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‘Estou sentindo o Milton muito feliz’
Publicado em 17/08/2022

A turnê de despedida do mineiro, que volta esta semana ao Brasil, vista por dois músicos e um fotógrafo que o acompanham

Por Eduardo Lemos, de Veneza (Itália)

Milton e os músicos no palco da Casa da Música do Porto, durante a passagem da turnê por Portugal. Foto: Marcos Hermes

Não demora 5 minutos de conversa para Wilson Lopes se emocionar. "Já dá uma saudade antes mesmo de acabar", diz o músico, com a voz embargada. O guitarrista acompanha Milton Nascimento ao vivo há quase 30 anos e assina a direção musical de “A Última Sessão de Música", turnê que marca a despedida dos palcos do artista mineiro — e que volta ao Brasil neste fim de semana, com um show no domingo em Porto Alegre.

"É emoção o tempo todo e em todo mundo. A gente acorda e já dá pra ver todos da equipe celebrando este momento, silenciosamente, o que é mais bonito", adiciona Zé Ibarra, violonista e cantor que integra a banda de Milton há apenas três anos, na série de shows que celebrou o “Clube da Esquina”, em 2019. "Eu sou o caçulinha aqui", ele brinca.

Wilson, 56 anos, e Zé, 25, simbolizam as diferentes gerações de músicos que tocaram com Milton Nascimento em seus quase 60 anos de carreira - além deles, fazem parte da atual formação os músicos Lincoln Cheib (bateria), Ademir Fox (piano), Widor Santiago (metais), Ronaldo Silva (percussão) e Fred Heliodoro (vocal e baixo elétrico).

Os dois conversaram com a UBC horas antes de subirem ao palco do suntuoso Teatro La Fenice, em Veneza (ITA), para o último show da parte europeia da turnê. Além da Itália, o show passou por Portugal e Inglaterra - a apresentação em Londres foi registrada e será lançada em DVD.

Nem o cansaço, que é natural aparecer após semanas de estrada, desta vez tem dado as caras.

"Eu nem sabia se eu viria para esta turnê, porque viajar é algo desgastante… Mas me surpreendi. É a melhor turnê que já fiz, em termos de música, de som e de emoção principalmente. Não só da banda. A emoção do público nesta turnê é muito diferente. É muita choradeira… (risos)", conta Wilson.

Zé, que fez as duas últimas turnês de Milton, também diz ver grandes diferenças “emocionais” entre uma e outra:

“Como um jovem, poder participar da finalização de uma carreira das mais bem-sucedidas do mundo da música… Acho o Milton um dos caras mais geniais que o planeta Terra já recebeu, e estou ali cantando com ele. Bate uma porrada de coisas. Penso "se me botaram aqui, quer dizer que eu posso estar aqui!". São milhões de realizações ao mesmo tempo.”

Wilson, que é professor de música na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e chegou a criar um curso na universidade chamado A Música de Milton Nascimento, dividiu com Augusto Nascimento, filho e empresário do Bituca, a responsabilidade (e o prazer) de escolher o roteiro do show. “Hoje em dia o Bituca não fala nada sobre repertório. Zero. Já faz anos”, conta o músico e diretor da turnê.

O processo de seleção do que entraria na turnê de despedida foi algo complexo, dada a vasta obra de Milton, cheia de pérolas e grandes hits.

“Pegamos todos os discos do Bituca, um por um. Aí começamos: ‘Deste primeiro, o que não pode faltar no show?’, e íamos anotando. No final deu "xzentas" músicas (risos). Tinha que diminuir. Aí fomos tirando, tirando, até chegar em 40.”

Foi então que teve início a etapa da criação dos arranjos, tendo em conta que nem todas as músicas são tocadas inteiras, aparecendo em trechos que precisam ter ligação com outras canções. “Em alguns casos, uma música já passa para a outra. Em outras a gente fez um medley.”

Quando eu pergunto a Zé se ele tem uma música preferida no momento, outras canções aparecem. "A música de que eu mais gosto atualmente é ‘Fé Cega, Faca Amolada’, pelo arranjo que a gente toca. E, no final do show, quando ele canta ‘Coração de Estudante’ e ‘Travessia’, me bate a celebração do contexto, eu olho pra ele e penso 'olha isso que ele construiu'. É inclusive um momento do show em que eu não toco, estou de fora, e me sinto público dentro do palco", explica.

Ao todo, 16 profissionais fazem parte da equipe que viaja com Milton na turnê, entre músicos, produtores, roadies e técnicos. Um deles é o renomado fotógrafo Marcos Hermes, que começou a sua parceria com o artista há 25 anos e é o autor das fotos do álbum "Uma Travessia: 50 anos de carreira" (2013). Estes dias, Marcos tem registrado os bastidores dos shows. As fotos depois serão editadas em um livro.

"Cada show tem uma magia especial. Pra mim, ‘Maria, Maria' me coloca com o coração em cena, observando e buscando captar toda a emoção do público com o artista. Gosto de pouca luz e nostalgia, mas também de movimento e lágrimas nos olhos", explica o fotógrafo.

Milton e Marcos Hermes, há alguns dias, na mítica Abbey Road de Londres. Foto: Augusto Nascimento

Ele relembra que fotografar Milton sempre foi inspirador. Mas agora, neste momento, o trabalho ganha a função de registro histórico:

“Uma responsabilidade enorme, mas que eu encaro com muita tranquilidade. Tenho liberdade criativa total, e isso é o maior privilégio que um artista visual pode ter", diz.

Segundo Marcos, há uma busca por captar o artista com poesia, leveza, buscando registrá-lo como uma obra de arte. “Acho que agora comecei a entender o que Milton quer dizer somente pelo olhar."

Essa comunhão entre o cantor e compositor mineiro, Prêmio UBC 2019, e sua equipe influencia até a própria voz do cantor.

"Eu estou sentindo o Milton muito feliz. A voz dele está muito forte, e acho que é por causa da felicidade. No último show ele saiu improvisando, fazendo vocalizes… eu nunca tinha visto, e a galera mais velha disse que fazia tempo que não via", relembra Zé Ibarra. "Ele está mais feliz do que normalmente fica", concorda Wilson.

Naquela noite em Veneza, depois de um show emotivo e vigoroso para um teatro abarrotado de brasileiros e estrangeiros, Milton foi ao microfone fazer um anúncio. "Queria chamar ao palco toda a minha equipe". Os músicos guardaram seus instrumentos, os técnicos deixaram suas posições, os roadies saíram por de trás da cortina. De mãos dadas, todos se curvaram à plateia para receber uma merecida explosão de palmas.

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