Versão orquestrada do hit pode ser comprada por fãs e, em algumas versões, inclui LP e ingresso para show
Do Rio
João Carlos Martins: "o NFT permite atingir todos os setores da sociedade". Divulgação/Opus/The Music Journal
Fortemente vinculada aos séculos XVII, XVIII e XIX, a música clássica também entra na era dos NFTs no século XXI. O maestro João Carlos Martins está lançando certificados digitais colecionáveis e aposta nessa tecnologia para ajudar a difundir um gênero que, embora não tão popular entre os jovens, tem entre seus apreciadores um público fiel e disposto a pagar pela posse de algo único e que o aproxime ainda mais dessa arte.
A obra escolhida para virar um token não fungível, que os fãs poderão colecionar, foi "País Tropical", de Jorge Ben Jor, que ganhou versão inédita instrumental de concerto executada pela Orquestra Bachiana Sesi-SP com regência de Martins.
Em parceria com a plataforma Simple, e usando tecnologia da startup OnePercent, o projeto oferece três modalidades de compra: Music Edition, a US$ 15, e que inclui a gravação inédita com um certificado colecionável; Experience Edition, a US$ 150, que traz ainda um vinil da música assinado à mão pelo maestro; e a Private Edition, a US$ 500, que, além do anterior, conta também com um par de ingressos para um show exclusivo de João Carlos Martins em São Paulo, em dia e hora a serem definidos.
"Este projeto tem um plus muito importante, que é a junção da tecnologia com uma propriedade presencial. O fã pode comprar o NFT e levar um ingresso para um show, por exemplo", descreve o maestro, para quem a ligação entre alta tecnologia e a música clássica não só é natural, mas histórica.
De fato, ao longo dos séculos em que esse gênero prosperou na Europa, instrumentos como o piano foram inventados, a arquitetura se aprimorou para criar salas de concerto com melhor acústica, e algumas das primeiras gravações sonoras, no século XIX, foram de peças clássicas. O próprio maestro João Carlos Martins diz ter contribuído pessoalmente para um salto tecnológico:
"A primeira gravação digital realizada na história foi em Los Angeles (EUA), e fui eu quem a realizou, em 1978. Logo em seguida já vieram os CDs. Agora chegamos ao NFT, uma tecnologia que permite (à música clássica) atingir todos os segmentos da sociedade."
Recentemente, como noticiamos aqui no site da UBC, Nando Reis foi outro artista brasileiro a lançar NFTs, com uma resposta altamente positiva do público. A possibilidade de ter algo único do seu cantor favorito — e, de quebra, contribuir para financiar o trabalho dele — move os fãs. É nisso que aposta a plataforma Simple, que planeja novos lançamentos não só de João Carlos Martins mas de outros artistas e até de grandes nomes de outras áreas.
"O NFT traz um aspecto inovador, porque permite ao artista disponibilizar seu trabalho diretamente para o público, eliminando uma longa cadeia de intermediários. Esse é o grande atrativo”, diz Gustavo Coutinho, cofundador da plataforma Simple.
Um dos sócios dele no projeto, Guilherme Inaimo avalia que há espaço para outros lançamentos não só do maestro ou de outros artistas, da música clássica ou não, mas também de grandes nomes de diferentes áreas. "Nós devemos lançar até o final do ano mais dois ativos digitais em NFTs. No esporte, teremos o skatista Sandro Dias. Nas artes visuais, Eduardo Srur", conta.
Inaimo afirma ainda que parte da renda gerada com os NFTs do maestro será investida em projetos de renovação da música clássica. "Será para o financiamento de bolsas estudantis ligadas ao ensino da música clássica para pessoas de comunidades carentes", conclui.
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