Encontros internacionais na China e no Equador, ambos com a participação da UBC, trazem avanços em debates sobre o papel do criador na era digital
De Pequim e Quito*
Duas entidades internacionais que representam associações de compositores realizaram diferentes eventos no final de novembro, no Equador e na China, em que, mais uma vez, dominaram os debates a precarização do labor de compositor musical na era digital – notadamente no que tange às relações com os serviços de streaming –, e as inúmeras oportunidades trazidas pelas novas formas de promoção e distribuição de música. No encontro chinês, o Fórum Mundial de Criadores, promovido pela Confederação Internacional de Sociedades de Autores e Compositores (Cisac) com a presença do diretor-executivo da UBC, Marcelo Castello Branco, a transferência de valor na economia digital e a campanha mundial para a remuneração justa foram tema de discursos. Pela primeira vez celebrado na China, por anos associada a um combate frouxo à pirataria, o fórum foi mais um indício da recente mudança de postura da nação asiática, que, aos poucos, vem dando mais passos para punir essa contravenção, como multas e o fechamento de sites que hospedam links com conteúdos ilegais.
Durante o evento, dia 28 de novembro, em Pequim, foi anunciado oficialmente o surgimento da Aliança Ásia-Pacífico de Criadores Musicais (APMA, na sigla em inglês), que reúne associações de compositores de 15 países da região, incluindo Austrália, Nova Zelândia, Taiwan, Tailândia, Coreia do Sul, Japão e Vietnã. A Sociedade de Direitos Autorais da China assinou um memorando de entendimento para futura cooperação.
“O fórum foi uma grande oportunidade de aproximação com o mundo particular e gigante que é a China. Nos últimos 30 anos, eles avançaram muito no entendimento da propriedade intelectual e das questões autorais. Para o Ocidente, parecem passos tímidos de uma cultura milenar. Na prática, temos razões para um otimismo cuidadoso, atento e proativo. Por isso nos reunimos também com autoridades de alto escalão do governo, uma comitiva multicultural, de todos os continentes, da qual me orgulho de ter sido o único brasileiro e latino”, diz Marcelo Castello Branco. “Os chineses aprovarão leis fundamentais para os criadores nos próximos meses. Por isso era oportuna a visita global organizada pela Cisac.”
Na margem sul-americana do Pacífico, os diretores da UBC Geraldo Vianna e Manno Góes participaram, de 21 a 24 de novembro, de mais uma edição do Seminário Internacional de Formação Para Autores e Compositores. Idealizado por Vianna, em cooperação com Barbara Nash, diretora-executiva da Aliança Latino-Americana de Compositores e Autores de Música (Alcam), o evento percorre diferentes países para dialogar com os criadores locais, ouvir seus problemas e debater soluções. Com apoio da UBC, a edição de Quito e Guaiaquil teve importante contribuição da Sociedad de Autores del Ecuador (Sayce).
Foram realizadas, com a presença de um advogado, de publicitários e de divulgadores da área artística, palestras sobre as redes sociais e as várias formas de promoção, abordagem jurídica nos tempos atuais, formas de distribuição por streaming e download e a gestão coletiva como uma saída para os novos tempos, com suas complexidades e seu novo modelo de negócio.¿
“Nossa participação, em uma palestra, foi voltada para produção musical, novas formas de desenvolvimento de carreira e gestão coletiva frente à realidade brasileira. Expusemos o quadro atual dos usuários de rádio e TVs (adimplentes e inadimplentes) e as ações em âmbito político, além das negociações com plataformas digitais e, principalmente, Google (YouTube)”, conta Vianna. “O Equador passa por um momento de negociações, talvez decisivas, com o Google. Em Quito, esse tema gerou muitas discussões, pois a realidade é muito semelhante à do Brasil. Houve grande exposição de ideias e muitas perguntas pertinentes ao momento que vivem os jovens artistas do Equador”, descreve, lembrando que o streaming e sua baixa remuneração foram muito mencionados pelos compositores daquele país. Mais de cem criadores, jovens e veteranos, participaram do seminário, que, em outras edições de 2016, sempre com apoio da UBC, passou por Bolívia, Colômbia e México.
“Nós, da UBC, contribuímos ainda com artigos e textos, traduzidos e publicados em sites de interesse da classe, em todo o mundo, que refletem a nossa posição de constante defesa do autor e a necessidade de seguirmos juntos nessa luta. A América Latina está de mãos dadas, seguindo com os autores de todas as nacionalidades, em sintonia com suas necessidades”, finaliza Vianna.
* Com informações da Cisac, na China, e do diretor da UBC Geraldo Vianna, no Equador