Instagram Feed

ubcmusica

No

cias

Notícias

A poesia de Moraes Moreira ganha vida em exposição no Rio
Publicado em 09/12/2023

“Mancha de Dendê Não Sai - Moraes Moreira” chega à cidade depois de passar por Salvador; filhos do artista comentam

Por Eduardo Fradkin, do Rio

Moraes em fotografia dos anos 1970, presente na exposição. Antonio Carlos Miguel

Planejada como uma celebração de cinco décadas de carreira de Moraes Moreira, a exposição "Mancha de Dendê Não Sai" foi idealizada pela produtora Fernanda Bezerra quando o músico e compositor baiano estava vivo e engajado nos preparativos. Neste domingo, dia 10, a mostra chega ao Rio de Janeiro, sediada no Museu Histórico da Cidade, na Gávea, após uma temporada de sucesso em Salvador, onde atraiu 25 mil visitantes. Além de celebrar a história de Moraes Moreira, é uma chance de o público matar a saudade do artista, vitimado por um infarto em abril de 2020. 

Envolvidos na preservação desse legado, os seus filhos, Davi e Cecilia Moraes, acabam de realizar outra conquista: completar sua discografia, antes com lacunas, nas plataformas de streaming. Oito álbuns de carreira e mais alguns compactos e coletâneas chegaram ao mundo digital graças aos esforços da dupla junto a gravadoras como Sony e Universal Music.

"Nosso pai gostava de olhar sempre para a frente, por isso não queria se preocupar com a questão de aqueles discos estarem fora dos serviços digitais. Preferia pensar no próximo álbum", explica Davi Moraes.

Ele comenta que o endereço escolhido para receber a exposição em homenagem a Moraes Moreira evoca memórias afetivas.

"O museu fica num lugar que era muito querido por meu pai, o Parque da Cidade, na Gávea. A gente morava ali perto, e ele adorava dar umas caminhadas por lá", conta Davi, que descreve a mostra como se fosse um livro biográfico em capítulos. "Meu pai teve uma trajetória cheia de acontecimentos e de encontros: Novos Baianos, o papel de primeiro cantor de trio elétrico do Brasil, Dodô e Osmar, Armandinho, carreira solo... a ideia da exposição é contar essas histórias todas. Eu e Ciça (a irmã, Cecília) colaboramos com material e arquivos de família".

Um dos itens que mais emocionam os irmãos é o instrumento usado pelo pai.

"É o violão que ele usou por 40 anos, nos últimos 40 anos. A gente fez um trabalho de recuperação desse violão, mas sem apagar as marcas do uso e do tempo, que caracterizam um instrumento tão... que estava ali com ele, na estrada, esse tempo todo", diz Cecília.

Detalhe de uma das várias instalações presentes na mostra. Foto: Caio Lirio

"Pensar o tanto de música que ele fez nesse violão... ele era um compositor compulsivo. Fazia música todo dia. Quando vi o violão na exposição, foi um impacto", lembra Davi, que empunha sua guitarra no dia de abertura da mostra ao público carioca para um show com o cantor Pedro Miranda.

Os dotes literários de Moraes Moreira também são um item expositivo. Os visitantes podem escutar seus poemas, entender o contexto em que suas músicas foram escritas e conferir suas incursões no campo da literatura como cordelista e cronista de histórias da Bahia.

"Eu destaco um caderno do meu pai, com anotações e composições. Tem o rascunho da letra de 'Pombo Correio', que foi um grande sucesso de carnaval. A letra está reproduzida na exposição tal como ela foi encontrada nesse caderno, de 1975, que eu descobri depois do falecimento do meu pai. Há várias anotações de músicas que vieram a ser gravadas depois", conta Cecília.

Muitas vezes, Moraes Moreira teve parceiros talentosos na criação de letras. Um deles foi o poeta Paulo Leminski, com quem escreveu a música que dá nome à exposição, "Mancha de Dendê Não Sai", lançada num disco homônimo, de 1984. No museu, há depoimentos de alguns desses parceiros famosos. Não poderiam faltar os áudios das músicas, que mostram o ecletismo do compositor, misturando gêneros como frevo, baião, rock, samba, choro e música clássica. 

"A exposição proporciona uma viagem ao tempo, leva as pessoas para épocas passadas, onde as coisas aconteceram na vida do meu pai. Ele teve a sua formação musical graças a um alto-falante instalado na praça central da cidadezinha dele. O segundo disco solo dele se chama "Alto-falante" por causa disso. A exposição leva (o visitante) para esses ambientes em que ele viveu", conta Davi, mencionando como exemplo o sítio dos Novos Baianos. 

Outra instalação, com o violão usado por ele ao longo de 40 anos. Foto: Caio Lirio

"Da época dos Novos Baianos, há um filme muito bonito, feito pelo Pedro de Moraes. É um filme muito raro, que a família do Pedro cedeu para a gente expor", complementa a irmã. 

"Mancha de Dendê Não Sai – Moraes Moreira" fica em cartaz no Museu Histórico da Cidade entre 10 de dezembro e 12 de fevereiro e pode ser vista, com entrada franca, de terça a domingo, das 9h às 16h. A classificação é livre, e o Museu Histórico da Cidade fica na Estrada Santa Marina, s/n, Gávea, Rio de Janeiro.

LEIA MAIS: Os 50 anos da safra de 1973, um ano fora de série na MPB


 

 



Voltar