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Streaming tem 20 milhões de assinantes no Brasil, diz estudo da ABMI
Publicado em 29/05/2023

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Associação Brasileira de Música Independente vê aumento da concentração no mercado nacional e pede políticas públicas por mais diversidade

Do Rio

A Associação Brasileira de Música Independente (ABMI) elaborou um estudo sobre o panorama do mercado da música gravada que mostra uma perspectiva de forte expansão nos próximos anos, maior concentração nas mãos dos grandes conglomerados e altas continuadas nos números de assinantes de streaming no país. Com dados exclusivos apurados por um serviço de monitoramento digital internacional, o documento teve uma prévia apresentada na última edição do Rio2C, em abril, e revelou, entre coisas, que em 2022 os assinantes premium de plataformas de streaming de áudio superaram os 20 milhões no Brasil pela primeira vez na história.

O Spotify segue como plataforma líder, ampliando sua participação no mercado brasileiro ano passado. Agora, a gigante sueca já quase toca os 70% de participação de mercado, com Deezer e YouTube Music registrando pequenas quedas percentuais nos últimos dois anos. A Apple Music e a Amazon Music se mantêm em percentuais estáveis:

Outro dado do estudo da ABMI mostra que a participação da música independente teve queda (dados de 2021). A compra da Som Livre pela Sony, segundo o estudo da ABMI, “provavelmente influenciou neste resultado.”

“Quando avaliamos apenas a performance orgânica, os independentes demonstram ótimo desempenho. Mas, quando a compra agressiva de catálogos entra em jogo, o desempenho orgânico fica em segundo plano. Por sermos, os independentes, responsáveis pelo desenvolvimento de novos artistas e também primordialmente pela manutenção da diversidade, o ecossistema independente precisa ser preservado”, disse à UBC Carlos Mills, presidente da ABMI, que pediu políticas públicas para impedir a concentração excessiva no mercado musical.

Na parte do estudo que avalia as fontes de receitas da indústria gravada global, um cruzamento dos dados exclusivos da ABMI com os mais recentes números divulgados pelo relatório da IFPI traduziu graficamente a força desse segmento para a música gravada internacionalmente. Se, em 2012, as plataformas somadas geravam só US$ 900 milhões anuais para a indústria musical (6% das receitas gerais), dez anos depois elas já movimentavam US$ 17,5 bilhões, ou quase 67% do total. 

A possibilidade de uma crise de modelo, com o streaming de áudio “puro” como o conhecemos dando lugar à profunda mistura de música com vídeo e performance (num padrão tipo TikTok) — algo previsto por alguns analistas internacionais — não aparece no radar do estudo da ABMI.

“Não antevejo um fenômeno assim neste momento. Se, de um lado, algumas plataformas de audiovisual têm o potencial de canibalizar em algum grau as plataformas clássicas de áudio, como Spotify, Apple etc., de outro lado as gravadoras retomaram em grande parte o controle sobre seu repertório no ambiente digital. Se algo neste sentido começar a se tornar uma ameaça real à sobrevivência das gravadoras, haverá sempre a possibilidade de rever contratos e até mesmo, no limite, retirar o conteúdo musical do serviço, como aliás já se viu em alguns casos pontuais”, disse Mills.

Para ele, a tendência é de expansão na base de assinantes premium do streaming de áudio “clássico” em todo o mundo. Ampara essa ideia a previsão, pelo banco de investimentos Goldman Sachs, de que o mercado musical gerará US$ 53 bilhões em 2030. 

Maior expansão, maiores possibilidades de operar nesse imenso mercado. Outro aspecto interessante do estudo da ABMI foi abordar os diferentes modelos de distribuição que se multiplicam. Para além dos serviços “tradicionais” de agregadoras digitais, editoras, selos e até das majors, há uma série de novos pacotes que as empresas já vêm oferecendo aos artistas, em meio a uma crescente disputa para tê-los como clientes.

“Existem inúmeras opções disponíveis. Em termos quantitativos, sem dúvidas os chamados agregadores independentes, que permitem a distribuição digital dos artistas autoproduzidos, são os que movimentam mais conteúdo. Mas a minha percepção é que o mercado se movimenta no sentido de oferecer mais serviços agregados, de preferência personalizados. Produção, gravação, mixagem, masterização, marketing, capacitação, divulgação, rádio, TV, mídia escrita, audiovisual, redes sociais, planejamento estratégico, inscrição em prêmios, certificações e distribuição de produtos físicos são alguns exemplos. Para conseguir se destacar num ambiente cada vez mais competitivo, é necessário ter uma rede de apoios que possa fortalecer o posicionamento dos artistas nas mais variadas frentes. Distribuir apenas virou uma commodity”, raciocina Mills. 

A grande criatividade que o mercado independente precisa ter para oferecer soluções diferenciadas e seguir sendo competitivo também é destacada por Ana Maria Mendez, diretora-executiva da gravadora Atração. 

“Desde a época do CD (produto físico), somos obrigados a nos reinventar todos os dias, trabalhando muito e criando situações, planos de marketing relevantes (em gêneros e zonas) onde as majors não demonstram interesse. Sempre investimos em conteúdos que tenham tempo de vida maior. O Brasil é muito grande, com muitos ritmos e estilos diferentes, que muitas vezes só interessam regionalmente, mas nunca menos importantes. Talvez esse seja um dos diferenciais para existirmos há quase 30 anos”, diz, lembrando que a tendência de concentração de mercado mencionada por Mills é palpável: “Inclusive, muitos fundos de investimento tentam adquirir uma fatia, sem qualquer conhecimento prévio ou estrutura. Isso, sim, considero turbulência perigosa no mercado."

Mas também há luz no fim do túnel. É o que opina Nando Machado, diretor-executivo da ForMusic, empresa que representa no Brasil algumas das maiores gravadoras independentes do mercado internacional, como o grupo Beggars, a Belga PIAS, a Caroline Records, a Cooking Vinyl, a Domino, a Eleven Seven, a Kobalt e outros selos e artistas.

“No Brasil, temos uma distribuição de renda extremamente desigual, em todas as áreas. Quem detém os recursos muito dificilmente perde esse status, e isso se reflete em todos os mercados. No mercado da música, porém, conseguimos ver uma mudança grande em relação ao monopólio que existia no passado. As agregadoras ganham cada vez mais protagonismo e crescem muito e rápido, tanto em números quanto em relevância. Existem novas plataformas de financiamento de projetos de artistas independentes que estão chegando no mercado e devem contribuir para uma mudança grande no futuro. Essas plataformas não existiam nos modelos tradicionais”, ele afirma. 

Para Machado, há espaço pra todos, majors e independentes, cada nicho com seus pontos fortes. Mas destaca: o trabalho que os selos e as produtoras independentes fazem por alguns gêneros é fundamental para que estes existam e se expandam. 

“O mercado da música independente tem uma importância vital para o mercado da música. Artistas de funk, por exemplo, têm uma fatia considerável se olharmos o Top 200 das principais plataformas de streaming.”

Ana Maria faz coro com ele.

“O independente consegue revelar conteúdos riquíssimos que talvez não fossem reconhecidos ou lançados pelo grande capital. Como independentes, zelamos por difundir um conteúdo representativo em termos econômicos e culturais”, finaliza.

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