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Três lições de artistas da música para abordar uma carreira solo
Publicado em 15/08/2022

Letrux, Otto e Érika Martins relembram saída de bandas para trilhar o próprio caminho

Por Gilberto Porcidonio, do Rio

Associar grupos e bandas a um casamento é inevitável. Um clichê, certamente, mas com um pé na realidade: grande parte dessas relações acabam se atribulando, chegando à separação, por conta do desejo de autonomia de seus integrantes. A carreira solo, que tanto instiga, fascina e também amedronta, pode ser um belo caminho para conquistar a sonhada independência criativa. Porém, ela também requer muita responsabilidade. E essa é a palavra de quem partiu, já há bastante tempo, para essa empreitada.

Letrux: "Não fique tão refém do mercado, da moda, vá no seu flow". Foto: Vitor Jorge

Bota na tua cabeça que isso aí vai render

A cantora e compositora Letícia Novaes, a Letrux, fez parte do duo Letuce até 2016. Para ela, formar o seu projeto solo em 2017 – que já rendeu dois álbuns de estúdio e um ao vivo – foi um processo natural, mas um pouco angustiante:

“Eu já desejava isso, mas também era bom ter uma banda, ser um coletivo, dividir decisões. Mas, de repente, eu tinha que delegar tudo, resolver, decidir. É um pouco angustiante no início, porque é você com você, qualquer decisão recai em você, e só. Fiquei bem ansiosa, mas com uma felicidade muito íntima, com uma festinha interna gostosa também rolando. A maior vantagem é que, de fato, eu posso seguir meus instintos e minhas análises, sem precisar passar por uma votação que pode ser bem elaborada e levar horas. É pá-pum. Já a maior dificuldade é a própria vantagem, um clássico. Há dias em que eu gostaria de ter uma votação, mas como o projeto é meu, realmente preciso lidar com tudo. C'est la vie.”

Para isso, ela recebeu muitas, realmente muitas dicas de como deveria prosseguir. E entendeu, depois de tudo, que existe algo bem misterioso sobre escutar o seu próprio feeling:

“Sei que vai na contramão do que dizem, porque é preciso analisar algoritmos, blablablá, mas você já está dando um salto tão grande que penso que é necessário seguir sua intuição. Não fique tão refém do mercado, da moda, vá no seu flow, no seu desejo e ritmo. Vale muito.”

Érika Martins: "É mais fácil tomar uma decisão com mais gente envolvida". Foto: divulgação

Controle x ajuda

A cantora e compositora Érika Martins, que foi da banda Penélope, está em estúdio finalizando seu quarto álbum solo. Ela, que também divide o tempo como guitarrista e vocalista da banda Autoramas desde 2015, saiu em carreira solo em 2004, logo após o fim da Penélope.

“Mas isso já era um plano meu. No fim da banda eu já estava pensando em fazer umas coisas mais por conta própria mesmo, uma independência maior. Nas bandas tudo se decide por muita gente. Mesmo que você não concorde tanto, a maioria decidiu... Eu queria tomar as rédeas e decidir por mim”, disse.

Por afinidade estética, ela convidou o lendário produtor Tom Capone para produzir seu primeiro disco solo. No meio do processo, o acidente fatal de moto que o matou, em setembro de 2004, em Los Angeles, levou Érika a congelar o projeto um tempo. Acabou finalizando-o dois anos depois, com Carlos Eduardo Miranda e Constança Scofield na produção.

“Logo que eu saí, a maior vantagem era tomar as decisões sem precisar consultar ninguém. Ao mesmo tempo, fui percebendo também que a responsabilidade é muito maior por conta disso. É mais fácil tomar uma decisão com mais gente envolvida. A liberdade da carreira solo tem esses dois lados. Às vezes, você pode chegar a se sentir sozinha no processo”, afirmou a artista, que divide a produção do seu novo disco com o companheiro de Autoramas Jairo Fajerstain.

Otto: "Sempre haverá alguém que irá gostar do seu trabalho". Foto: divulgação

É orgânico

Para o cantor e compositor Otto, que foi percussionista do primeira formação da Nação Zumbi e também do Mundo Livre S/A até lançar, em 1998, o seu primeiro disco, “Samba pra burro” – já ganhando, de cara, o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) de melhor disco do ano –, a maior vantagem em ser um artista solo é possuir o conceito da sua própria criação e o autoconhecimento da sua obra:

“É só acreditar em seu talento e lutar pela sua música e pela sua liberdade. A dificuldade é que tudo que não der certo é um ônus seu, mas, mesmo assim, vale muito a pena ser autoral e independente”.

De acordo com o pernambucano, o artista que pretende seguir o seu caminho precisa, de forma prática, se juntar primeiramente com quem pode torná-la possível logo de início. Depois, é ter, sim, paciência:

“O conselho que eu dou é se juntar com os grandes, com bons músicos e com amigos porque a gente tem um mundo a descobrir com a própria música, e procurar bons estúdios em que você possa trabalhar, já que hoje fica até mais fácil de finalizar e conceituar o seu trabalho."

Ele reforça que uma boa estratégia é transmitir de cara as ideias e as influências, mas tendo muito cuidado com cada trabalho, com tudo o que for colocar no mundo.

"Tenha também a dimensão de que sempre haverá alguém que irá gostar do seu trabalho, querer te escutar e querer cada vez mais. Isso vai ter um retorno muito bonito. E, pouco a pouco, sem pressa, com muito carinho pela obra, os shows vão crescendo, a vida vai se transformando e você vira um provedor de música, de criação.”

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