Projeto de Rodrigo de Oliveira para homenagear Vinicius Jr. reúne Ludmilla, MC Davi, MC Hariel, Ryan SP e outros talentosos artistas
De São Paulo
Os artistas participantes do projeto. Foto: Kennedy Richelly
Orquestrados pela GR6, uma das maiores produtoras de funk, rap e trap do país, 12 artistas talentosos se uniram num projeto musical e audiovisual antirracismo que tem como protagonista o jogador de futebol Vinicius Jr. Um dos comandantes da vitória do Real Madrid na Liga dos Campeões da Uefa, no último fim de semana, o atleta de 23 anos, natural de São Gonçalo (RJ), é também líder na luta antirracista nos gramados europeus, após ter sido vítima de insultos inúmeras vezes em estádios de futebol da Espanha e de outros países. A música-manifesto “Os Pretos no Devido Lugar”, de 17 minutos e lançada oficialmente no fim de semana, já teve mais de 1 milhão de reproduções nas plataformas digitais.
A ideia de contar a vida de Vinicius através de uma canção com elementos de rap, funk, r&b e mais gêneros negros foi de Rodrigo Oliveira, fundador da GR6. Ele reuniu um timaço que inclui os associados da UBC Ludmilla, MC Davi, MC Don Juan, Ice Blue, MC Hariel, MC Luki e Ryan SP, além de outros grandes nomes como IG, Livinho, LT, MC Kadu, MC Kelvinho, Murillo e Vulgo FK.
"O Vini é um ícone da luta contra o racismo no futebol e sempre se posicionou de forma firme contra os ataques que sofre dentro e fora do campo. Sua postura inspira muitos jovens negros a seguirem seus sonhos e não desistir em momentos de dificuldade. Eu, particularmente, me sensibilizei com os ataques que ele vinha sofrendo na Europa e, assim como muitos artistas do nosso casting, que são pretos e vieram da comunidade, o Vini é um exemplo de superação. Por toda essa história que ele construiu, decidimos homenageá-lo", disse à UBC o executivo e produtor.
Ele lembrou que a letra e as melodias foram compostas pelos artistas em conjunto, num símbolo da união de todos pela causa comum.
"Alguns dos nossos artistas já conheciam e conviviam com o Vini, mas, até então, eu ainda não havia tido nenhum contato com ele, apesar de admirar e acompanhar a sua carreira e trajetória. Entrei em contato com ele pelo Instagram e contei sobre a ideia da música. Ele ficou muito feliz com a homenagem e participou ativamente de toda a construção da música. Foi acompanhando cada pedaço da letra que era criado, e desde então conversamos todos os dias. O Vini é um menino do bem e merece toda essa mobilização", descreveu o empresário.
VEJA MAIS: O clipe da canção, que traz imagens da trajetória de Vinicius Jr.
O jogador, que tem no seu perfil no Instagram a inscrição “Black lives matter” (vidas pretas importam), se tornou um abandeirado da luta antirracista desde que começou a sua trajetória vitoriosa no Real Madrid, despertando o ódio e a intolerância de torcedores rivais, sobretudo do Valencia, mas também do Atlético de Madrid.
As queixas enfáticas dele após ser chamado de macaco inúmeras vezes dentro de campo lhe renderam punições dos árbitros durante as partidas, o que alimentou seu sentimento de revolta. Em diferentes ocasiões, ele admitiu que foi praticamente forçado a abraçar a causa antirracista.
“Eu só queria jogar futebol. Eu só quero fazer de tudo pelo meu time e pela minha família”, disse o jogador durante uma entrevista coletiva em março passado, na qual se emocionou ao falar sobre sua luta solitária. “Quero igualdade num futuro bem próximo, menos casos de racismo e que as pessoas negras possam ter uma vida normal, como as outras. Eu quero seguir lutando só por isso, porque, se fosse por mim, eu até já teria desistido. Poderia ficar em casa sem ninguém me xingar.”
Ludmilla, que também abraçou a causa e fala sobre o empoderamento negro com frequência, postou há duas semanas, em seu perfil no Instagram, um pequeno trecho da canção que, apesar da sua enorme duração - muito superior aos padrões atuais do pop - já vai percorrendo a trilha do sucesso.
"Para nós, da GR6 Music, é uma grande satisfação ver que a mensagem está sendo propagada como merece ser, ou seja, uma faixa com 17 minutos de duração, com um tema absolutamente sério e necessário, sendo tão acessado (ou até mais) quanto uma faixa dançante de 3 minutos de duração. Isso, pra nós, demonstra que a propagação está acontecendo, e, no final do dia, é o que realmente temos como intenção nesse projeto, passar a mensagem adiante e colaborar de forma significativa para a luta contra o racismo", disse à UBC André Morrissy, diretor da GR6 Music.
Quem comentou sobre o projeto em seu perfil no IG foi MC Davi, que publicou um trecho do clipe em que exalta o poder e o valor da negritude. À UBC, ele explicou por que embarcou na ideia:
"Como a maioria dos negros no Brasil, já sofri diversas situações de racismo ao longo da minha vida. O racismo é uma realidade presente no dia a dia dos negros no Brasil, e é importante que continuemos a denunciar essa injustiça e a lutar por uma sociedade mais justa e igualitária. Tenho orgulho (de usar minha voz para esta causa). Sei do alcance que nós, artistas, temos, principalmente como inspiração de tantos jovens. O funk, assim como o rap, retrata a realidade que é vivida pelos jovens negros e periféricos. Eu vivi essa realidade, e nós usamos as canções como forma de manifestação, reivindicando direitos, problematizando a realidade dentro das comunidades", analisou MC Davi.
Para Oliveira, é fundamental que artistas como ele e produtoras como a GR6 se engajem na luta antirracista:
"Com o alcance gigantesco e com a força de negócio que a GR6 construiu, para mim fez todo o sentido colocar a indústria do funk dentro dessa conversa de impacto social, porque o funk sempre foi alvo de criminalização e é o (gênero) que melhor faz a conexão da população de todos os grandes centros urbanos no país. A música 'Os Pretos No Devido Lugar' é um importante passo nessa direção. Ela tem o potencial de conscientizar as pessoas sobre o problema do racismo, promover o debate sobre o tema e inspirar ações para a mudança."
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