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Apple poderá pagar mais direitos autorais a quem usar ‘áudio espacial’
Publicado em 13/12/2023

Plataforma estaria planejando dar mais dinheiro a quem subir canções com a tecnologia, poucos dias depois de Spotify anunciar demissões

Por Ricardo Silva, de São Paulo

A Apple Music estaria prestes a realizar uma mudança em sua política de distribuição de direitos autorais, aumentando os percentuais pagos aos titulares que subirem músicas usando a tecnologia de “áudio espacial”. A informação, difundida nesta terça (12) pela agência de notícias Bloomberg citando “fontes com conhecimento do assunto”, joga luz sobre uma das grandes apostas tecnológicas da empresa da maçã — dona da segunda maior plataforma de streaming musical do planeta — para tentar tomar assinantes da primeira, o Spotify.

Para quem ainda não está familiarizado com o tema, a tal tecnologia de “áudio espacial”, que a Apple Music vem promovendo com fanfarra e fogos há algum tempo, permite uma experiência sonora descrita como tridimensional (como se os sons viesses de todos os lados) sem a necessidade de fones de ouvido especiais. A Dolby Atmos é a plataforma mais utilizada para gerar esse efeito em canções e conteúdos audiovisuais e, por isso, virou parceira preferencial da Apple no tema.

“Dependendo da combinação hardware/software, os pontos de origem do som podem ser ‘fixados’ no ambiente, mesmo em relação a alguém que se move com seus fones de ouvido”, descreveu o jornalista e analista Wikerson Landim, do site Mundo Conectado, sobre o “áudio espacial”. “Num filme, é possível distinguir com mais clareza quem está falando à esquerda ou à direita da tela. Em música, a percepção de nitidez aumenta, sendo possível distinguir melhor o som de cada instrumento.”

Na sua aposta por diminuir a grande brecha que a separa do Spotify (220 milhões de usuários premium), a Apple Music (101 milhões) tem tentado vender ao público a ideia de que as músicas do seu catálogo podem ser desfrutadas com maior qualidade sonora, e o “surround sem equipamentos caros" é um dos principais eixos dessa estratégia. Por isso, segundo a reportagem da Bloomberg, qualquer um que oferecer aos assinantes da plataforma a opção do “áudio espacial” em suas gravações, mesmo que o próprio usuário não a ative ou utilize, poderá ter um impulsionamento no seu percentual de direitos autorais.

As fontes da agência não deixaram claro quanto seria o adicional de pagamento nem se ele contemplaria todos os titulares, incluindo os compositores, ou se abarcaria só os diretamente envolvidos no fonograma. Mas analistas disseram que a ideia de jogar fluxos de dinheiro para promover sua tecnologia mostra o tamanho do poder de fogo da maior companhia do mundo negociada em bolsa de valores — um movimento que contrasta com o recente anúncio de uma demissão em massa no Spotify.

TERCEIRO CORTE MASSIVO DO ANO

No último dia 4, a gigante sueca anunciou que colocará na rua 1.500 pessoas de diferentes escritórios e áreas, mais de 17% do quadro total da empresa, no terceiro corte massivo de postos de trabalho só este ano.

“O crescimento econômico (mundial) desacelerou dramaticamente, e o custo do dinheiro aumentou. O Spotify não é uma exceção a essa realidade”, disse Daniel Ek, criador e diretor-executivo da empresa numa carta aberta publicada no blog do Spotify. “Considerando a lacuna entre o nosso objetivo financeiro e nossos custos operacionais atuais, decidi que uma ação substancial para dimensionar corretamente nossos custos era a melhor opção.”

Embora venha registrando sucessivas expansões em sua base de assinantes e nos valores distribuídos aos titulares, o Spotify jamais conseguiu operar no azul. Com pouco mais de 8 mil empregados (após os anúncios das demissões em massa) em escritórios espalhados por lugares como Estocolmo, Nova York, Paris, São Paulo, Nairóbi, Cidade do México, Jacarta, Johanesburgo e Kuala Lumpur, a empresa é “grande demais” e busca, segundo Ek, resgatar o espírito de start-up que a fez chegar ao trono do streaming de áudio mundial.

“Essencialmente, ao contrário da Apple Music e da Amazon Music, segunda e terceira do ranking mundial, o Spotify tem que ‘brigar sozinho’. Não tem uma poderosa empresa-mãe injetando dinheiro por trás”, ponderou Elaine Brandão, analista financeira especialista no mercado musical. “Existe uma enorme boa-vontade do mercado com a plataforma, os bancos continuam a emprestar dinheiro a eles na expectativa de um lucro operacional que nunca chega, porque sabe-se que o streaming ainda não tem qualquer rival no radar, a curto prazo, como modelo de distribuição musical. Mas o fato de a empresa ter que cortar assim na própria carne, eliminando quase um quarto da sua força de trabalho em um ano, mostra que a paciência dos donos do dinheiro pode estar se esgotando.”

Segundo ela, não há indicações de que a Apple poderá tomar a liderança a curto prazo, mesmo com todo o investimento de marketing para promover a ideia de que seu som é melhor:

“As decisões de uso nem sempre são racionais. A maior parte dos países aderiu em massa ao Spotify, já há uma tradição ao redor da plataforma, que foi pioneira em oferecer uma solução tecnológica rápida e fácil para explorar um catálogo gigante, e que não para de crescer. Diminuir uma brecha de mais de 100 milhões de usuários pagantes não é fácil. Se a Apple está criando a mítica do som de qualidade, o Spotify poderá explorar a do David lutando contra o Golias das maiores empresas do mundo para continuar a atrair a simpatia das pessoas por um bom tempo ainda.”

LEIA MAIS: Análise: O que significam as recém-anunciadas mudanças do Spotify no pagamento de direitos autorais


 

 



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