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Warner Music publica resultados; as 3 grandes continuam a crescer
Publicado em 09/08/2022

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Universal e Sony já haviam divulgado bons números; streaming pago, porém, perde fôlego como fonte de receitas para todas

Por Alessandro Soler, de Madri

A Warner Music publicou nesta terça-feira (9) seu resultado financeiro do segundo trimestre deste ano (que a gravadora chama Q3, já que começa a contar o ano fiscal em outubro). Como esperado — e em linha com as principais concorrentes, Universal Music Group e Sony Music, que apresentaram seus relatórios há menos de duas semanas —, houve expansão nas receitas totais em comparação com o mesmo período do ano passado, ainda que num nível um pouco menor que o das outras: 7% na Warner, 17,3% na Universal e 11,7% na Sony. Se for adotada uma taxa média de câmbio que corrija os efeitos da grande flutuação do dólar este ano, o crescimento da Warner também passa de dois dígitos, alcançando 12% no trimestre, segundo executivos da empresa.

Os números de todas elas reafirmam a força da recuperação do mercado de música gravada pós-pandemia, em meio às crescentes incertezas sobre uma desaceleração — ou inclusive recessão — mundial.

De acordo com os respectivos relatórios, a Universal, número 1 do setor, gerou US$ 2,7 bilhões em receitas totais no trimestre encerrado em junho — o que inclui música gravada e edição musical. A Sony teve receitas de US$ 2,03 bilhões — também incluindo música gravada e edição, além de música ao vivo e merchandising. Já a Warner somou US$ 1,432 bilhões, incluindo música gravada, edição e fontes digitais diversas. 

Embora os ganhos oriundos do streaming premium (aquele sustentado por assinaturas) continuem a ser vitais para as Big Three, o crescimento dessa fonte foi, pela primeira vez em vários trimestres, de menos de dois dígitos para todas elas: 7% para a Universal, 7,9% para a Sony e 2% para a Warner (6%, se adotado o câmbio "constante" para corrigir as flutuações do dólar). E são vários os fatores que explicam esse desempenho relativamente baixo.

Um deles é o próprio momento complicado para o streaming musical e as grandes companhias de tecnologia que oferecem serviços online, em geral. Como temos mostrado aqui no site da UBC, várias dela vêm sofrendo com a desconfiança generalizada do mercado, que assiste a uma diminuição — ou, no melhor dos casos, a um tímido crescimento — no número de assinantes ou consumidores pagos. Algumas techs, como SoundCloud e TikTok, já começaram inclusive a demitir. 

As razões disso são a inflação alta que corrói o poder de compra da classe média em muitos países, inclusive em economias avançadas; uma duradoura guerra na Ucrânia que lança incertezas de longo prazo sobre a economia mundial, minando a confiança dos consumidores; e um certo desgaste (ao menos momentâneo) do próprio modelo de consumo online, com um planeta desejoso de voltar a ter experiências reais, fora de casa, depois da pandemia. 

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Investidores, em sua maioria avessos a grandes riscos, têm diminuído suas posições em papéis das grandes companhias tech, o que explica as quedas acentuadas nos preços das ações de empresas como Spotify, Deezer e Tidal nos últimos meses. Mesmo assim, essas três plataformas, além de concorrentes como Apple Music e Amazon Music, continuam a crescer em receitas, ainda que a menores taxas. 

Outra razão para a diminuição na participação do streaming pago como fonte de receitas para as gravadoras é, paradoxalmente, seu próprio sucesso. Com as assinaturas em constante expansão há vários anos, vai sendo reduzida progressivamente a base de possíveis novos assinantes. Existe um teto de vidro mundo afora para as novas adesões, definido pela quantidade de pessoas que podem se permitir pagar mensalmente um plano de streaming musical. Ou seja, a tendência é que o funil se estreite ainda mais futuramente.

Segundo o relatório da Universal, divulgado no último dia 28 de julho, o streaming gratuito, que gera receitas através de publicidade, tem crescido a taxas bem mais altas — 15,6%, mais do que o dobro dos 7% da expansão do streaming pago, o que sugere que mais pessoas estão ouvindo música de graça nas plataformas. Porém, em valores reais, a modalidade paga gera quase três vezes mais dinheiro para a gravadora líder do setor mundialmente: US$ 1,03 bilhão no trimestre, contra US$ 371 milhões da publicidade contida no streaming gratuito.

Uma compensação parcial para o relativamente baixo crescimento do streaming pago como fonte de receita veio, ainda para a Universal, por meio do surpreendente resultado das mídias físicas (LPs, CDs, DVDs): quase 18% de alta no trimestre, gerando US$ 322 milhões. Lançamentos recentes que tiveram grandes tiragens de LPs, como o álbum "30", de Adele, do ano passado, ainda estariam impactando esses números. 

Já a Sony destacou a forte recuperação do segmento de shows e licenciamento de merchandising ligado aos seus lançamentos de música gravada. Numa apresentação online para investidores e a imprensa no último dia 29 de julho, seus executivos descreveram os grandes lançamentos recentes — Harry Styles, com frequência entre os mais tocados do Spotify; Doja Cat, Lil Nas X e Camila Cabello —como vetores para que a música gravada da empresa alcançasse US$ 1,542 bilhão no trimestre, 11,2% mais do que no mesmo período de 2021.

O negócio de edição musical da gigante japonesa, concentrado na Sony Music Publishing, também teve forte expansão, passando de 23,6 bilhões de ienes no segundo trimestre de 2021 para 33,4 bilhões no trimestre encerrado em junho passado. Usando a taxa média de 129,4 ienes por dólar adotada pela companhia, os valores seriam, respectivamente, US$ 182,4 milhões e USS$ 258 milhões. A alta anual, portanto, é de 41,5%. 

No caso da Warner, as receitas provenientes de edição musical também tiveram forte crescimento, da ordem de 30%, somando US$ 245 milhões no trimestre passado. Foi o número mais destacado de um relatório que mostrou como a alta distorcida do dólar em relação ao euro, ao iene, à libra e a moedas de outros países onde a multinacional tem forte presença terminou impactando seus resultados. Na apresentação para a imprensa desta terça-feira, o diretor-executivo global da Warner Music Group, Steve Cooper, afirmou que já ha indícios consitentes de uma melhora nas cifras para o restante do ano: 

"Vimos o início de uma onda de incríveis lançamentos em junho. E prevemos um final de ano fiscal muito forte (em outubro). A longo prazo, vemos um crescimento na capitalização com novas tendências e desenvolvimento de novos artistas. Continuaremos a apostar na agilidade e nos recursos que temos para impulsionar a globalização e a diversificação do nosso negócio."

Como ocorreu com a Sony, a Warner também celebrou a retomada do setor de shows como um fator estimulador de mais receitas. Os direitos gerados aos artistas da gravadora por conta da música ao vivo tiveram um salto de 42,9% no trimestre, em comparação com o mesmo período de 2021, contribuindo para que o segmento de música gravada da Warner tivesse aumento de 3,2%, totalizando uma receita de US$ 1,189 bilhão.

Apesar da saudável diversificação das fontes de ganhos das três grandes gravadoras, não há dúvida de que seus executivos terão sua atenção fortemente centrada no streaming nos próximos meses, dado o enorme peso do digital para seus resultados. Os próximos relatórios que plataformas como Spotify, Amazon e Apple divulgarem — com dados sobre suas receitas e, principalmente, sobre os vaivéns dos seus assinantes pagos — serão a verdadeira biruta que indicará para onde sopra o vento do mercado musical daqui até o fim do ano. 

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