Dado faz parte de um dos mais amplos estudos sobre os efeitos da ‘criação’ musical por robôs, publicado esta segunda na Austrália
De Sydney*
A APRA AMCOS, sociedade de gestão coletiva de direitos autorais que atua na Oceania, publica nesta segunda-feira (19) os resultados de uma das mais amplas pesquisas já realizadas sobre os usos e os efeitos da Inteligência Artificial Generativa (IAG) para a criação musical. Com números e gráficos variados, o relatório revela um grande medo dos autores em relação às tecnologias que utilizam suas composições para treinar sistemas que, depois, ‘criarão’ canções automaticamente, prejudicando-os financeiramente.
E a amostragem utilizada é o que dá um grande peso ao trabalho: 4.274 membros da APRA AMCOS, incluindo compositores e editores de toda a Austrália, da Nova Zelândia e de outros territórios cobertos pela sociedade, responderam às perguntas. O panorama diverso de participantes trouxe também diversos artistas oriundos de comunidades aborígenes.
Entre os principais dados revelados pela pesquisa, destacam-se:
O minucioso trabalho, conta a APRA AMCOS, foi realizado pelo grupo de consultoria e pesquisa Goldmedia GmbH, com sede em Berlim, e ouviu associados da entidade espalhados por diversas nações onde eles residem. Além dos próprios compositores e editores, uma série de especialistas do setor e acadêmicos foram entrevistados, incluindo o Professor Associado Oliver Bown (da Universidade de Nova Gales do Sul, em Sydney), Dr. Sam Whiting (Real Instituto de Tecnologia de Melbourne), Sophie Burbery (Universidade de Auckland), Tracy Chan (Splash), Sally Coleman (Big Sand) e o compositor e produtor Tushar Apte.
Figuras importantes da indústria também contribuíram com suas vozes para o relatório, incluindo Bernard Fanning, Caitlin Yeo, Clare Bowditch, Jimmy Barnes, Julian Hamilton, Kate Miller-Heidke, Kingdon Chapple-Wilson, Missy Higgins, Peter Garrett, Michelle Levings, por trás do projeto GLVES, Nigel Westlake e Tina Arena.
LEIA MAIS: Um documento com os principais pontos destacados pelo estudo (em inglês)
LEIA MAIS: O relatório na íntegra (em inglês)
“Logo antes de publicar o relatório, começamos a informar aos principais gabinetes ministeriais e funcionários de departamentos, em Canberra (capital australiana), sobre nossas descobertas. Também começaremos a fazer isso na Nova Zelândia nas próximas semanas. É crucial garantir que haja urgência em encontrar uma solução regulatória em ambos os territórios que possa apoiar o ecossistema musical da Austrália e Nova Zelândia. Estamos comprometidos em manter os membros informados sobre os últimos desenvolvimentos e avanços nessa área”, diz um trecho do documento.
Para Dean Ormston, diretor-executivo da APRA AMCOS, a Austrália e a Nova Zelândia têm a chance de liderar globalmente um processo de empoderamento dos autores e editores que garanta que a geração de riqueza continue a beneficiar os criadores humanos, neste desafiador contexto de expansão da IAG.
"A alta taxa de participação (na pesquisa que levou ao relatório) indica a profunda preocupação dentro da indústria musical em relação ao impacto da IA. Há uma demanda quase universal e urgente para que os governos façam muito mais para proteger os meios de subsistência dos criadores. Nos últimos dois anos, a APRA AMCOS tem expressado preocupações sobre a falta de transparência nas plataformas de IA generativa. Essas plataformas devem reconhecer o conteúdo criativo que elas capturam e copiam, o que é essencial para gerar saídas de IA”, ele diz.
O executivo destaca ainda os pontos principais que refletem a preocupação dos criadores — e que apareceram no relatório:
“O uso não autorizado representa uma séria ameaça ao cenário econômico e cultural, potencialmente prejudicando carreiras e negócios. O problema não está na tecnologia em si, mas nas práticas corporativas sigilosas que corroem a confiança dentro do setor criativo global. Para que o mercado de IA generativa seja justo, equitativo e sustentável, ele deve se basear em uma sólida fundação regulatória que defenda os direitos dos criadores humanos e proteja sua propriedade intelectual. A transparência é crucial para esse processo”, afirma Ormston.
*Com informações da APRA AMCOS
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