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Morre Silvio Santos, aos 93 anos, em São Paulo
Publicado em 17/08/2024

Uma das figuras mais míticas da história da TV brasileira, ele também era cantor e associado da UBC

De São Paulo

Silvio em foto sem data no início dos anos 1970, quando já havia estourado nacionalmente na TV Paulista/TV Globo. Reprodução

"Hoje o céu está alegre com a chegada do nosso amado Silvio Santos. Ele viveu 93 anos para levar felicidade e amor a todos os brasileiros. A família é muito grata ao Brasil pelos mais de 65 anos de convivência com muita alegria.” Assim, numa nota publicada em redes sociais, o SBT anunciou neste sábado (17) a morte de Silvio, uma das mais míticas figuras da história da TV brasileira.

Empreendedor, comunicador, também cantor e compositor (e associado da UBC), o multitalentoso filho de imigrantes judeus gregos e turcos, cujo nome de registro era Senor Abravanel, marcou de forma definitiva o entretenimento brasileiro com seu estilo, seus programas de auditório e suas tiradas inesquecíveis. Criador de empresas dedicadas a segmentos variadíssimos fora da TV, dos cosméticos às loterias, construiu uma fortuna estimada em R$ 6 bilhões. Mas dizia “não saber o endereço” de nenhum dos seus empreendimentos.

"Para nós, Senor Abravanel é ainda mais especial, e somos muito felizes pelo presente que Deus nos deu e por todos os momentos maravilhosos que tivemos juntos. Aquele sorriso largo e voz tão familiar será para sempre lembrada com muita gratidão. Descansa em paz, que você sempre será eterno em nossos corações”, disseram os funcionários do SBT num comunicado.

Sem vinculação com grandes grupos empresariais que não o seu, dizia ser “o único dono de TV que gosta realmente de TV.” Pudera, a trajetória que o levou ao estrelato foi construída ao longo de décadas à frente de programas de auditório. Mas o amor por esse veículo vinha de antes ainda, desde os tempos em que, ainda no Rio de Janeiro, onde nasceu, atuou como camelô, vendendo capinhas para títulos de eleitor e canetas, de olho nas estrelas primeiro do rádio e, depois, de uma TV que dava seus primeiros passos no país.

Cercada de lendas, a história do seu acesso ao entretenimento tem muitas versões. Uma delas diz que um fiscal da prefeitura que o viu vendendo seus produtos sem licença, em vez de multá-lo ou reprimi-lo, se encantou por sua voz e o indicou a um teste numa emissora de rádio.

Fato mesmo é que, antes do final dos anos 1950, com menos de três décadas de vida, Silvio já era o dono do Baú da Felicidade, uma empresa de capitalização que estava prestes a falir e que ele transformou na coluna vertebral dos seus negócios. Nesta altura, já havia se mudado para São Paulo, onde construiria seu império.

Tudo isso enquanto emendava anos de sucesso com seus programas na TV Paulista, a partir de 1965, além de TV Tupi e TV Globo.

A entrada na que viria a ser a rede de TV mais poderosa do país foi por acaso. Quando uma Globo então em expansão comprou a Paulista, Silvio manteve sua posição na grade, com seu programa emitido primeiro só pra São Paulo, e, depois, para o Rio e o resto do Brasil. Sempre explorando seu carisma e talento para vender coisas — sobretudo a si mesmo —, virou líder de publicidade na emissora (e controlava 100% dos contratos com as empresas que anunciavam no intervalo do seu programa). Diz-se que Roberto Marinho, então a figura mais poderosa dos meios de comunicação nacionais, tinha grande afeto por ele.

Mas Silvio queria mais, queria ser dono da sua própria rede. Quando viu a oportunidade de abrir seu próprio canal, deu o salto. Primeiro, conseguiu a licença do então ditador Ernesto Geisel, em 1975, e abriu a TVS (TV do Silvio) no canal 11 do Rio de Janeiro. Depois, em 1981, herdou a faixa da extinta TV Tupi (canal 4 de São Paulo) e construiu o SBT.

Nunca negou ter sido próximo de todos os governos, o que lhe permitiu aguentar décadas de concorrência com a poderosa Globo. Sempre antenado ao gosto popular, lançou muitas canções, de marchinhas de carnaval a músicas em homenagem a times de futebol. Segundo números reunidos pelo IMMUB (Instituto Memória Musical Brasileira), foram 135 músicas gravadas. Mas o sistema da UBC registra bem mais gravações: seu nome aparece em 627 registros, incluindo suas canções e também narrações de histórias.

“Tenho boa voz, natural querer colocá-la em músicas”, teria respondido ante o assombro geral quando decidiu se “lançar” como intérprete.

A maior parte das narrações foram de histórias infantis, primeiro nos anos 1970 (na coleção “Silvio Santos Para as Crianças”) e, depois, em 2005, quando assinou um contrato com a Disney para narrar contos de propriedade do conglomerado americano numa nova série de discos.

Em reportagem publicada neste sábado, o jornal Folha de S. Paulo faz um levantamento minucioso dos álbuns e coletâneas lançados pelo comunicador. Foram 16 discos dedicados só a marchinhas carnavalescas, com sucessos como "A Pipa do Vovô", "Índio Quer Dançar", "Eu Gosto da Minha Sogra" e, sobretudo, "Transplante de Corintiano". Com os clássicos versos "doutor, eu não me engano, meu coração é corintiano", foi o maior hit da carreira de Silvio como intérprete musical. Ou, talvez, o segundo maior, já que uma canção original escrita para ele por Archimedes Messina em 1965, ainda no seu tempo de apresentador da Rádio Nacional de São Paulo, o acompanhou literalmente até o fim da sua trajetória na TV, aquela que começa com "Agora é hora de alegria/Vamos sorrir e cantar/Do mundo não se leva nada/Vamos sorrir e cantar/Silvio Santos vem aí, lá lá lá lá lá lá...".

Nos últimos anos, com a saúde debilitada, foi se afastando paulatinamente primeiro da telinha e, depois, da direção do SBT, cuja gestão atualmente está a cargo de duas de suas seis filhas, Renata e Daniela Abravanel. Junto com outros membros da família, elas divulgaram uma carta (leia abaixo) se despedindo desta que é uma das figuras mais míticas da TV e do entretenimento brasileiros, e que levava semanas entre internações no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, por complicações decorrentes de uma infecção pelo vírus H1N1, até falecer no começo da manhã deste sábado. 

"Um dos maiores comunicadores de todos os tempos, Silvio Santos, partiu hoje deixando um legado de alegria, ousadia, liberdade, muita brasilidade e esperança. Nosso respeito e imenso carinho para ele que sempre esteve presente em toda nossa vida, fazendo com que nos sentíssemos parte do mundo colorido e vibrante que criou. Um gênio do entretenimento. Todos fomos muito felizes ao sentarmos com a família em frente à TV, assistindo aos seus programas dominicais feitos para todas as gerações. Eterno e inspirador, somos gratos a sua existência. Fazemos parte do novo mundo criado pelo admirável chip novo do mestre que estará para sempre em nossos corações!", declarou a diretora-presidenta da UBC, Paula Lima.

“Ele é uma das pessoas mais importantes da história da TV e do entretenimento do Brasil. Único, gênio. Agora, realmente, passa a se tornar uma lenda da nossa história. 'Do mundo não se leva nada, vamos sorrir e cantar'. Vamos seguir e vamos celebrar essa história vencedora. Que sirva de inspiração e exemplo para as novas gerações brasileiras”, refletiu Wilson Simoninha, diretor da UBC.

"O Brasil está de luto profundo hoje. O país fica mais triste. Um capítulo brilhante, pioneiro e voluntarioso da história da TV e da comunicação brasileira se despede com o falecimento de Silvio Santos. Nosso respeito e reverência a quem marcou muitas vidas por décadas, retratando e divertindo a sociedade brasileira com seu ímpeto e talento. Muitas carreiras artísticas foram valorizadas e dinamizadas pelas tardes de domingo e programação do SBT e do carisma inimitável de Silvio Santos. Nossa solidariedade à família e funcionários do SBT", afirmou Marcelo Castello Branco, CEO da UBC.

A carta da família Abravanel

Colegas de auditório, colegas de uma vida, o que dizer para vocês nesse momento?

Acreditamos que muitos de vocês estejam compartilhando da mesma saudade que nós hoje estamos sentindo. Queremos dizer para vocês que por muitas vezes, ao longo da vida, à medida que nosso pai ia ficando mais velho, ele ia expressando um desejo com relação à sua partida. Ele pediu para que, assim que ele partisse, que o levássemos direto para o cemitério e fizéssemos uma cerimônia judaica.

Ele pediu para que não explorássemos a sua passagem. Ele gostava de ser celebrado em vida e gostaria de ser lembrado com a alegria que viveu. Ele nos pediu para que respeitássemos o desejo dele. E assim vamos fazer. 

Por este motivo, pedimos a compreensão de todos vocês. De guardar na memória tudo de bom que ele fez e de tantas alegrias que ele nos trouxe ao longo dos anos. Ele foi muito feliz com tudo que fez. E sempre fez tudo do fundo do seu coração. Ele amou o Brasil e os brasileiros.

Com muito carinho e respeito a todos vocês,

Família Abravanel

 

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