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Noruega anuncia fim da FM e provoca 'terremoto' na indústria: será que essa onda chega aqui?
Publicado em 18/01/2017

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Há uma semana teve início o processo de migração da frequência modulada para o sinal digital, mas especialistas e a própria população do país nórdico mostram ceticismo

De Oslo e Brasília*

Uma semana atrás, um pequeno terremoto com epicentro em Oslo teve poucas repercussões imediatas no resto do mundo musical. Mas essa reverberação promete ser longa. Em 11 de janeiro de 2017, a Noruega anunciou que será o primeiro país do mundo a extinguir o serviço de frequência modulada, a FM, migrando todas as suas rádios para o mundo digital. A primeira que encerrará suas transmissões na “tecnologia antiga”, como já vem sendo chamada por lá, será a todo-poderosa NRK, a rádio nacional por excelência, que é estatal. Com a expansão da capacidade de armazenagem de canais no espectro digital, o país nórdico, com pouco mais de cinco milhões de habitantes, espera oferecer, nos próximos anos, algo mais de 50 rádios digitais. Atualmente, apenas cinco ainda emitem em FM.

O ministério da Cultura da Noruega publicou uma conta que justifica a medida. A economia anual com a transmissão digital, calcula, será da ordem de US$ 25 milhões. “O custo de transmitir canais nacionais de rádio através da rede FM é oito vezes maior que o da Retransmissão Digital de Áudio (DAB, nas siglas em inglês)”, publicou a pasta num comunicado oficial no dia 11. Além disso, sustenta, a transmissão digital envolve menos gasto de energia.

“Os ouvintes terão acesso a um conteúdo mais diverso e plural e desfrutarão de uma qualidade de áudio melhor, além de funcionalidades interativas”, celebrou a ministra da Cultura, Thorhild Widvey. “Em condições extremas, como em emergências, a rádio digital também é mais confiável, não está sujeita a tantas falhas.”

Menos empolgados estão tanto a indústria musical global quanto a própria população norueguesa. O analista britânico James Cridland disse à BBC que o momento é de “nervosismo”. Ainda sem se fiar totalmente de serviços como Spotify ou Apple Music, que sabidamente pagam centavos por direitos de reprodução, a indústria poderá ver minguar os ganhos com direitos de execução pública. “É muito possível que os atuais ouvintes de rádio, em vez de migrar para o serviço digital, simplesmente decidam se conectar ao Spotify e outras plataformas similares”, afirma o analista. Com playlists e outras funcionalidades que já funcionam analogamente como rádios digitais, e grande capacidade de interação, esses serviços de streaming já largaram na frente, o que obrigará as migrantes FMs a investir em inovação na sua transição para o ambiente digital. “Vai ser preciso surpreender e reconquistar as audiências”, completa o expert, que aposta: o mundo prestará muita atenção a esse tema antes de tomar decisão similar.  

Se depender do que dizem as pesquisas de opinião na própria Noruega, ele tem razão. Uma delas, do diário “Dagbladet”, publicada em dezembro passado, revelou que nada menos que 66% dos habitantes do país são contrários à desaparição da FM. Somente 17% são a favor. Mais: 74% da população têm algum aparelho de captação de sinal digital, mas nos carros - onde lá, como cá, tantos escutam notícias e músicas a caminho do trabalho todos os dias - esse número não chega a 33%. O adaptador que permitirá a recepção do sinal digital em velhos aparelhos FM custa até 2 mil coroas norueguesas (uns US$ 250), o que tem deixado os futuros compradores compulsórios descontentes.

A primeira província norueguesa a extinguir a FM, no próprio dia 11, foi a de Nordland. Espera-se que até o fim de 2017 a frequência modulada tenha dado adeus a todo o país.

E o Brasil a ver com isso?

Muito distante da Noruega, o nosso país ainda se debate com a migração obrigatória das rádios AMs (há muito desaparecidas por lá) para a FM. Como o site da UBC mostrou em outubro passado, essa transição esbarra nos preços das taxas obrigatórias de outorga, considerados altos demais por algumas emissoras. Além disso, o dial do sistema de frequência modulada tem limitações ligadas ao processo de transição da TV analógica para a digital, que ainda não foi concluído e, portanto, não liberou espaço.

De acordo com a Agência Brasil, quase mil das 1.781 emissoras de rádio AM foram notificadas a pagar a taxa de migração para a FM, ainda em aberto. Esses valores podem variar de R$ 30 mil a R$ 4,5 milhões, dependendo da potência, da população atingida e dos indicadores econômicos e sociais do município.

O Ecad estima um aumento na arrecadação com direitos de execução pública nesse processo de migração. É que, segundo o escritório central, o valor pago pelas emissoras FM é, em média, 10% maior. Além disso, uma vez que a programação das rádios FM costuma se basear mais em música que a das AMs, o bolo de arrecadação subiria ainda mais. Um dos argumentos que amparam essa mudança de perfil tem a ver com a melhoria na qualidade sonora propiciada pela FM. Não há, no entanto, estimativas oficiais sobre isso no momento. Já se sabe que muitas das emissoras atualmente baseadas na AM manterão suas programações e, inclusive, já operam concomitantemente na FM e até como rádio digital.

Segundo o Ministério da Cultura brasileiro, não há qualquer previsão de adoção, nos próximos anos, de uma medida extrema como a norueguesa por aqui. A rádio FM, no Brasil, deve continuar a reinar por enquanto.

*com informações da agência oficial de notícias da Noruega e da Agência Brasil


 

 



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