Autor de canções de sucessos como “Diabo Loiro”, “Roda e Avisa” e “Estrela Gonzaga” relembra sua trajetória ao longo dos mais de 55 anos de carreira
Do Rio
José Michiles da Silva, ou, simplesmente, J. Michiles, é um daqueles raros e preciosos talentos que não são — e não podem — ser esquecidos. Compositor de músicas alojadas no imaginário coletivo de quem ama o carnaval, como “Diabo Loiro”, “Roda e Avisa” (com Edson Rodrigues) e “Estrela Gonzaga”, ele completa 80 anos neste sábado (4) com mais de 57 de carreira.
“Hoje, chego aos 80, mergulhado nas proustianas recordações do meu tempo de menino da periferia do Recife, ouvindo nas ruas os alegres vendedores ambulantes nos seus pregões matinais: ‘Chora menino pra chupar pitomba!’, ‘Mangaba, olha mangaba!’’”, afirma J. Michiles.
Sempre trabalhando com as raízes e matrizes recifenses, a longa jornada musical do recifense começou na Jovem Guarda, na década de 60. Em 1962, teve a sua primeira canção, o bolero “Você Me Maltratou”, gravada por Victor Barcelar.
Foto: Arquivo pessoal
Sobrinho do cantor Orlando Dias, cantor bastante conhecido nos anos 50, desde cedo cresceu cercado de música entre os familiares. O primeiro sinal de que ele se tornaria um grande sucesso aconteceu aos 16 anos. Jota escreveu uma versão de "I Wanna Hold Your Hand", dos Beatles, intituladas "Não Quero Que Chores". Gravada pelos Golden Boys por sugestão do tio, a canção se tornou um hit.
Nesse longo caminho na música, o artista participou de vários competições premiadas. Em 1983, na era dos festivais, Michiles ganhou o primeiro concurso da canção promovido pela prefeitura da cidade e pela Rádio Jornal do Commercio. Venceu com a música “Recife, Manhã de Sol”, gravada por quase dez intérpretes, inclusive por Maria Bethânia, no disco “Asas do Frevo”.
Mas, foi a partir do Carnaval de 1986, com o estouro do frevo “Bom Demais", na interpretação eletrizante de Alceu Valença, que seu nome passou a ser destaque na cena carnavalesca. Alceu, inclusive, imortalizou uma série de composições de Jota no Carnaval de Pernambuco, como “Me Segura, Se Não Eu Caio”, “Fazendo Fumaça” e “Vampira”.
Foto: Arquivo pessoal
O frevo, que até então andava um tanto adormecido, de repente se popularizou na boca do povo, nas ruas, nas orquestras, e nos Clubes, seguido de outros sucessos que vieram na interpretação do próprio Alceu Valença, e de outras luxuosas estrelas da MPB, como Fafá de Belém, Geraldo Azevedo, Amelinha, Daniela Mercury, Chico César. Hits inesquecíveis e que ainda vão rolar por muitos e muitos fevereiros.
“O gratificante é construir a obra musical na nossa intimidade, na nossa solidão, e de repente ver cair na boca do povo... Eu digo sempre que o difícil e fazer o fácil. Aquela música que você ouve pela primeira vez, e sem querer, já sai cantarolando. É o caso de ‘Bom Demais’ que está fazendo 37 anos nesse Carnaval”, afirma J. Michellis.
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