmas, da forma como apareciam para mim no ato de compor. Aconteceu de quase todas, com exceção de "Aqui", terem aparecido já no inglês. Interferi muito pouco nas ideias iniciais, busquei ser o mais espontâneo possível. Foi bastante orgânico dessa maneira, e acho que o trabalho ganha em consistência na medida em que você busca ser sincero, sem forçar uma barra com as músicas.¿¿Com relação à divulgação do trabalho nas rádios nacionais, tenho percebido que as músicas do “Morning” têm tido muita aceitação em relação ao primeiro disco, acredito que por terem uma estética mais pop e radiofônica. O fator do idioma predominante nas letras até então não se mostrou um obstáculo nesse sentido.

Vocês são de uma geração completamente bombardeada pela cultura pop. Como filtrar tantas influências e produzir um disco autoral?

Às vezes a velocidade das informações e da dinâmica do nosso dia a dia dificultam na produção de um produto novo, com a devida calma e a dedicação que isso requer. Logo que comecei a compor, tive muita dificuldade em ter esse tipo de foco, mas, com relação ao “Morning”, confesso que me surpreendi com a rapidez e a objetividade com que as coisas aconteceram. Acho que o desafio é exercer esse "mantra" interno e abrir diálogo com todas as referências que chegam até nós, olhando para elas com nossos olhos e, assim, dando vida às nossas músicas.

Vocês acabaram de lançar este novo trabalho. Quais os planos de curto prazo?

Levar esse trabalho para o máximo de plateias distintas que conseguirmos. Acabamos de lançar o álbum com um show maravilhoso no Teatro do IRDEB em Salvador, que foi filmado pela TVE Bahia para se tornar um especial de televisão, a ser veiculado pela emissora ainda neste semestre. Já fizemos também show em São Paulo e em Londrina (PR), pelo VI Festival de Blues de Londrina, um evento maravilhoso, com lotação esgotada e um público muito cativante. Entre São Paulo e Londrina, compraram todos os discos que levei na bagagem (foi uma quantidade enooorme), o pessoal realmente se identificou com nossa proposta autoral, o que foi bem gratificante. No último Dia dos Pais estivemos no Parque da Cidade, em Salvador, em uma participação no show que fiz com o meu pai, pelo projeto Música no Parque, que também foi memorável, com uma repercussão maravilhosa. Tem sido um período de muito trabalho, muita correria e não deixo de me surpreender com a aceitação incrível que o “Morning” tem tido pelas pessoas. Isso tem me deixado muito feliz com o trabalho, e pretendemos ainda circular bastante com esse novo material, isso é só o começo!


 

 



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