Parceria de uma agência da ONU com a fundação de conscientização criada por Björn Ulvaeus, do ABBA, oferecerá capacitação para músicos
De São Paulo
Está sendo lançada nesta sexta-feira (16), em Genebra, na Suíça, uma iniciativa destinada a espalhar conhecimento entre profissionais da música sobre direitos de propriedade intelectual e o próprio funcionamento da indústria. A nova plataforma, chamada CLIP (sigla em inglês para Criadores Aprendem sobre Propriedade Intelectual), chega através de uma parceria da agência das Nações Unidas para a Propriedade Intelectual (Wipo) com a Music Rights Awareness Foundation (fundação para a conscientização sobre os direitos musicais, em tradução livre). E oferecerá vídeos educativos, bem editados, em linguagem simples e seis idiomas, a partir do início de 2024.
Criada pelo lendário compositor, músico e cantor Björn Ulvaeus, do ABBA, em associação com os produtores Niclas Molinder e Max Martin, a fundação existe desde 2016 e vem apostando em diferentes iniciativas de valorização dos direitos autorais.
Embora a música seja o foco inicial do CLIP — com aulas vão de um mergulho inicial nas estruturas da indústria musical a gravação e composição, passando por direitos e licenciamentos, distribuição e marketing e muitos outros temas —, futuramente outras áreas de criação artística poderão ser contempladas. A ideia da Wipo — que já oferece conteúdos sobre propriedade intelectual a um público especializado (geralmente, do universo jurídico) através da sua iniciativa Wipo For Creators — é popularizar e tornar mais palatáveis informações que impactam a vida de milhões de criadores.
“Criadores de todo o mundo estão produzindo música, arte e outros conteúdos em níveis recordes, e a distribuição digital está aumentando. Mas os criadores muitas vezes carecem de informações críticas para gerir os seus direitos de propriedade intelectual e perdem o crédito e a recompensa adequados pelo seu trabalho, especialmente quando este é consumido online. É por isso que criamos o CLIP”, disse a entidade num release enviado à imprensa.
Niclas Molinder, Max Martin e Björn Ulvaeus, da Music Rights Awareness Foundation. Arquivo pessoal
A plataforma CLIP vai ser acessível através de smartphones, tendo como objetivo fornecer aos usuários de todo o mundo e de locais remotos informação sobre o ecossistema da indústria musical.
“No centro do CLIP está um compromisso permanente com os criadores. Ajudá-los a compreender as complexidades das indústrias criativas lhes permitirá maximizar o valor das suas criações", disse Björn Ulvaeus durante a apresentação em Genebra.
Niclas Molinder fez eco com ele e destacou a importância de conhecer as regras para poder melhorar os ganhos de compositores e outros profissionais da indústria musical:
“O CLIP dá a conhecer as diversas partes envolvidas na indústria musical e as suas funções, bem como os direitos e responsabilidades dos criadores. Este conhecimento é um pré-requisito para ser reconhecido e receber um pagamento justo pelo seu trabalho.”
Para a tarefa de traduzir um conteúdo tido como árido e longo a um público nem sempre habituado a desbravá-lo, foi escalado um time de criadores de várias partes do planeta, entre eles a compositora mineira Bibi, filiada à UBC e autora de hits para os maiores do pop nacional, como Anitta, Pabllo Vittar, Luísa Sonza e Wanessa.
“Entre os muitos conteúdos estão os elementos básicos de que todo criador na área da música deveria ter conhecimento: desde uma visão de percentuais até como funcionam a execução pública, como funcionam os direitos digitais… Os elaboradores do curso fizeram um trabalho incrível no roteiro, pesquisando sobre diferentes regras e legislações mundo afora para trazer um panorama com as regras mais gerais, que valem em diversas partes. O leque de conteúdo é grande, e quem está falando sobre eles, agora, somos nós, os criadores”, ela disse à UBC.
Bibi gravou sua parte, sobretudo em inglês, mas também com alguns trechos em português, em junho, em Los Angeles (EUA). Ela diz que conteúdos assim são importantes para os criadores musicais abandonarem uma certa lógica antiga que ainda persiste: a de que devem se preocupar apenas em fazer música, deixando burocracias e regras da indústria para outros:
“Infelizmente, dentro da nossa cultura atual, a gente louva a criação mas se apega pouco ao conteúdo. Já passou da época em que podíamos nos dedicar só à parte criativa: precisamos ter entendimento sobre nosso bem-estar financeiro. Vejo muita gente entrando na indústria da música, querendo viver de música, mas que não sabe de onde vem o dinheiro, quem ganha o quê e por quê. Pode parecer um bicho de sete cabeças, mas não é. Sempre tive interesse em direitos autorais, ligando a toda hora para a Angela (Johansen, gerente da filial da UBC em São Paulo), importunando-a, coitadinha (risos).”
A compositora Bibi. Divulgação
Para fazer o curso, os interessados devem se inscrever na plataforma CLIP, cujo link será disponibilizado no portal oficial da Wipo (em inglês). A ideia é que os participantes difundam os conhecimentos adquiridos, criando uma rede de conscientização sobre a importância de conhecer minimamente as regras da indústria.
“Com o apoio dos criadores, de outras partes interessadas e de governos em todo o mundo, formaremos uma comunidade verdadeiramente aberta e inclusiva, que trabalhará em conjunto para melhorar as redes e infraestruturas que apoiam o crescimento das indústrias criativas em todo o mundo”, diz a Wipo em comunicado.
“Para o bem de toda a cadeia produtiva das indústrias culturais e criativas, precisamos ter um pensamento um pouco mais comunitário. Quando a gente decide cobrar um valor ou lutar por um percentual, a luta tem que ser comunitária. Uma pessoa sozinha consegue fazer barulho. Mas todos juntos conseguimos transformar o mundo ao redor”, finaliza Bibi.
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