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Deezer e Universal lançam novo modelo de royalties no streaming
Publicado em 06/09/2023

Sistema chamado de 'artist-centric' pode multiplicar por 4 o valor recebido por stream, no caso de 'artistas profissionais'; entenda

De Londres*

A Deezer se tornou nesta quarta-feira (6) a primeira plataforma a aderir à proposta da Universal Music de um novo modelo de distribuição de royalties no streaming. Chamado pelo diretor-executivo e presidente da Universal, Lucian Grainge, de “artist-centric” (ou centrado no artista), o modelo, segundo uma reportagem hoje no diário Financial Times, tem o potencial de “aumentar os ganhos dos artistas profissionais em 10%”. Vai começar a valer em outubro, na França, com replicação em outros mercados na virada de 2024.

Atualmente, como já mostramos em diferentes ocasiões aqui no site, a esmagadora maioria das plataformas de streaming de áudio adota o modelo chamado market-centric, ou centrado no mercado. Nele, tudo o que uma determinada plataforma gera num certo período é somado, e a distribuição é pro-rata entre todos, feita em função de quem tem mais streams. Os críticos desse modelo alegam que ele beneficia só os maiores do mainstream. 

Outro modelo que já foi aventado como uma alternativa, por privilegiar os artistas com menos streams, seria o user-centric, aquele centrado nas audições específicas de um determinado assinante da plataforma. Por essa fórmula, o dinheiro da assinatura de uma pessoa iria prioritariamente para aqueles artistas que ela escutasse, o que poderia beneficiar artistas do midstream e do underground, com poucos, porém fiéis, ouvintes.

Já o modelo “artist-centric”, grosso modo, é um meio-termo entre os dois sistemas anteriores. Mantém-se o market centric como base, mas os “artistas profissionais” — definição para aqueles que, segundo a Deezer e a Universal, têm um mínimo de mil streams por mês e 500 ouvintes únicos — passarão, a partir de outubro, a receber um “impulso em dobro” no seu pagamento de direitos. Ao calcularem-se os seus pagamentos de royalties, os streams das suas músicas terão o dobro do peso em comparação com os streams de artistas “não profissionais”.

Outro “impulso em dobro" que o acordo prevê — novamente, dobrando o valor devido ao artista — seria para as faixas que os fãs ativamente buscarem para tocar. Como os dois benefícios de impulsionamento no pagamento poderão ser acumuláveis, os artistas populares cujos fãs buscarem canções receberão quatro vezes mais royalties por stream do que os demais. 

Esta, segundo a plataforma e a gravadora, é uma maneira de driblar a influência do algoritmo de recomendação na distribuição, dando maior peso aos artistas que têm uma base de fãs engajada o suficiente para procurar ativamente suas músicas favoritas no mecanismo de busca da Deezer. 

Paralelamente, uma boa novidade do acordo foi o anúncio de que a Deezer desmonetizará as faixas de som ambiente não artístico, que vêm se tornando uma dor de cabeça para os atores mais relevantes do mercado musical. É que sons “zens” de relaxamento, ruído de cachoeira, sons “da floresta” e coisas similares, com milhares de reproduções, entram no bolo total da distribuição de royalties, tirando valor de quem produz música de verdade.

Como parte desse novo modelo centrado no artista, a Deezer pretende aplicar o que chama de “política de fornecedor mais rigorosa”, que inclui etapas “para limitar o conteúdo de ruído não relacionado ao artista”. Em outras palavras, a Deezer limitará o upload de certas músicas que não sejam consideradas artísticas.

A Deezer observa que “o tamanho do catálogo disponível em plataformas digitais explodiu nos últimos anos” e diz que seu próprio catálogo cresceu de 90 milhões para mais de 200 milhões de peças de conteúdo somente nos últimos dois anos.

Em meio ao aumento das ferramentas generativas de IA e de um cenário crescente de distribuição de música digital, produz-se e lança-se mais música gravada do que em qualquer outro momento da história. Como muitos dos atuais 112 mil uploads diários feitas às plataformas, segundo a consultoria Luminate, é de ruído branco, a decisão da plataforma de streaming francesa de não pagar royalties a faixas assim poderia contribuir para corrigir distorções. 

Além disso, como parte do anúncio de hoje, a Deezer também se comprometeu a combater a fraude de streaming, “continuando a promover um sistema proprietário de detecção de fraude atualizado e mais rigoroso, removendo incentivos para maus players e protegendo os royalties de streaming para os artistas.” A Deezer afirma que identificou aproximadamente 7% dos streams como fraudulentos em 2022

Esta promessa segue a estratégia da Deezer definida em junho para “eliminar conteúdo ilegal e fraudulento” em sua plataforma.

“Esta é a mudança mais ambiciosa no modelo económico desde a criação do streaming de música. Uma mudança que apoiará a criação de conteúdos de alta qualidade nos próximos anos. Na Deezer, sempre colocamos a música em primeiro lugar, proporcionando uma experiência de alta qualidade aos fãs e defendendo a justiça na indústria. Estamos agora abrançando uma mudança necessária, para refletir melhor o valor de cada conteúdo e eliminar todos os incentivos errados, para proteger e apoiar os artistas”, diz Jeronimo Folgueira, diretor-executivo da Deezer. 

Pela Universal, Michael Nash, vice-presidente executivo e responsável pelo setor digital do megaconglomerado musical, afirma que o conjunto de medidas previstas no acordo com a Deezer reduz as fraudes e as distorções nos pagamentos.

“O objetivo do modelo 'artist-centric' é mitigar dinâmicas que correm o risco de afogar a música num mar de ruído e garantir que apoiamos e recompensamos melhor os artistas em todas as fases das suas carreiras, quer tenham 1000 fãs, 100 mil ou 100 milhões. Com esta abordagem multifacetada, a música de artistas que atraem e envolvem seus fãs receberá uma ponderação que reconhece o seu valor", explicou, acrescentando que análises do impacto das mudanças serão feitas, de modo a ir adaptando e ajustando o modelo, se for o caso.

Atualmente, só a Deezer (com o novo 'artist-centric') e o SoundCloud (user-centric) usam modelos diferentes ao market centric, que é adotado por todas as maiores do mercado, entre elas Spotify, Apple Music, Amazon Music, Tidal e YouTube Music. Não há notícias sobre eventuais planos destas outras plataformas por uma mudança de modelo no curto prazo, apesar dos constantes clamores de titulares como compositores, editores e intérpretes por uma distribuição mais justa do dinheiro do streaming.

*Com informações do Financial Times e do portal Music Business Worldwide

 

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