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Traia Véia: o que há por trás do sucesso meteórico desta banda sertaneja
Publicado em 21/08/2023

Eles são quatro, e não dois; cantam modões dos anos 90 a cappella e vêm de Guarulhos: entenda por que são diferentes e aonde querem chegar

Por Laura Miranda, de Campo Grande

Uma banda de música sertaneja (isso mesmo, banda, e não dupla) com pouco mais de um ano de estrada já caminha para 2 milhões de ouvintes mensais no Spotify, acumula vídeos (como o da canção “Eu Não Previ”, parceria com Murilo Huff) com mais de 10 milhões de visualizações no YouTube em só um mês de execução e, principalmente, multiplica seus fãs nas ruas. Não é muito normal. Mas nada o é para o Traia Véia, um quarteto natural da Grande São Paulo que, de fora do eixo principal do sertanejo - Goiânia/Campo Grande -, vai trilhando um caminho especial.

Tudo começou quando Edu Araújo, Dario Rodrigues, Vini Gouvea e Pedro Cordeiro uniram forças em um projeto despretensioso. Todos já tinham carreiras separadas no sertanejo, onde militavam na “zona de acesso”. Começaram a se encontrar nas casas noturnas de Guarulhos (sua cidade de origem) e outras da área metropolitana de São Paulo e arriscaram, numa festa, uma fusão das suas vozes tão fortes individualmente. Deu tão certo que, em alguns meses, saltaram de umas poucas para mais de 40 apresentações mensais.

O técnico de som “Duzão” foi quem reparou que a combinação das vozes remetia ao grupo Roupa Nova, cuja fusão vocal era notável e harmoniosa. Essa peculiaridade deu à banda carioca inúmeros discos de ouro, platina e diamante ao longo de mais de 40 anos de carreira, consolidando-a como um marco do pop brasileiro. Uma inspiração para o Traia Véia. Inclusive para o nome do quarteto sertanejo, criado depois que Edu Araújo ouviu pela primeira vez a comparação: “se eles são o Roupa Nova, nós somos o Traia Véia”, brincou.

“Já vimos duplas, bandas e solos, mas um quarteto, com repertório que propõe nova roupagem aos modões, é uma identidade. Um conceito. Ainda não entendemos tamanha proporção, em só um ano de existência, mas Deus é perfeito, está preparando o caminho para nós”, disse à UBC o acordeonista Dario Rodrigues.

Sem uma estrutura profissional no iinício, a banda viu como os próprios fãs iam publicando vídeos dos seus shows em plataformas como YouTube e Instagram. Não demorou até capturarem a atenção de empresários do ramo. Marco Aurélio Bernardino e Rodrigo Redoshi identificaram o potencial bruto dos músicos e lhes fizeram o convite para uma parceria. O resultado foi um impulso para o grupo, culminando em 2023 com a gravação do primeiro DVD em Goiânia.

O projeto já nasceu com participações especiais de gigantes da música sertaneja, como o já mencionado Huff, além de Luiza Martins, Lauana Prado e Fred e Fabrício. E veio acompanhado de um EP, com 13 faixas, oito releituras de sucessos já conhecidos em versão modão e cinco composições inéditas. Dario antecipa que novas músicas serão lançadas nos próximos meses, como parte do planejamento. Embora os quatro componentes sejam compositores, a primeira gravação não tem obras próprias.

VEJA MAIS: O clipe de “Eu Não Previ”, com Murilo Huff

UM CONCEITO DIFERENTE NO SERTANEJO

Vozes a cappella, quatro protagonistas no palco, canções sertanejas da década de 90 com arranjos modernos, chapéus e rock nacional. Esta mistura de escolhas é realmente rara num gênero, o sertanejo, tão marcado pelas duplas, pelos artistas individuais e, recentemente, pelas fusões com outros ritmos estourados no momento, como funk, forró, arroxa, piseiro…

O fato de serem de Guarulhos poderia ser um problema, já que os mantém, em tese, afastados dos grandes centros produtores do gênero. Para contornar isso, decidiu-se que a gravação do DVD seria em Goiânia. Uma maneira perfeita para apresentar o Traia à “sociedade” sertaneja.

“Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná são estados que já consomem o estilo e lançam grandes talentos, todos os dias. É outro desafio (uma banda de) uma cidade sem histórico se arriscar com um produto tão diferente”, afirma Dario.

Ao ver o humor e o estilo despojado que marcam as apresentações do Traia, não dá para deixar de pensar em outra banda que saiu de Guarulhos para conquistar o país nos anos 1990. O Mamonas Assassinas tinha uma mistura única de rock, pop e humor irreverente que, de alguma forma, diz muito sobre o lugar de onde vieram. Lendários, já ganharam homenagem do Traia Véia, que regravou ‘Bois Don’t Cry’ no EP de estreia.

“A música levou o público ao delírio. Na época em que foi gravada originalmente, já recordava os arranjos e instrumentos da música sertaneja raiz”, afirmou à UBC Vini, cantor do grupo e também produtor.

QUEM É CADA UM DELES

Carlos Eduardo da Silva Araújo, o Edu, atual vocalista e violonista do Traia Véia, começou carreira em 2010 como segundeiro da dupla Marcos e Edu, que terminou em 2012. A partir daí, seguiu carreira solo, como Edu Araújo. Atuou em todo o circuito noturno de São Paulo, chegando a se apresentar em Itália e Portugal em 2018.

“No período de reestruturação depois da pandemia, criei o projeto chamado Modão do Edu e convidei a dupla Vini e Pedrinho, além do Dario, que até então era músico da sua banda, e alguns cantores amigos”, lembrou.

O projeto durou pouco tempo, mas foi importante para aproximar ainda mais os músicos.

Vini Gouvea, nascido em São Sebastião do Paraíso (MG), começou na música aos 17 anos, tocando na banda de baile Power Brasil, que depois virou Acquariu’s Band. Em seguida, compôs a dupla Vinicius e Thiago, seguida por outra, Markus e Yago (Vini):

“Com 22 anos, me mudei pra São Paulo, onde atuei como músico e diretor musical, por sete anos, de uma dupla sertaneja. Depois de três anos de freelancers com várias duplas, conheci o Pedrinho, e formamos a dupla Vini e Pedrinho. O Edu montou um projeto, e começamos a brincadeira do Traia Véia, que se tornou o sonho da nossa vida.”

Pedrinho iniciou carreira com 14 anos de idade, ainda época do extinto Orkut. Ali procurou um parceiro, com quem cantou por 12 anos nos bares de São Paulo.

“Em 2018, formei a dupla com Vini, tocamos na noite por quatro anos. Em 2022, de maneira despretensiosa, começamos o projeto com Dario e Edu. Parece que faz um tempão, mas o Traia Véia tem pouco mais de um ano. Temos um caminho de grandes surpresas a percorrer.”

O acordeonista Dario Rodrigues também tem bagagem expressiva em sua carreira, algo que, segundo ele, “foi escola para estarem preparados para o projeto Traia Véia.” Com passagens por bandas gospel, ele também já tocou com a mexicana Dulce María, atriz e cantora conhecida no Brasil pela telenovela “Rebelde”, da qual foi coprotagonista.

“Tudo (o que fiz) foi um estágio de grande valor para o projeto de maior alegria, o Traia Véia”, ele celebra.

OUÇA MAIS: As canções do primeiro EP do quarteto

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