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Will Santt: ‘um jovem como eu tocando bossa é um chamariz em si’
Publicado em 23/07/2024

O talentoso cantor e compositor de 21 anos fala à UBC sobre a renovação do gênero, herança evangélica e planos para o futuro imediato

Por Alessandro Soler, de Madri

Fotos de arquivo pessoal

Will Santt subiu ao palco do Recoletos Jazz, uma pequena casa de shows no exclusivo bairro madrilenho de Salamanca, e encarou a plateia de frente. Entre as senhoras e os senhores de 60, 70 anos, havia muita gente jovem, colorida. Foi assim em cada uma das três noites em que encheu o clube da capital espanhola no começo deste mês. E tem sido assim também em outras paradas deste tour com 10 apresentações pela Europa, terceira viagem ao continente desde 2023.

A bossa nova que este paulistano de 21 anos representa com orgulho parece estar atraindo um novo público. E Will é plenamente consciente do papel que tem nisso.

“Um jovem de 21 anos, como eu, tocando bossa nova é um chamariz em si mesmo. O estilo que eu tenho é descontraído, a interação com o público é moderna, jovial. Críticos já descreveram o que eu faço como bossa novíssima. Fico contente. Meu objetivo é ajudar a renovar este gênero maravilhoso”, ele diz à UBC.

Os quase 250 mil seguidores que acumula no Instagram podem fazer pensar que a tarefa da renovação será fácil. Mas a experiência que vem tendo em algumas das pequenas cidades do interior búlgaro, onde se apresenta esta semana, mostram que não.

“Gosto de tocar os lados Bs da bossa. E de mostrar, claro, minhas próprias composições. Em Sófia, a capital, foi incrível. Mas aqui, nesta região mais rural, simplesmente não é possível. Vou de ‘Garota de Ipanema’, ‘Corcovado’, ‘Água de Beber’, ‘Águas de Março’. O público é bem mais velho e, mesmo assim, não conhece várias dessas canções”, descreve.

As composições próprias às quais se refere vêm sendo escritas e lapidadas há anos, desde que o menino que deu seus primeiros passos musicais numa igreja evangélica da Zona Leste de São Paulo, onde nasceu, começou a experimentar com outros gêneros. Já são mais de 100 temas criados e arranjados, poucos gravados até agora. Dez deles, mais especificamente, todos reunidos no seu álbum de estreia, “Meu Caminho - Ao Vivo no Blue Note SP”, lançado mês passado.

A abundância de criações é tanta que ele nem cogitou escrever nada novo para o disco. Amor, natureza, um olhar para dentro de si: os temas mais caros à bossa nova estão nas faixas, exclusivamente compostas por esse jovem criador não muito dado às parcerias.

“Prefiro criar sozinho. No início, pensava que seria melhor para administrar os direitos, controlar os usos da obra etc. Acabou virando um hábito. Mas tenho alguns poucos parceiros com quem já compus, como o João Paulo, um engenheiro civil do Cariri (CE) que me mandou 4 ou 5 letras para eu musicar", afirma. "Ultimamente, com os shows e turnês, tenho composto menos, mas acho que tenho facilidade, já compus música em 15 minutos."

E de vários gêneros. O jovem artista que empunha a bandeira da bossa nova mundo afora tem no currículo xotes, baiões, sambas, MPBs, gospels…

“Aos 12 anos eu já tinha mais de 20 músicas religiosas criadas. O caderno com essas composições ainda existe, está emprestado a um amigo tecladista. Tenho orgulho dessa fase”, conta o artista, que aprendeu a tocar violão sozinho, depois de ter sido apresentado à música por um pastor da igreja, que o estimulou a experimentar a bateria.

A transição dessa fase gospel para a atual, mundana, como se diz no meio evangélico, não foi isenta de dor:

“Meus pais não aceitaram de cara. Quando comecei a compor bossa nova e outros gêneros, ia mostrar à minha mãe, que dizia que era bonito, mas não era de Jesus. Eu dizia que minhas canções falam de amor, e Jesus também é amor, vida, natureza… Em casa, nem sempre tive apoio. Meu pai, até recentemente, nem sabia que eu viajava tocando. Foi só na minha primeira turnê internacional, ano passado, que ele passou a entender melhor. Mas o meu pastor, sim, não só aceita como sempre me apoiou muito.”

Sem ter renunciado à sua base religiosa, mas abraçando a pluralidade da arte, Will Santt — cujo nome de batismo é Emanuel Santos Souza — navega diferentes mundos com a leveza e a naturalidade de um jovem da geração Z aberto ao novo:

“Você pode ser um artista, um crente, tudo o que quiser, e ao mesmo tempo. Eu acredito em Deus, mas não me deixei me tornar um cara fanático pela religião ou pela doutrina. Continuo a ir à igreja, quando posso, mas jamais uso o palco para pregar ou falar de crenças. Ali é lugar de música.”

Sua personalidade ecumênica vai ficar ainda mais evidente no próximo lançamento, dentro de uns meses: um disco para celebrar seus 22 anos, formado por 22 composições suas de gêneros variados.

Com o novo trabalho, espera ir diminuindo, pouco a pouco, o grande gap entre a enorme repercussão dos seus vídeos no Instagram e o ainda modesto total de audições de suas canções no Spotify — outro indício da dificuldade que é renovar público.

“Tirar os jovens das redes e levá-los para o streaming é uma dificuldade em todos os gêneros. Estou iniciando meu projeto, estou cheio de possibilidades e aberto a elas. Quero gravar tudo o que tenho, lançar, chamar as pessoas para escutar minhas músicas autorais… Acho que vai ser um processo natural. Pouco a pouco, vou conseguir.”

 

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