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Arrecadação mundial de direitos autorais musicais sobe 7,2% em 2021
Publicado em 27/10/2022

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Relatório Global de Arrecadação da Cisac mostra que América Latina foi única região com queda; entenda

De Paris* e Madri

A música mostrou enorme resiliência ano passado e, depois do tombo de 11,5% de 2020, teve um salto de 7,2% nos direitos autorais de execução pública em todo o mundo. Se o setor de shows e música ao vivo ainda patina para se recuperar e voltar a níveis pré-pandêmicos, o streaming contribuiu decisivamente para que a arrecadação alcançasse € 8,48 bilhões (ou R$ 45 bilhões pelo câmbio atual). Esse total já não está tão distante do recorde de € 8,94 bilhões de 2019, fazendo prever que, muito em breve, a indústria musical terá se recuperado dos efeitos da pandemia. Os números são da mais nova edição do Relatório Global de Arrecadação da Cisac (a Confederação das Sociedades de Autores e Compositores), divulgado nesta quinta-feira (27) em Paris.

Como também administra outros repertórios para além do musical — o que inclui audiovisual, artes visuais, dramaturgia e livros —, a Cisac divulgou ainda o conjunto total de arrecadação, e o resultado, novamente, é positivo. Com 5,8% de crescimento, a soma de todos os repertórios superou os € 9,6 bilhões, uma cifra que está 5,3% abaixo da registrada antes da Covid-19. 

Nas mais de 50 páginas, o documento detalha dados e ações que as diferentes sociedades de autores do mundo todo vêm tomando para acelerar a recuperação e aumentar o nível de arrecadação dos seus associados, além de destacar estudos de caso de sociedades em países tão variados como Índia, Japão, Canadá, Bulgária, Chile e África do Sul. Em comum, iniciativas para estimular o mercado e ajudar os associados nos momentos mais duros da pandemia, além de muito investimento em tecnologia para gerir metadados e melhorar a identificação e a arrecadação

Na parte dedicada à música, o relatório mostra em detalhes como cada fonte pagadora contribuiu para o salto de 7,2% no total arrecadado em 2021. Como esperado, música ao vivo e shows/festivais continuam longe dos níveis pré-pandêmicos: com só 0,1% de expansão em 2021, o total arrecadado por esse segmento chegou a € 1,49 bilhão. O valor é 73% menor que o de 2019 e não chega perto nem sequer do € 1,9 bilhão gerado em 2007, portanto 15 anos atrás.

Isso foi compensado pelo excelente desempenho da categoria digital, na qual se insere o streaming. Em só um ano, o salto foi de 27,5%, superando pela primeira vez os € 3 bilhões de arrecadação. Com esse montante, o streaming já encosta na TV e no rádio, historicamente líderes da gestão coletiva musical mundial e que, em 2021, somaram € 3,194 bilhões, com ligeira queda de 1,8% em relação a 2020. 

De fato, como destaca a Cisac, em 29 países do mundo o digital já se tornou a principal fonte de receitas para a música, sendo que em lugares como México (69,5% do total arrecadado), Suécia (58,7%), Austrália (57,9%) e China (54,3%) já superou bastante a metade de tudo o que foi arrecadado em 2021. 

Os números excelentes do streaming, porém, não só trazem luzes, mas também algumas pequenas sombras. Num artigo publicado logo nas páginas iniciais do relatório, o analista David Sidebottom, da Futuresource Consulting, do Reino Unido, explica que os problemas verificados este ano por algumas plataformas — sobretudo de vídeo — para expandir sua base de assinantes tornam algo nebuloso o panorama no médio prazo. 

"Gerou-se uma onda de incerteza no mercado de streaming", ele afirmou.

Mesmo assim, o mercado continua a apostar em crescimentos fortes no streaming de vídeo sob demanda, da ordem de 20% este ano, por exemplo. Já o streaming musical poderá crescer na ordem de dois dígitos anuais pelo menos até 2026, quando se espera que a "a base de assinantes supere um bilhão de pessoas no mundo", como descreveu o analista.

Isto se explica pela alta disputa entre os serviços já existentes e os que chegam ao mercado. Com preços de assinatura competitivos, melhores conteúdos e uma saudável concorrência, o mercado espera que haja uma compensação da perda de poder aquisitivo da classe média num mundo sob altas taxas de inflação, fenômeno que levou muitas pessoas a cancelarem assinaturas de serviços como Netflix recentemente.

Em outros artigos assinados, o presidente da Cisac, Björn Ulvaeus; o presidente do Conselho de Administração, Marcelo Castello Branco (também diretor-executivo da UBC); e o diretor-geral, Gadi Oron, destacaram não só a importância fundamental do digital mas também outros aspectos vitais para o mundo da gestão coletiva. 

"O streaming ainda precisa garantir uma remuneração justa aos autores", disse Ulvaeus, que pediu mais investimentos em metadados e na correta identificação dos compositores para assegurar seu quinhão na distribuição dos ganhos. "São prioridades absolutas. Sem bons metadados, não é possível ter um setor criativo saudável, no qual os criadores recebam uma remuneração justa."

Castello Branco, por sua vez, se somou a outro debate que ganha cada vez mais força no mundo musical: a necessidade de aumentar os preços (baixos) das assinaturas do streaming, o que permitiria melhores remunerações aos titulares de direitos autorais das obras veiculadas nessas plataformas. Ele também pediu cuidado na gestão dos dados relacionados às obras e fonogramas:

"A gestão de dados é um dos aspectos críticos. O processamento de bilhões de transações do mercado de streaming requer um investimento sem precedentes por parte das sociedades. Para servir aos criadores conforme a nossa missão, devemos contar com identificadores robustos, multiplataforma, para o conjunto da indústria. E com um sistema coletivo para gestioná-los. A Cisac está profundamente comprometida com esse esforço, utilizando suas ferramentas e sua rede mundial."

Tudo isso, claro, ressalta a óbvia e crescente importância do digital, como descreveu Oron: 

"Os criadores vieram aumentar os direitos digitais em sólidos 28% em 2021. Mas o potencial de crescimento (do streaming e outras fontes digitais) é, sem dúvida, muito maior. O setor digital continua a representar só 33% dos direitos arrecadados por autores, o que constitui menos da metade do percentual que o setor representa para a indústria fonográfica. Devemos dar mais valor às obras dos criadores no mercado digital e necessitamos um ecossistema mais justo."

AMÉRICA LATINA EM BAIXA

Apesar do panorama predominantemente promissor, os números da América Latina destoaram dos do resto do mundo. Enquanto Europa (10,4% de crescimento anual na arrecadação de direitos de gestão coletiva musical), Canadá & EUA (+4,6%), Ásia-Pacífico (+4%) e África (+17,5%) puxaram a expansão mundial, a região que engloba importantes mercados como Brasil, México, Argentina e Colômbia viu uma queda de 2,1%. 

A razão da redução foi a enorme flutuação cambial em países como Brasil e Argentina. No caso do Brasil, por exemplo, a arrecadação em reais, pelas contas da Cisac, foi 1,8% menor que em 2020. Já a arrecadação em dólares, devido à desvalorização do real, foi 12,9% menor. No caso da Argentina, o derretimento do peso mostrou um descompasso ainda maior: 8,1% de queda em moeda local e 27,5% em dólares. Entre os grandes mercados, só o México cresceu (7,4% em pesos e 9,6% em dólares). 

Ainda como resultado dessa desvalorização cambial, o Brasil caiu mais posições no ranking dos maiores mercados para a gestão coletiva musical. Em 2021, ficamos em 15º lugar, atrás de Suíça, Suécia, Coreia do Sul, Austrália, Canadá, Itália, Alemanha, Reino Unidos, Japão, França e Estados Unidos. Em 2020, o país já havia saído do top 10. Em 2018, o país havia chegado à sétima posição

Como no resto do mundo, a categoria de shows/festivais e música ao vivo na América Latina sofreu em 2021, com um tombo de 44%. Só o Brasil amargou uma queda livre de 52,3% em 2021, depois do derretimento de 42,1% de 2020.

"Uma pesquisa realizada pela sociedade musical UBC com seus membros revelou que metade dos músicos do país perderam todas as suas fontes de receitas devido às restrições sanitárias, e metade deles teve que procurar outra atividade profissional", destacou o relatório da Cisac, que completou: "Contudo, prevê-se uma forte recuperação (dos shows e festivais) em 2022. Novas turnês nacionais e grandes festivais, como Rock in Rio e Lollapalooza, além de uma série de eventos tiveram suas entradas esgotadas."

Já o digital, com alta de 22,2% na região, ajudou a salvar parcialmente o resultado anual da América Latina, somando € 141 milhões. E, com crescimento modesto mas consistente de 2,7%, totalizando € 166 milhões arrecadados, TV e rádio ainda continuam a liderar como fontes pagadoras na região — pelo menos até o próximo relatório.

LEIA MAIS: O relatório completo em espanhol e também em inglês

LEIA MAIS: Compare os resultados com os do Relatório Global do ano passado

*Com informações da Cisac


 

 



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