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Grelo, o associado UBC que ‘virou’ cantor por acaso
Publicado em 23/08/2024

Após ter faixas suas subidas sem autorização, compositor de dezenas de hits do sertanejo se lançou como intérprete. E chegou ao top 1

De São Paulo

Há apenas uma semana, ele subiu num palco pela primeira vez na vida. Mas o mundo musical não é nada novo para Grelo, goiano de Anápolis que, com só 26 anos, já tem mais de 500 músicas (criadas só por ele ou em parcerias) gravadas por outros intérpretes — entre eles, estrelas do sertanejo como Marilia Mendonça, Luan Santana, Simone Mendes, Maiara e Maraísa e Jorge e Mateus. O que ele está vivendo neste último mês, porém, é não só espetacular; é também inesperado.

Parceiro e amigo de Henrique e Juliano, para quem já compôs inúmeras canções (como “Volta Por Baixo” e “Traumatizei”), há alguns meses ele foi pescar com a dupla. Durante a viagem, e “de zoeira”, como descreve, gravou uns vídeos interpretando rocks, clássicos da MPB e até raps, como “Vida Loka pt. 1”, dos Racionais MCs, em versão seresta, seu gênero favorito. Os vídeos viralizaram no TikTok. E, como vem ocorrendo com tantos compositores (principalmente no sertanejo), alguém simplesmente passou a mão nos áudios e, sem autorização de Grelo, chegou a subi-los a plataformas de streaming.

“Os áudios começaram a circular e viralizaram. Aí os meninos sentaram comigo, e conversamos: 'Mano, você tem que lançar essa carreira, querendo ou não'", ele lembrou ao portal G1. "Ou você lança sua carreira ou alguém vai lançar e ganhar dinheiro em cima de você."

Então, e sem que nunca tivesse sonhado em ganhar a vida como cantor de massas, o superprodutivo compositor que assinava como De Angelo se reinventou como o cantor e compositor Grelo — um nome adaptado de apelidos postos por amigos por causa da sua magreza, como “magrelo” e “grilo”. Ao escolher Grelo, admite, quis chamar a atenção e viralizar tanto quanto suas músicas.

Seu primeiro megassucesso solo é “Só Fé”, faixa que conquistou o Brasil, tornando-se a mais tocada do Spotify — já se aproxima de 30 milhões de execuções em apenas poucos dias desde que foi publicada oficialmente. Seu segredo? O jeito despojado com que o artista canta versos como “O Grelo não precisa de muito, não/ Só peço a Deus muita saúde/ E que Ele continue aí nos abençoando/ Pra que a gente consiga comprar/ Um mé, o leitin dos menino e o Modess da muié/ O resto é só fé/ Lavei meu rosto nas águas sagradas da pia/ Eu já tô pronto pra matar meu leão do dia/ Deus abençoe nóis/ E a nossa correria.”

A forma simples e direta de se conectar com um público — o do sertanejo — que há muito domina o mainstream nacional já tinha se manifestado antes. Têm a assinatura de Grelo (e de parceiros) hits de enorme sucesso como “Esqueça-me Se For Capaz” (criada com os também associados UBC Renno Poeta e Junior Gomes e interpretada por Marília Mendonça e Maiara e Maraísa); “Quarta Cadeira”, interpretada por Matheus e Kauan; “S de Saudade” (composta com o associado Gabriel Agra e interpretada por Luiza e Maurílio e Zé Neto e Cristiano).

"Tento falar de coisas do dia a dia. Não falo do céu, das estrelas ou da lua. Sento e crio um cenário. Por exemplo, acabei de ser largado pela mulher, o que vou fazer? Vou a algum lugar esfriar a cabeça? Chegando lá, pedi uma cerveja? Veio um amigo conversar?", disse o jovem criador ao diário Folha de S. Paulo. "Não adianta falar que comprei um milhão de flores e mandei entregar. Ninguém faz isso. Tem músicas assim, mais figurativas, que são lindas, bonitas de escutar. Mas sou da turma que fala as coisas como nós fazemos."

Se suas composições acumulam centenas de registros, os fonogramas (músicas gravadas) por ele ainda não chegam a 20 no sistema da UBC. Mas não há dúvidas de que a lista vai crescer. E ele garante que, apesar de suas criações terem sido usadas sobretudo no sertanejo até agora, é na seresta que pretende trilhar sua carreira como intérprete.

Com origens na música erudita e europeia, segundo o pesquisador José Ramos Tinhorão, o gênero se popularizou entre os negros no Brasil, ao longo dos séculos XVIII e XIX. Ganhou apelo romântico, se associou a outros gêneros regionalmente (no Maranhão, por exemplo, ganhou elementos do brega), estourou no pop com faixas como “Morango do Nordeste”, de Lairton e Seus Teclados, e hoje se mistura ao arrocha através de artistas como Nadson o Ferinha e Raquel dos Teclados.

"Sempre amei seresta", afirmou Grelo. "Viajo oito, nove horas escutando todas da Raquel, de Washington Brasileiro... É brega mesmo. Quem não gosta acha que é loucura. Dimas e Seus Teclados é absurdo, dá vontade de sair correndo pelado no meio da rua."

Assim, espontâneo, diferente — “não quero ser igual a todo mundo” — é o artista que, como tantos evangélicos, deu seus primeiros passos na música na igreja. Não que seu universo musical seja restrito ao gospel. O longo da vida, incorporou referências variadíssimas ao seu estilo, na mais fiel tradução da palavra eclético. Em suas adaptações para a seresta, inclui de Charlie Brown Jr. e NX Zero a Moraes Moreira e Marisa Monte, passando por todo um longo arco de rappers.

"Escuto muito rap, todos que você puder imaginar — Sabotage, Tribo da Periferia, Cirurgia Moral —, e desde criança, sempre gostei", contou ele, que afirma ter criado o repertório dos seus vídeos virais como se fosse uma playlist de uma viagem de carro. “Vem um Tião Carreiro, depois um Racionais, uma Cássia Eller, volta pra outro rap, e por aí vai.”

Agora, a viagem saiu do “carro”, da cabeça de Grelo — e das vozes de outros intérpretes — para se tornar bem real. Aterrissou nos palcos, com as luzes postas nele.

“Eu estava confortável com minha carreira na composição. Já sou consagrado, tenho 508 músicas gravadas”, comentou, com o mesmo jeito simples com o qual escreve suas músicas, enquanto relembra o que sentiu ao pisar pela primeira num palco, em Imperatriz (MA), na sexta da semana passada. “Foi mágico, eu não podia nem sonhar com isso.”

 

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