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Shhhhh! O momento é para refletir
Publicado em 07/05/2017

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No Dia do Silêncio, a UBC relembra o caso da banda que driblou a política dos centavos do Spotify e pôs em evidência a óbvia importância dos criadores na indústria musical

Do Rio

Circulam na internet brasileira, já há alguns anos, registros de uma efeméride cuja origem é desconhecida: hoje, 7 de maio, é o Dia do Silêncio. Nada a ver com o Dia do Silêncio LGBT, celebrado anualmente em abril, nos Estados Unidos, e dedicado às vítimas de bullying e agressões por sua orientação sexual; ou o Nyepi, o Dia do Silêncio da ilha indonésia de Bali, que convida à meditação num momento do calendário que diversas outras culturas mundo afora recebem com festa e barulho: o ano novo. O Dia do Silêncio brasileiro parece ser uma provocação sobre os ruídos a que estamos submetidos e tem sido difundido como um estímulo à introspecção.

O que isso tem a ver comigo?, pergunta você, associado de uma organização musical. Na era dos pagamentos na casa dos décimos de centavo em sites de streaming, tudo. O Dia do Silêncio traz uma óbvia provocação: o que seria do mundo sem música? E sem as criações de compositores que, em todos os cantos do planeta, deixam sua energia e sua criatividade em canções mal remuneradas e, com frequência, pirateadas ou usadas sem autorização?

Há exatos três anos, veio à tona o caso de uma banda de funk (americano) de Michigan, nos Estados Unidos, que, numa jogada de marketing digna de nota, deu uma boa rasteira no Spotify. De uma só vez, pôs em evidência a política dos centavos do superserviço de streaming sueco e provou que o público quer, sim, remunerar os seus artistas favoritos. O quarteto Vulfpeck pendurou um álbum – seria um single? – de pouco mais de cinco minutos na plataforma musical e estimulou seus ouvintes a colocá-lo em modo repetição por muitas horas. De preferência a noite toda, para dormir. Chamado de “Sleepify”, o “trabalho” da banda era um arquivo sem qualquer som, um “álbum silencioso”, como eles chamaram, que tinha por objetivo colher, de décimos de centavo em décimos de centavo, fundos suficientes para financiar uma turnê gratuita da banda pelos EUA.

Com microfaixas como “Z”, “Zzzz”, “Zzzzzz”, e daí por diante, foi um estouro (sem som, claro). Ao final da ação, interrompida menos de dois meses depois de lançada, quando o Spotify se deu conta do que estava acontecendo, o quarteto havia arrecadado cerca de US$ 20 mil. Como se sabe, os criadores ficam como cerca de US$ 0,005 (meio centavo de dólar) por cada audição, de maneira que, feitas as contas, algo como quatro milhões de pessoas embarcaram na brincadeira. “O próprio Spotify achou a ideia divertida e inteligente, mas considerou que violamos seus termos de uso”, disse Jack Stratton, tecladista do Vulfpeck, que explicou: o álbum sem som foi uma metáfora do que se pode criar com a atual política de remuneração dos serviços de streaming. “Ficamos muito felizes com o engajamento do público. Há uma luz no fim do túnel”, continuou.

Como recompensa aos que executaram o “Sleepify” no serviço de streaming, a banda, baseada nos relatórios de vendas do “álbum”, premiou as cidades que mais contribuíram com os prometidos shows gratuitos. Um ano depois da inovadora ação, Stratton propôs uma nova política de remuneração ao Spotify em que os autores fossem remunerados apenas com base nas audições diretas do seu trabalho. É que, pela regra atual, o gigante do streaming (e outros similares, como Deezer e Apple Music) faz uma média das audições gerais. A diluição, sustentam os detratores da política dos centavos, é que derruba a distribuição dos royalties.

Até hoje o Spotify não respondeu oficialmente ao cantor nem deu sinais de que irá rever sua política. Nenhuma outra banda imitou os americanos e voltou a subir um álbum silencioso a uma plataforma de streaming. Mas a chamada à reflexão continua. Com ou seu trilha de fundo.

 


 

 



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