Livro resgata trajetória do pianista e compositor carioca que construiu pontes entre jazz, choro, samba e bossa nova
Do Rio
Foto: Divulgação/Ric Pereira
Será lançada em novembro a biografia “50 anos do Piano Brasileiro de Marcos Ariel”, obra que celebra a trajetória de um grande nome da música instrumental brasileira. Escrita em coautoria com o jornalista Miguel Sá, a publicação traz histórias de palco e bastidores, lembranças de estúdios e turnês do artista carioca, além de reflexões sobre os caminhos da música no Brasil e no mundo nas últimas cinco décadas.
Com 30 álbuns gravados e um single inédito que chega junto ao livro, Marcos Ariel revisita uma carreira marcada pela diversidade e pela experimentação. Pianista e compositor, ele se formou em teatro aos 17 anos — mas foi na música que realmente se descobriu, começando como bolsista da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), ao lado de colegas que se tornariam expoentes, como Raul Mascarenhas, Mauro Senise e José Carlos Bigorna.
Ariel fez parte da construção da cena instrumental nos anos 1970, transitando pelo jazz, choro e bossa nova, sob forte influência de Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti e Chick Corea. Integrou os principais movimentos de resgate e revitalização do gênero consagrado por Pixinguinha, e o fez em dois momentos: nos anos 70 e, décadas depois, em meados dos 90, no boêmio bairro carioca da Lapa, que então vivia seu próprio renascimento.
Sempre curioso, chegou a apresentar um programa na Rádio Globo por dois anos, “Estúdio Aberto”, entrevistando grandes nomes da MPB. Sobre o palco e na estrada, acompanhou artistas como Cartola, Banda Black Rio e Kleiton & Kledir, e também viveu a experiência de dirigir o lendário Jazzmania, no Rio de Janeiro, além de se apresentar em eventos míticos como o Free Jazz Festival.
“A história do Jazzmania é um capítulo à parte. Conheci o (empresário) Luiz Antonio Cunha, que viria a fundar a casa, quando servimos juntos no Exército. Virou amizade, e, em 1983, surgiu aquela casa, que inclusive fui eu que batizei”, disse Marcos em entrevista recente à Rádio MEC.
Seu primeiro disco, “Bambu” (1981), lhe rendeu o Prêmio Chiquinha Gonzaga em 1983, abrindo portas para o mercado internacional. No final da década, com o sucesso de “Terra do Índio” nos Estados Unidos, Ariel consolidou sua carreira lá fora, assinando contrato com a gravadora norte-americana Nova Records e lançando álbuns em território norte-americano, europeu e japonês.
Respeitado nos EUA, onde foi chamado de virtuoso por críticos, teve menções especialmente elogiosas na primeira metade dos anos 2000, enquanto levou em turnê por lá o seu disco “Piano Com Tom Jobim”, de 2003, em homenagem ao maestro soberano.
“Ao longo da minha carreira, sempre tive mania de guardar recortes. Achava curioso o que saía no jornal (sobre mim). Havia todo um movimento musical, matérias interessantes sobre a gente. Decidi reunir tudo isso para contar essa história, convidei o Miguel Sá, e ele topou”, relembrou Marcos. “Ele já tinha escrito biografia do Robertinho Silva, grande amigo, parceiro e mestre. Achei interessante contar essa história porque ela passa pelas transformações da história recente da música brasileira, as mudanças e os sustos (risos).”
De fato, como ele descreve, a biografia, lançada pela editora Jaguatirica em parceria com a Escola Música & Negócios e apoio do Gênesis PUC-Rio, não apenas resgata os momentos mais marcantes da trajetória de Ariel, mas também oferece ao leitor um panorama da acelerada mudança da indústria musical — do vinil às fitas, do CD ao streaming — neste último meio século.
O livro já está em pré-venda por R$ 67 (impresso) e por R$ 47 (e-book). Está prevista ainda uma edição em Portugal.
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