Estúdio virtual da plataforma também mira público jovem que quer entrar no mundo dos podcasts
Por Eduardo Lemos, de Londres
O Spotify decidiu impulsionar o uso de uma ferramenta que comprou há cinco anos e que marca a entrada da plataforma de streaming no universo criativo dos músicos. Numa masterclass, há algumas semanas, um produtor e uma artista, cada um num canto diferente dos Estados Unidos, mostraram os recursos do Soundtrap, uma espécie de estúdio virtual. Através da tecnologia do software, ambos acessavam a mesma tela e podiam manipular batidas e equalizações em tempo real. A conversa entre eles se dava por uma câmera que vem inserida no próprio programa.
Numa era de crescentes colaborações e composições (sobretudo do pop) que levam a assinatura de diversas pessoas ao mesmo tempo, a ideia de juntar compositores virtualmente para dar vida a novas canções tem um grande potencial de adesão.
Ainda pouco conhecido no Brasil, o Soundtrap é mais uma aposta do Spotify para aumentar a presença da empresa no ecossistema da música, como quando a plataforma apresentou o Canvas, o Merch e o Live Events, entre outras funcionalidades voltadas para artistas. O público-alvo inicial do Soundtrap são criadores e produtores em início de carreira ou que tenham dificuldades para acessar um estúdio profissional. "Queremos apoiar a criatividade. Por isso, o Soundtrap é um estúdio virtual fácil de usar para que o artista possa tirar uma ideia da cabeça e colocá-la em prática", diz um comunicado apresentado pela empresa na masterclass.
Visualmente, o software de criação do Spotify se parece com diversos outros programas que possibilitam que qualquer pessoa realize gravações de casa. Por dentro, a dinâmica também é semelhante, com funcionalidades que vão de uma biblioteca com milhares de sons, batidas e melodias pré-gravadas até a possibilidade de tocar instrumentos digitais. No entanto, segundo a empresa, um dos principais diferenciais do Soundtrap em relação a concorrentes do mercado é a possibilidade de profissionais em diferentes lugares do mundo realizarem gravações à distância em tempo real, como se todos estivessem reunidos presencialmente em um estúdio tradicional.
Com ênfase nesta funcionalidade, fica claro que um dos objetivos do Spotify com o programa é reforçar a cultura do feat, em que artistas participam das produções uns dos outros, uma estratégia que se tornou convenção na música pop dos últimos anos.
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"Não apenas a distribuição de músicas ficou mais acessível ao longo dos anos, mas também a composição, gravação e a produção destas faixas. E nós temos visto mais e mais pessoas criando as suas próprias músicas em casa e buscando colaborações com quem está longe fisicamente. Você não precisa mais pegar um avião para realizar uma gravação com um artista que você gosta", aponta o comunicado.
Podcasts nas escolas
Além de apostar na música, o Soundtrap está de olho nas pessoas que desejam produzir podcasts mas não têm conhecimentos técnicos avançados. É de fato possível gravar e editar vozes, criar trilhas sonoras e importar arquivos de áudios externos com alguma facilidade. Após os ajustes finais, dá para fazer o upload do podcast direto para o Spotify, sem a intermediação de uma distribuidora, como acontece normalmente.
Mas o maior foco do programa parece estar na disseminação do podcast dentro do universo educativo, em especial para professores, crianças e adolescentes. Em 2019, o Spotify criou o Soundtrap for Education, que vem ganhando salas de aulas ao redor do mundo e abrindo espaço para que o podcast seja uma ferramenta de ensino manipulada não apenas por professores, mas também por alunos, inclusive crianças.
"A ideia é capacitar estudantes e docentes para explorarem a gravação criativa de som em todas as disciplinas, seja qual for a idade ou nível de competência, quer os estudantes estejam a explorar formas de elevar as suas apresentações através da música, quer estejam colaborando com colegas na criação de canções ou gravando podcasts para partilhar conhecimentos sobre a matéria", diz um texto oficial de apresentação.
"Uma das vantagens práticas na sala de aula é que a professora tem acesso em um só lugar a todos os trabalhos dos alunos, sem precisar organizar pastas em um Google Drive ou Dropbox. Além disso, ela pode acompanhar como cada um está gravando, adicionar comentários e ajudá-los a desenvolver o trabalho", explicou diretora de bem-estar do consumidor do Spotify, Meredith Allen, em entrevista ao podcast The Buzz on Education.
Segundo a executiva, levar o áudio para o ambiente de ensino "dá aos professores e alunos a opção de se tornarem criadores de conteúdos, ao invés de apenas consumidores de conteúdo".
O Soundtrap não é gratuito, tem planos de assinatura que custam entre US$ 8 e US$ 14 por mês. Roda em todos os sistemas operacionais e pode ser utilizado através de computadores, tablets e celulares.
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