Assinando mais de 300 obras, o cearense de 80 anos é o primeiro a ser agraciado com a distinção criada pela UBC, que acontecerá no dia 1º de outubro
Do Rio
De Quixeramobim para todo o Brasil. O compositor cearense Fausto Nilo, aos 80 anos, será o primeiro homenageado com a Medalha UBC, honraria concedida pela UBC. A entrega ocorrerá em Fortaleza (CE) no dia 1º de outubro. Fausto é autor de mais de 300 obras e mais de 800 fonogramas, interpretadas por grandes nomes da música brasileira, como Maria Bethânia, Gal Costa, Ney Matogrosso, Elba Ramalho e muitos outros.
A medalha tem o objetivo de reconhecer e premiar as contribuições artísticas de Fausto, que tanto impactaram a música brasileira. “Fausto Nilo é um orgulho da MPB e merecedor da primeira Medalha UBC, que marca também o fortalecimento de nossa filial e de nosso compromisso com a música produzida no Ceará e em todo o Nordeste”, afirma Marcelo Castelo Branco, diretor-executivo da UBC.
Carreira
A trajetória de Fausto Nilo Costa Júnior é um dos mais belos e produtivos capítulos da música brasileira. Desde cedo, ouvia música nos alto-falantes de sua cidade natal enquanto jogava bola. Em casa, lia os cadernos de música das irmãs. E não perdia a oportunidade de estar em programas de auditório, onde viu Dalva de Oliveira, Orlando Silva e Augusto Calheira.
No começo dos anos 1970, já formado em Arquitetura, Fausto participava das noitadas do Pessoal do Ceará, em Fortaleza, ao lado de Fagner, Ednardo, Belchior e Amelinha. Nessa época, ainda não se arriscava a compor. Foi o amigo Fagner que o convenceu a escrever uma letra para apresentar no Rio de Janeiro, onde tentava se firmar como artista. “Faz, Fausto! Tô precisando de letra!”. Ele escreveu então “Fim do Mundo”, gravada em 1972: “Parece que chorando eu chego perto / E nós nesse deserto / Filhos nascidos do Sol, da noite, da Lua / Parece o fim do mundo, o fim”.
A partir de então, se tornou um dos letristas mais prolíficos da música brasileira. Em 1976, iniciou sua parceria com Moraes Moreira. 5 anos depois, em 1981, ocupou as paradas de sucesso com “Pequenino cão” e “Pão e poesia”, gravadas por Simone, “Eu também quero beijar”, por Pepeu Gomes, “Amor nas estrelas”, por Nara Leão, “Zanzibar”, pelo grupo A Cor do Som, e “Meninas do Brasil”, por Moraes Moreira.
O seu trabalho como compositor inclui também “Santa Fé”, tema de abertura da novela Roque Santeiro, e “Pedras que cantam” (composição em parceria com Dominguinhos), que foi abertura da novela Pedra sobre Pedra.
No final dos anos 1970, por insistência do amigo Moraes Moreira, Fausto Nilo escreveu pela primeira vez a letra de uma música para o carnaval baiano. A canção foi batizada de Chão da Praça, até hoje um dos maiores sucessos na folia de Salvador. Seguiram-se outras composições marcantes, como “Eu também quero beijar” (parceria com Pepeu Gomes e Moraes Moreira), “Bloco do Prazer” e “Coisa Acesa” (ambas com Moraes Moreira). Em parceria com Armandinho, da Cor do Som, fez clássicos como “Zanzibar” (‘O azul de Jezebel no céu de Calcutá/Feliz constelação’) e “Vida Boa”.
Anonimato
Ao ser perguntado se acha curioso o fato de muita gente não associar seu nome a tantos sucessos, ele respondeu sem pestanejar:
“Quando passei a ser letrista, pensei muito nisso. Os caras da MPB mais antiga todos eram conhecidos por suas letras, e eu nunca seria. Mas sabe que achei legal? Nunca reclamei do anonimato. O cara do palco é que é nosso parceiro, ele que tem a função de transformar aquilo num espetáculo. Às vezes é como os tramoistas do teatro, os caras que movem a cena lá no fundo do teatro para que o espetáculo aconteça”.
Fausto Nilo também se destaca em outras áreas. Como arquiteto e urbanista, tem uma contribuição significativa, que inclui o Centro de Arte e Cultura Dragão do Mar, em Fortaleza. Ele também é ilustrador, tendo assinado a capa do álbum Samba Doce, do contrabaixista Jorge Helder. Este ano, foi tema da série documental "Fausto – Folia das Formas", que traz ao público uma abordagem mais ampla sobre a obra do artista.
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