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Música e Olimpíadas: mistura campeã
Publicado em 03/08/2021

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Nas quadras, nos tablados, nas arquibancadas e na tela da televisão, as trilhas sonoras vieram para emocionar e motivar

Do Rio

Ainda faltam cinco dias para o final das Olimpíadas de 2020, mas já há uma coleção de momentos históricos e emocionantes que jamais serão esquecidos. Com presença garantida em diversos acontecimentos olímpicos, a música já é protagonista da edição de Tóquio. De “Baile de Favela”, do MC João, na apresentação da campeã olímpica Rebeca Andrade, às trilhas sonoras produzidas por Pedro Guedes para os canais Globo e SporTV, canções emocionaram  e uniram os atletas aos espectadores.

A ginasta Rebeca Andrade fez história ao conquistar duas medalhas olímpicas — uma de prata e uma de ouro — e se tornar a primeira medalhista da ginástica feminina do Brasil. Na competição individual geral, a performance do solo foi embalada pelo funk paulista “Baile de Favela”, do MC João e da editora GR6, e garantiu o segundo lugar para a atleta. O triunfo de Rebeca representa uma vitória tanto para o esporte quanto para a música brasileira.

“Saber que a minha música fez parte disso é uma honra. ‘Tô’ sentindo como se eu tivesse ganhado uma medalha de prata com gostinho de ouro”, conta MC João.

Mas a escolha do som não foi aleatória. A viagem de “Baile de Favela” até Tóquio teve início nos Jogos Olímpicos do Rio. Em 2016, o funk do MC animava as arquibancadas nos intervalos das performances da ginástica e não passou despercebido pelos olhos e ouvidos do coreógrafo da seleção brasileira, Rhony Ferreira.

Eu gostei muito da energia da música. Vi que as pessoas cantavam e dançavam. Eu achei bem bacana pra fazer uma coreografia e já tinha ciência de que aquilo ia ser uma batida boa para uma série de solo”, afirma Rhony com orgulho.

Ao apresentar a mistura da música clássica “Tocata e Fuga em Ré Menor”, de Johann Sebastian Bach, com o funk paulista de 2015 para a Rebeca Andrade, Rhony conta que a atleta ficou com receio da canção alemã, mas se empolgou ao escutar a parte brasileira. Rebeca, que demonstra nas redes sociais ser uma grande admiradora do gênero, não pensou duas vezes em aceitar a trilha sonora e levar “Baile de Favela” para Tóquio.

A escolha musical para a apresentação pode ajudar a alcançar o objetivo, como a própria performance da Rebeca demonstrou. Apesar da ausência de público, durante as apresentações no solo da ginasta era perceptível que muitos dos presentes no estádio, de diversas nacionalidades, batiam palma ao som do funk. Foi com o objetivo de agradar a olhos e ouvidos de jurados e plateia que Rhony fez a escolha certeira da música.

“A batida de ‘Baile de Favela” contagia tanto que ela pode emocionar até as pessoas que não são do Brasil. O povo bate palma junto, e isso é muito bom, porque ajuda a conquistar o árbitro. Assim, ele olha a série com mais empatia. Faz muita diferença”, conta o coreógrafo Rhony.

 

CURIOSIDADES SOBRE O HIT ‘BAILE DE FAVELA’:

  1. A música foi composta improvisadamente dentro do estúdio por MC João com a editora GR6, há seis anos;

  2. A letra homenageia os principais bailes de rua da periferia de São Paulo, dentre eles, Helipa, Marconi, Eliza Maria, Rua Sete e São Rafael;

  3. “Baile de Favela” se tornou hit dos anos 2015 e 2016 e mudou a vida de MC João;

  4. O clipe da música foi gravado em um baile da Rua Sete, em frente à casa onde o MC cresceu;

  5. O hit foi o primeiro clipe a bater 100 milhões de views no canal do KondZilla no Youtube. Hoje, “Baile de Favela” já ultrapassa a marca de 230 mil visualizações.

“‘Baile de Favela' é uma música que tem vida própria, ela sempre tem um jeitinho de se destacar. Entrou em trilha sonora na TV e também virou versão para temas em manifestações políticas. Ela sempre esteve presente e, dessa vez, não foi diferente”, conta o funkeiro.

 

A MÚSICA COMO MOTIVAÇÃO PARA ATLETAS — E PARA O PÚBLICO

Para além de representar a cultura, a música tem um papel fundamental na concentração e distração dos atletas. Numa edição das Olimpíadas em que o debate sobre a importância da saúde emocional dos competidores ocupa o centro das conversas — graças à decisão da ginasta americana Simone Biles de não competir em algumas finais por preocupações com sua saúde mental —,as canções são uma válvula de escape para diversos esportistas. Somada aos tratamentos psicológicos, a trilha musical pode ajudar na confiança dos competidores e resultar em melhores performances.

A música influencia muito os atletas, tanto na parte de concentração quanto na parte de treinamento e relaxamento. Ela pode mudar o estado de espírito deles”, opina Rhony Ferreira.

Assim como Rebeca, diversos outros atletas usam canções como ferramenta motivadora. No boxe olímpico, o lutador baiano Hebert Souza entrou no ringue ao som do Olodum e garantiu lugar no pódio. A corrida dos 400m com barreiras virou a pista de dança de Alison dos Santos. O atleta chamou atenção ao usar fone de ouvido e dançar com o funk “Chamo Teu Vulgo Malvadão”, durante as semifinais. A combinação de descontração e foco fez efeito. Nesta terça (3), na final da competição, Alison bateu o novo recorde sul-americano e conquistou a medalha de bronze. Nas partidas de vôlei brasileiro não é diferente. Quando o ponteiro Douglas Souza marca pontos, o DJ austríaco Stari dá play em músicas de Pabllo Vittar, ídola do atleta, e fortalece a confiança do time.

As preferências musicais são diversas, mas todos são exemplos que evidenciam o poder das canções. Segundo estudos da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia (SBNp), a música tem o poder de elevar o humor, dar mais disposição, distrair da dor e do cansaço e até aumentar a resistência e o foco. 

O produtor de trilhas sonoras Pedro Guedes sabe disso. Só para esta edição dos Jogos, ele cadastrou 377 fonogramas para embalar a transmissão dos canais do grupo Globo. 

A música “Nozomi”, que significa algo como esperança em japonês, é o tema oficial criado por ele. Além de entrar em todas as vinhetas dos canais Globo, a obra também aparece durante as entregas de medalhas para atletas brasileiros e em muitos backgrounds das transmissões.

Ela foi pensada para que traduzisse um sentimento positivo, de reencontro e de celebração. Tudo é feito com muita antecedência, então, lá atrás, a gente acreditava que os jogos seriam um marco da nossa vitória na pandemia. Mas, eu acho que, independente disso, é momento, sim, de esperança, de alívio, em que todo mundo está podendo relaxar um pouco e curtir”, revela o produtor.

Pedro também foi o responsável pela produção de obras originais das Olimpíadas do Rio para a rede Globo, em 2016. Apesar de ser a nova edição de uma mesma competição, as trilhas sonoras separadas por cinco anos têm arranjos e objetivos diferentes. No Rio, a essência era a brasilidade e abrangeu diversos temas, com ritmos como choro, samba, funk e baião. Já em Tóquio, o foco das músicas é mais cinematográfico, textural e enérgico.

Sem o som das torcidas nas arquibancadas, a sonorização nas transmissões ganha um peso ainda maior, mas Pedro não fugiu do desafio e produziu todos os 377 fonogramas com maestria. Fascinado e orgulhoso com o resultado de seu trabalho, ele incentiva os compositores de trilhas sonoras para audiovisual, indústria que cresce no Brasil e no mundo:

“Você tem que estar pronto para lidar com qualquer assunto. Um dia você está fazendo choro e samba, no outro, você está estudando instrumentos tradicionais do Japão. Esse é o ‘grande barato’ da profissão. Essa pluralidade de assuntos musicais é o que me fascina.”

 

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