RIO - Lula Queiroga é um desses nomes que, quem acompanha distraídamente a música brasileira desde os anos 70, já leu em algum lugar. Ele aparece até nos créditos de algumas trilhas de filmes de Renato Aragão, como O trapalhão na Arca de Noé (1984), para o qual compôs e até cantou temas. Cantor e compositor de discografia reduzida ¿ são poucos títulos, o mais pujante deles dividido com o conterrâneo Lenine, Baque solto (1983) ¿ Queiroga exibe em Tem juízo mas não usa uma sonoridade que pode até lembrar bastante a do antigo parceiro. Mas que ele também ajudou a desenvolver na época em que o coautor de Hoje eu quero sair só era uma promessa da MPB.
Cria do próprio Queiroga, Pedro Luis aparece como parceiro na faixa-título, um samba que acaba servindo como candidato a hit, um de seus momentos mais radiofônicos. E paira sobre o soul-samba-nordestino Coração burro, uma das melhores do álbum. Embora os refrões e as linhas vocais de músicas como o batidão nordestino Você não disse tenham potencial comercial, as 14 faixas do álbum soam um tanto experimentais, brincadeiras de estúdio em meio a estilhaços pop-MPB.
Entre eles o choro nordestino Altos e baixos, cuja letra, confessional sem ser pessoal, tem algo que remete a Titãs e à fase setentista de Tom Zé. E cuja gravação mistura violões (um deles tocado com uma caneta Bic) e programações de percussão. Belo estranho dia de amanhã, gravada já por Roberta Sá em Que belo estranho dia para se ter alegria (2008) tem a mesma postura de inserir esquisitices com a letra (que une partes faladas e cantadas) em armaduras pop. Tectopop leva a fórmula a seu ápice, com violas, percussões e metais em meio a uma tentativa de tecnopop nordestino marcial. Tem juízo mas não usa resulta em boa reinvenção da MPB.
Ricardo Schott, Jornal do Brasil
Fonte: www.jbonline.com.br 18:44 - 08/04/2009