Cearense se torna um dos maiores hitmakers do piseiro, ganha elogio de James Blunt e alcança números estratosféricos no streaming
Por Laura Miranda, de Campo Grande
Foto de Jooão Studio
Matheus Fernandes vai lançar na sexta-feira (7) um novo feat com Luan Santana. E a ação de marketing para divulgar a música, há uns dias, diz tudo sobre o patamar alcançado pelo cantor e compositor cearense, ícone do piseiro. Uma mulher pichou um carro de luxo em pleno burburinho da zona do comércio da Rua 25 de Março, em São Paulo, denunciando a “traição” sofrida pelo companheiro — tema da música dos dois astros. A viralização do vídeo nas redes foi tamanha que criou uma onda de buzz espontâneo ao redor do lançamento bem antes da chegada às plataformas.
Não é um caso isolado. Tudo o que diz respeito a Matheus, estes dias, tem a ver com sucesso. Ele, que acaba de renovar seu contrato com a Som Livre, tem circulado pelos são-joões do Nordeste nas últimas semanas, sempre com plateia lotada. Se aproxima das 10 milhões de audições mensais no Spotify (não muito longe de Luan Santana ou Marília Mendonça). No YouTube, já encosta em 1 bilhão de visualizações dos seus vídeos. Sua participação recente no programa “Altas Horas”, da Globo, rendeu 16 pontos ao programa, uma das melhores audiências do ano.
O que explica tudo isso?
"Muito trabalho. Não existe fórmula mágica. Algo que sempre digo é que o trabalho sempre vence. E tem sido assim pra mim, são anos de muita dedicação, estrada, televisão, composições etc. Todos os dias estou nessa jornada”, ele diz à UBC.
Certamente, o fato de ter vindo do mundo do marketing (especificamente, o marketing político) ajuda a explicar o estouro e as ações bem-sucedidas como a da 25 de Março.
Desde o lançamento do seu primeiro DVD, há exatos 10 anos, este jovem criador e intérprete de Fortaleza vem se consolidando com uma locomotiva de hits do piseiro, gênero que rivaliza com o sertanejo e o funk pelo topo das preferências musicais do brasileiro. O sertanejo universitário, aliás, é outro terreno em que Matheus milita fortemente.
Além da afinidade pessoal com o gênero, está, outra vez, o olhar afiado dele para o que vende. Dados da IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica) mostram que a audiência do sertanejo vem crescendo a um ritmo de 15% ao ano, levando-o a dominar várias das primeiras posições no top 10 das mais ouvidas do streaming na última década.
“O mercado fonográfico vem se reiventando muito nos últimos anos, e tentamos acompanhar essa mudança sempre com muita criatividade. O feat com diferentes ritmos está muito presente hoje em dia. Graças a Deus, tenho acertado com músicas autorais ao lado de grandes nomes das música, artistas que estão também em excelentes momentos”, ele afirma.
Se os feats operam o milagre da multiplicação de público — daí a popularidade da estratégia nos últimos anos —, também é verdade que Matheus brilha sozinho. Mas, no início da carreira, ele não se importava em emprestar seu talento na composição a outros grandes do forró e do sertanejo. Começou no cenário musical compondo sucessos para Wesley Safadão, Xand Avião, Cristiano Araújo, Jorge e Mateus e Inimigos da HP. Foi fazendo seu nome na música e, já no DVD de estreia, contou com participações de Israel Novaes e Humberto e Ronaldo.
O cantor e compositor se apresenta na Festa do Peão de Barretos 2022. Foto: Reprodução Instagram
De lá para cá, foram três álbuns de estúdio, dois EPs e coisa de 20 singles lançados. Um deles, “Coração Cachorro”, feat com Ávine Vinny, usou samples de “Same Mistake”, de James Blunt, foi parar no top 50 global da Billboard e levou o astro britânico (que ficou com 20% da autoria da música) a declarar:
“Quando você ouve, não consegue tirar da cabeça.”
“Baby, Me Atende” (250 milhões de audições no Spotify), feat com Dilsinho; “Balanço da Rede” (200 milhões), com Xand do Avião; e “Altas Loucurinhas” (51 milhões de visualizações no YouTube) são só alguns dos outros exemplos de que Blunt não é, nem de longe, o único que não consegue tirar os hits de Matheus da cabeça.
Algo que claramente não faz o cearense perder a própria cabeça. Humilde, ele relativiza o sucesso e diz que continuará focado num dia após o outro para “levar minha música para ao máximo de pessoas possível.”
“Acredito que o sucesso é algo muito pessoal e relativo”, pondera. “Mas algo que não podemos negar é que estamos conquistando espaço e construindo uma carreira sólida no mercado nacional. Isso é fruto de muito trabalho e anos de dedicação exclusiva a este projeto.”
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