Chega aos cinemas a trajetória da dupla de funk que marcou época e terminou abruptamente, com a trágica morte de Claudinho
Por Kamille Viola, do Rio
Cena de 'Nosso Sonho': história da trajetória de sucesso de Claudinho & Buchecha. Foto: Angélica Goudinho
Desde ontem (21) nos cinemas, a história de dois nomes essenciais do funk já vem acumulando uma cascata de reações emocionadas nas redes, fazendo antever um sucesso de bilheteria. Dirigido por Eduardo Albergaria, o aguardado longa “Nosso Sonho” acompanha a amizade de Cláudio Rodrigues de Mattos (Claudinho) e Claucirlei Jovêncio de Sousa (Buchecha), desde a infância pobre dos dois em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, até sua transformação em dupla estourada nacionalmente.
A história é narrada por Buchecha (vivido por Juan Paiva na vida adulta), já que, como se sabe, Claudinho (interpretado por Lucas Penteado na segunda fase do filme) morreu em um acidente de carro, aos 26 anos, em 13 de julho de 2002 — colocando um ponto final trágico à trajetória comum dos dois. Na cinebiografia, o público descobre, por exemplo, que foi Claudinho quem sonhou com a fama e convenceu o amigo de que deveriam participar de um concurso, vencido por eles com o “Rap do Salgueiro”, que se tornaria um hit.
VEJA MAIS: O trailer oficial do longa
Buchecha lembra que, a princípio, encarou tudo como uma brincadeira.
“Eu morava na casa da minha tia quando ele inscreveu a gente num festival de rap e veio com essa onda de formar a dupla. Tudo ideia do Claudinho”, recorda em entrevista à Veja Rio. “E ele falava: ‘Nós vamos fazer sucesso e tal’. Eu até dizia que ele era doidinho. Eu vejo ele como um profeta, que de fato viu se cumprirem todas as profecias, tudo aquilo que saía da boca dele, da alma dele”, analisa.
Na história, Beto (apelido familiar de Buchecha) vive um namoro com Rosana (Lellê), em meio a uma relação difícil com o pai (o perturbado Souza, interpretado por Nando Cunha) e à preocupação em ajudar a mãe, Dona Etelma (Tatiana Tiburcio). Querendo “tomar um rumo na vida”, ele trabalha como office-boy e reluta em abraçar a vida artística. O amigo Claudinho, enquanto isso, o puxa para a música, paixão que Buchecha, na verdade, já tinha desde menino, quando admirava o pai cantando e tocando violão. Aos poucos, as coisas vão dando certo, e o sucesso vai se tornando uma realidade cada vez mais palpável.
O funkeiro conta que cada conquista que a dupla ia obtendo na carreira mexia mais com ele.
“Conhecer a Xuxa, participar do programa dela — que era a nossa rainha a vida toda e continua sendo a minha —, Faustão, fazer sucesso, ter as nossas músicas regravadas e cantadas por grandes ídolos da MPB... Coisas que eu nunca imaginei”, admite. “Eu arregalava os olhos e falava: ‘Caramba, isso está acontecendo!’. E o Claudinho já levava com menos seriedade, parecia que para ele era muito mais natural”, explica Buchecha.
O longa também recria os bastidores da composição das músicas (em geral a cargo de Buchecha), gravações e apresentações da dupla. É a deixa para desfilar sucessos como “Nosso Sonho”, “Rap do Salgueiro” e “Fico Assim Sem Você”, cantadas por Juan Paiva e Lucas Penteado, com direito a figurinos fiéis aos usados pelos dois e as dancinhas marcantes criadas por eles.
“O nosso apelido era ‘os bons-moços do funk’. Eu e o Claudinho conseguimos quebrar os tabus do preconceito que havia contra o funk. Muito pela forma positiva das nossas aparições”, lembra ele.
Claudinho & Buchecha juntos: dupla era conhecida como 'os bons-moços do funk'. Foto: reprodução
O filme traz ainda Vinicius “Boca de 09” e Gustavo Coelho, que fazem Claudinho e Buchecha na infância; Clara Moneke, como Vanessa, namorada e depois esposa de Claudinho; Flávia Souza, como Tia Natalina, que criou Buchecha durante um período da sua vida; e Reinaldo Júnior, como Duarte, primo do cantor, além de contar participações especiais de Antonio Pitanga, como Seu Américo, Isabela Garcia, como Dona Judite, Negão da BL, como um DJ do baile, e FP do Trem Bala e Gabriel do Borel, como a dupla Cidinho e Doca.
Quase trinta anos depois da explosão nacional, Buchecha ainda se surpreende com os rumos que a carreira da dupla tomou. O filme sobre a trajetória deles é mais uma dessas conquistas inesperadas.
“Foi um passo muito grande, são poucos os artistas que podem usufruir de ter um longa em sua homenagem. E eu tenho esse privilégio em vida”, analisa. “Queria muito que o Claudinho estivesse aqui neste momento, porque ele foi o grande responsável pela dupla, então seria muito justo. É uma pena não tê-lo aqui, mas eu tenho certeza de que ele está no céu, vibrando também com tudo isso. É uma história muito bonita, que vai emocionar as pessoas.”
LEIA MAIS: Em um ano, funk e rap crescem 200% no Top 10 do Spotify
LEIA MAIS: Quem são Os Chapas, a inesperada dupla de produtores que conquistou Anitta
LEIA MAIS: Onda de samples sem licença: problema que exige a ação de todos