Instagram Feed

ubcmusica

No

cias

Notícias

Top 10 no streaming, festival, sucesso no interior: o rap toma o mainstream
Publicado em 03/02/2023

Megaevento no Rio põe em evidência um gênero que avança sem parar e atrai novos talentos que fazem a cena acontecer

Por Roberto de Oliveira, de Belford Roxo (RJ)

Filipe Ret, uma das principais atrações do REP Festival, no Rio. Divulgação

A história do rap você já deve conhecer, pois ele não é tão novinho assim: lá pelos anos 1970, nos bairros periféricos de Nova Iorque, nos Estados Unidos, a cultura hip hop surgiu como um remédio contra o abandono do Estado aos jovens negros e latinos que ali residiam. Em um ambiente como aquele, a violência tomou conta e acabou predominando em espaços precarizados. Foi aí que a junção de elementos artísticos como dança (break), música (rap) e artes plásticas (grafite) possibilitou que milhares de jovens mostrassem para a sociedade que tinham algo a oferecer.

O rap e o hip hop trazem autoestima a jovens marginalizados no mundo todo, e aqui não é diferente. Tornado potência no mercado fonográfico, o estilo ocupa o centro do REP Festival, maior evento dedicado ao rap no país, cuja segunda edição estreia semana que vem no Rio de Janeiro. Atrações como Matuê, L7nnon e Filipe Ret ocuparão os palcos distribuídos ao longo do enorme espaço da chamada Cidade do Rap, na Zona Oeste do Rio, com atrações como tirolesa, roda gigante, praças de alimentação e tudo mais que evoca a grandiosidade do Rock in Rio.

Alguns dos nomes que passarão por lá são os mesmos que vêm pipocando nas playlists do streaming com cada vez maior frequência. Desde 2018, segundo a pesquisa da Nielsen Music, o rap já superou o rock nos Estados Unidos, tornando-se o gênero mais ouvido por lá Em 2020, o monitor da indústria MRC Data, em parceria com a Billboard, mostrou que o gênero R&B/hip-hop representou 30,7% de todas as reproduções em streamming de áudio on-demand naquele país. Já por aqui, 10 canções de rap alcançaram no mesmo ano o Top 50 das plataformas de streaming no país, segundo a Pró-Música. A chegada ao mainstream não tem volta.

Leo Morel, pesquisador e analista de mercado, coassinou com Vitor Gonzaga dos Santos, há alguns meses, um estudo no qual mostrou que, em um ano, o rap subiu de um para três representantes no TOP 10 do Spotfy (janeiro de 2021/janeiro de 2022), um crescimento de 200%. Já no YouTube, três entre os 10 vídeos musicais mais vistos eram de funk ou rap no mesmo período.

Mesmo sabendo que o sertanejo ainda é incontestavelmente o gênero hegemônico no mercado, o rap segue firme em sua ascensão, beneficiando-se enormemente de plataformas como o TikTok para aumentar a popularidade de hits e artistas. Um fenômeno que, nem de longe, está concentrado nas metrópoles. Morel diz que o estilo acaba indo também para áreas não urbanas por meio do aplicativo.

“Esse usuário que conhece o rap pelo TikTok vai buscar mais informações sobre o artista em plataformas como o Spotfy, por exemplo”, explica o pesquisador.

O mercado musical de hoje é muito diferente de quando os Racionais MCs, por exemplo, venderam de forma independente mais de um milhão e meio de cópias do disco “Sobrevivendo no Inferno” (1997). O feito quase irrepetível naquele tempo agora se replica com frequência no streaming. Nos Estados Unidos, quase um terço do streaming já seria dominado pelo rap; no Reino Unido, 20%, segundo a BPI, representante da indústria fonográfica no país. Embora os números variem de território para território, é justo pensar em uma cifra global de dois dígitos de participação do rap e seus subgêneros no bolo de quase US$ 30 bilhões que a música gravada gerou em 2021, segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI).

Dois jovens artistas que participaram do projeto Crias da Música, parceria da Sony Music Brasil com o Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) e a Escola de Música e Negócios da PUC-Rio para qualificar pessoas interessadas em trabalhar no setor da música, já perceberam as oportunidades e as responsabilidades que o novo mercado abre para o rap. O casal Evy e Detona Cry, ambos de 21 anos e crias de favelas cariocas,  montaram um home estúdio e uma equipe para se inserir e se manter no mercado, amplamente digital e competitivo.

Também dedicados à fotografia e a outras formas de expressão da cultura hip hop, eles têm produzido cada vez mais faixas ao lado de uma equipe formada por produtores, assessores jurídicos e de imagem e outros profissionais — toda uma cadeia de valor que se expande ao redor do rap. Na próxima semana, terão a oportunidade de mostrar sua produção para o público altamente interessado no gênero que deverá lotar o REP Festival.

Evy, parceira do namorado Detona Cry em projeto de rap: profissionalismo e cadeia de valor ampliada. Divulgação

Gabriel Marinho, gerente de marketing estratégico para catálogo da Sony Music, atribui essa chegada forte do rap a um jeito diferenciado de se fazer as coisas.

“O rap veio tomar um lugar de protagonismo, e o jeito de fazer por si mesmo do hip hop explica o porquê dessa evidência”, afirma.

Fundador do selo independente Mondé Musical e também representante do movimento Black Music Business, que questiona a representatividade negra em cargos de liderança no mercado musical, Marinho diz que o momento é propício para o rap e o REP Festival, do qual a Sony é parceira, pretende ser um importante hub comercial, abrindo espaço para os negócios ao redor do gênero.

“O desafio agora é saber qual vai ser o legado que o rap vai deixar, pois as coisas andam muito rápido, e a gente nem sempre consegue acompanhar. O trap por exemplo, já existe nos Estados Unidos há 20 anos e, hoje, está na moda. Mas já tem o drill chegando”, diz, referindo-se ao subgênero do rap com letras que versam sobre drogas, sexo e a vida muitas vezes violenta das ruas, uma evocação do underground que, mesmo com a tomada do mainstream pelo rap, continua a ser a base do movimento.

LEIA MAIS: 10 programas de rádio para emplacar sua música: rap

LEIA MAIS: Projeto leva música e esperança a jovens em conflito com a lei no Rio

LEIA MAIS: Cena R&B brasileira vive momento efervescente


 

 



Voltar