Especialistas comentam equipamentos e softwares básicos necessários para gravar e produzir no seu quarto ou sala
Por Ricardo Silva, de São Paulo
Gal Costa teve o seu fantástico “Recanto” concebido e, em grande parte, gravado no estúdio Monoaural, numa casa na Gávea, Rio de Janeiro. Billie Eilish, a americana de só 23 anos, se tornou a mais jovem vencedora das categorias principais do Grammy, aos 20, com o álbum "When We All Fall Asleep, Where Do We Go?”, inteiramente gravado em casa com o irmão, o produtor Finneas O’Connell. Herbert Vianna. Caetano Veloso. Roberta Sá. Lucas Santtana: é longa a lista de artistas que tiveram pelo menos alguma gravação icônica feita muito longe da estrutura dos megaestúdios profissionais.
Num mundo em que a produção e a gravação estão ao alcance de (quase) qualquer um, é fundamental um pouco de investimento na hora de criar um home studio que permita uma qualidade satisfatória e faça seu projeto se destacar. Reunimos aqui 3 tópicos a partir de dicas dadas por dois craques, John Storyk e Benny Grotto, ambos professores do prestigioso Berklee College of Music, dos Estados Unidos.
1. A preparação do espaço ideal
Pode parecer óbvio, mas selecionar o espaço da casa onde será montado o estúdio faz toda a diferença para o resultado final. Talvez você não tenha um teto em forma de hélice revestido com gesso poroso para absorver as frequências graves. Nem sequer uma cabine separada dentro do seu quarto ou sala para poder fazer nela as gravações. Mas passos simples garantem uma gravação decente.
Primeiramente, encontre um cômodo que não seja nem muito grande nem muito vazio, para evitar problemas com a acústica. Também evite cômodos de frente para a rua ou aqueles que tenham paredes revestidas com azulejos. Você não quer que o eco atrapalhe todo o processo.
Escolha um cantinho para as gravações e forre-o com espumas isolantes, aquelas que se parecem a caixas de ovos e podem ser encontradas facilmente online. Uma busca simples no Google revela que algumas custam a partir de R$ 19 cada placa. Um kit com 20 pode sair na faixa de R$ 150. Comece tratando os cantos e as superfícies diretamente em frente e atrás do ponto de gravação.
Não comprou ainda uma placa dessas e já quer começar a gravar? Sem problema: nada que um bom cobertor em cima de superfícies refletoras do som (vidros, por exemplo) não resolva.
Você, produtor, também deve tomar dois cuidados:
“Não se posicione no centro do cômodo e coloque os alto-falantes em distâncias simétricas em relação às paredes”, ensina Storyk.
Esses dois passos ajudam a garantir que o ouvinte tenha uma percepção precisa da mixagem. Já para tornar o ambiente silencioso, tente colocar os equipamentos em racks com isolamento acústico e usar um aparelho de ar-condicionado silencioso (melhor ainda desligá-lo) durante a gravação. E, claro: SEMPRE feche a janela.
2. O equipamento certeiro
Um kit de gravação mínimo para home studio inclui um computador com software de gravação (DAW) e plugins, uma interface de áudio, alguns microfones e um par de fones de ouvido. No entanto, as possibilidades de personalização e expansão desse conjunto são praticamente infinitas.
Grotto comenta os equipamentos de que gosta, e que são fáceis de encontrar e relativamente baratos:
3. A pós-produção
Depois de tratar a acústica do ambiente, escolher o microfone certo, posicioná-lo com cuidado e captar o som da melhor forma possível, você descobre que a gravação teve problemas e não saiu exatamente como você queria. É nesse ponto que entra a pós-produção.
Um bom equalizador serve para realçar ou atenuar frequências específicas em uma gravação. É uma ferramenta essencial tanto para corrigir imperfeições quanto para valorizar o que há de melhor no som captado. Os especialistas resumem:
“Seja você engenheiro de som ou músico, aprenda a usar um equalizador. Abra o equalizador padrão da sua DAW e comece a treinar.”
Por exemplo, se a sala (ou quarto) onde montou o estúdio tem uma onda estacionária em 230 Hz, talvez você não saiba identificar essa frequência de ouvido, mas o equalizador vai mostrar onde está o problema — e você pode suavizar esse ponto com facilidade.
Se o problema for simples — como ruídos do ambiente aparecendo nos trechos silenciosos de um vocal ou violão —, um plugin de noise gate pode resolver. Ele corta ou atenua qualquer som abaixo de um determinado volume, limpando as pausas entre frases.
Agora, se o ruído vazou para dentro da performance, aí o buraco é mais embaixo. É nesse momento que softwares como o iZotope RX entram em cena.
Com ele, você pode literalmente abrir o áudio, identificar sons indesejados com precisão e removê-los por completo, usando recursos avançados de processamento digital. É quase como restaurar uma foto manchada — só que com som.
4. (Dica bônus) Não conseguiu montar tudo sozinho? Chame um especialista!
"É engraçado, as pessoas não hesitam em gastar um montão de dinheiro em plugins, microfones caros, softwares caros, mas são incapazes de pagar por uma consultoria inicial, uma orientação para montarem bem seu home studio”, raciocina Storyk.
A opinião dele é bem clara: se você realmente quer montar um estúdio completo em casa e tirar o melhor dele, um papo prévio com um arquiteto e um engenheiro de som pode poupar muita tentativa e erro no seu processo.
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