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Aos 73 anos, um novo momento de sucesso para Michael Sullivan
Publicado em 19/07/2023

"Midas" que compôs hits inesquecíveis do pop brasileiro é tema de documentário, lança disco de inéditas e emplaca canções em novelas

Por Kamille Viola, do Rio

Foto: MangoLab

Ele é autor de alguns dos maiores sucessos da música brasileira, de “Um Dia de Domingo”, gravado por Gal Costa e Tim Maia, a “Deslizes”, de Fagner, passando por “Arco-Íris”, cantada por Xuxa, e “Estranha Loucura”, com Alcione. Todas elas foram compostas e lançadas nos anos 1980. Mas agora, aos 73 anos, Michael Sullivan está em um momento movimentado de sua carreira novamente: lançou em 2023 seu primeiro disco de inéditas em 28 anos; se apresenta no festival Doce Maravilha, na Marina da Glória, no Rio, em 13 de agosto, e, em breve, estará no ar uma série documental da Globoplay sobre ele e seu ex-parceiro musical Paulo Massadas, prevista para estrear até outubro

“Tem vários artistas e produtores dando depoimento: Guto Graça Mello, Xuxa. Ela veio aqui em casa e ficou um tempão falando. Até o Roberto Carlos! Ele me ligou no meu aniversário, ele sempre me liga. Aí eu ‘passei uma terceira’ e falei: ‘Roberto, meu presente seria se você falasse na série.’ E ele: ‘Tu és danado, hein (risos)? Eu não faço isso para ninguém, mas vou falar.’ Lindo, lindo”, comemora.

Sullivan também celebra o destaque de duas músicas suas em novelas: “Garota Nota 100”, parceria com Massadas e MC Marcinho; e “Amor Perfeito”, dele e de Massadas, com anteriores gravações de sucesso por Roberto Carlos (em 1986) e Babado Novo (em 2002). A primeira está em “Vai na Fé”. A segunda, em “Amor Perfeito”, em nova versão, nas vozes de Anavitória.

“As meninas estão tocando em todas as rádios. Entramos com dois clássicos em novela. Estou muito feliz”, festeja.

Não que essa sensação seja nova para ele. Sullivan, na verdade Ivanilton de Souza Lima, nasceu no Recife em 1950, e desde muito novinho descobriu seu talento para a música.  Começou a cantar na noite aos 14 anos. Aos 15 já participava de concursos de calouros. Após ganhar um prêmio, assinou contrato com a TV Jornal do Commercio e iniciou sua carreira profissional, nos programas da emissora. Aos 17, se mudou para o Rio de Janeiro, onde conheceu Hyldon, com quem compôs sua primeira canção, em 1965. Com ele, e também com o guitarrista Renato Piau e o saxofonista Tinho, formou a banda Os Nucleares.

Aos 19, passou a integrar o grupo Os Selvagens, e aos 21, o Renato e Seus Blue Caps, como cantor e guitarrista. Nesse período, a banda ganhou seis discos de ouro. Ele ainda integrava os Blue Caps quando lançou seu primeiro trabalho solo, que foi também seu primeiro grande sucesso: um compacto simples com a música “My Life” (o lado B trazia uma versão instrumental). Em inglês, a canção integrou a trilha da novela “O Casarão”, da Globo, e o compacto vendeu um milhão de cópias. Foi ali que surgiu o pseudônimo, já que as gravadoras na época preferiam os compositores estrangeiros. Ele lançaria ainda os álbuns solo “Um Mundo Melhor Pro Meu Filho” (1978) e “Michael Sullivan” (1979), e integraria a banda The Fevers entre 1980 e 1986.

Em 1978, Sullivan conheceu Paulo Massadas e sua carreira mudou: passou a compor para outros artistas e a produzir. Eles logo deram início à parceria que marcaria a história da música brasileira. Juntos, criaram mais de 700 canções e entraram para o “Livro Guinness dos Recordes” como a dupla de compositores com o maior número de discos nas paradas de sucesso no menor espaço de tempo. Tudo começou a mudar quando veio o primeiro hit, na década seguinte: “Me Dê Motivo”, gravada por Tim Maia no disco “O Descobridor dos Sete Mares” (1983).

Sullivan e Massadas passaram a emplacar sucesso atrás de sucesso, sendo gravados por grandes nomes. Gal Costa estourou com “Um Dia de Domingo”, dueto com Tim Maia, em 1985. Alcione, com “Nem Morta”, em 1985, e “Estranha Loucura”, em 1987. Joanna, com “Amanhã Talvez” e “Um Sonho a Dois”, em 1986. Sandra de Sá, com “Retratos e Canções” e “Joga Fora”, também em 1986. Fagner, com “Deslizes”, em 1987. Entre muitas outras músicas. Os números de vendas dos artistas que gravaram a dupla cresciam exponencialmente, dando força à ideia de que os dois tinham um “toque de Midas”: tudo que eles tocavam virava (disco de) ouro. Ou platina, diamante…

Tanta aceitação no meio musical, no entanto, não encontrava eco na crítica, que em geral não gostava dos compositores. O jornalista e crítico musical Mauro Ferreira era um deles.

“Eu comecei a publicar em 1987 e falava mal deles, porque era uma coisa muito de mercado. Havia uma escala industrial na produção”, lembra. “Mas hoje, mais equilibrado, mais maduro, entre aspas, você reflete, porque o tempo provou que aquelas músicas tinham força. Não dá para negar o talento da dupla.”

Ferreira recorda que, segundo relatos, com o bom desempenho das composições, a gravadora de ambos, RCA (que depois viraria BMG) começou a pressionar artistas para gravarem Sullivan e Massadas. Alguns, como Alceu Valença e a dupla Sá & Guarabyra, chegaram a reclamar disso publicamente (e a se negar a registrar músicas dos dois). Isso só alimentava o ranço de parte da imprensa. O crítico pondera, no entanto, que hoje vê as coisas de outra forma. Afinal, era o jogo do mercado.

“A Marina Ghiaroni, que era da BMG, uma vez me falou: ‘Mauro, você acha que a gente pega os artistas pelo braço? Muitos, quando veem o sucesso dos outros, também pedem músicas deles.’ Tem esse outro lado também”, analisa.

Parceiro musical de Michael Sullivan em diversas canções, Celso Fonseca dá uma pista sobre a origem de tantos sucessos. Os dois se aproximaram em 2012 e começaram a compor juntos. Em dois dias, fizeram umas dez faixas.

“Ele tem uma capacidade de compor melodias que é uma coisa incrível”, derrete-se. “Tem um talento absurdo para fazer melodias atemporais, que grudam, e você não consegue deixar de se envolver com elas. São melodias que ficam eternamente. Essas são as grandes canções, para mim. E o Sullivan tem essa capacidade, quase mediúnica. A música vem através dele, vai saindo.”

Cinco das parcerias de Sullivan e Fonseca foram parar no álbum “Ivanilton”, lançado por Sullivan em março. Produzido por Alice Caymmi, o disco tem onze faixas inéditas e traz as participações de artistas de diversas gerações e estilos: Almério, Ana Carolina, Fagner, Filipe Catto, Julio Secchin, Roberta Campos e própria Alice. Além disso, Sullivan assina ainda composições ao lado de Marília Bessy e Juliano Holanda. Se a busca por frescor fica evidente na escolha dos nomes que contribuíram para o trabalho, o título do disco e sua capa, que traz o rosto do artista refletido em um espelho, demonstram o desejo do cantor e compositor de revelar um outro lado. Ali, ele se despe do hitmaker.

“‘Ivanilton’ é o Sullivan sem a preocupação mercadológica”, descreve Mauro Ferreira.

A parceria de ouro com Paulo Massadas chegou ao fim em 1994. Mas Michael Sullivan seguiu emplacando sucessos, como “Abandonada”, com Paulo Sérgio Valle, na voz de Fafá de Belém, em 1996, e “Dois”, parceria dele com Paulo Ricardo, gravada pelo ex-RPM, de 1997. “Quando todo mundo achava que o Sullivan já estava por baixo, ele vem com dois grandes hits. Então você vê que o cara é bom, ele sobreviveu àquela decada”, elogia o crítico musical.

Celso Fonseca reforça:

“Passaram-se 40 anos, e as pessoas continuam ouvindo e regravando as músicas deles, falando sobre isso. São compositores populares, que falam diretamente ao coração do povo, das pessoas. Eles estão na linhagem dos grandes compositores brasileiros.”

 

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