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Indústria musical brasileira vai gerar US$ 1 bilhão em 2027, prevê relatório
Publicado em 03/10/2024

Trabalho assinado pelos pesquisadores Leo Morel e Tatiana Cirisano para o prestigioso MIDiA Research prevê expansão de 74% no mercado nacional até 2031

Por Alessandro Soler, de Madri

O mercado fonográfico brasileiro alcançará, pela primeira vez em sua história, o valor de US$ 1 bilhão em 2027. A previsão faz parte de um detalhado relatório sobre a indústria musical nacional publicado pelo prestigioso MIDiA Research, um centro de pesquisas britânico sobre música, audiovisual e outros segmentos da economia digital. E não é o único dado interessante trazido pelo documento.

Ao longo de suas 20 páginas, o relatório “O mercado brasileiro de música — Rumo ao estrelato” mostra que os robustos crescimentos das receitas geradas com música gravada no país — acima da média mundial nos últimos anos — farão com que a indústria local tenha uma expansão de 74% entre este ano e 2031. E os números levam em conta apenas a exploração da música gravada (streaming, vendas físicas, edição), sem entrar em direitos autorais ou na margem de lucro de distribuidores e comerciantes, por exemplo.

“O que fazemos é traçar um panorama do mercado brasileiro de música gravada utilizando dados quantitativos coletados pela MIDiA Research através de pesquisas próprias. Unindo isso à nossa experiência de mercado, trazemos projeções que são bem animadoras”, define Leo Morel, o pesquisador e analista do mercado musical brasileiro que assina o trabalho junto com a estadunidense Tatiana Cirisano.

Morel, que vem colaborando com o instituto de pesquisas e análises há 10 anos — e já assinou vários outros relatórios sobre o Brasil para eles —, reforça que os dados utilizados são próprios do MIDiA Research, não coincidindo necessariamente com aqueles publicados nos reportes de instituições como Pro-Música ou IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica). De fato, pela conta da MIDiA, o mercado brasileiro de música gravada fechou 2023 com US$ 641 milhões gerados (ou algo como R$ 3,48 bilhões, pelo câmbio desta quinta, 3 de outubro). Já a Pro-Música calculou um número consideravelmente menor, de R$ 2,864 bilhões, o que, também pelo câmbio de hoje, daria US$ 530 milhões.

STREAMING COMO ESPINHA DORSAL

Qualquer que seja o parâmetro, uma coisa é refletida nos documentos de todas as entidades: o streaming (com 82% das receitas geradas na indústria, segundo o relatório da MIDiA Research) vem sendo e continuará a ser a espinha dorsal do crescimento deste e dos próximos anos.

“O Brasil está em rota de crescimento econômico, saindo da crise que se observou desde 2017. O potencial de novos assinantes de streaming pago é considerável. Grande parte do Sul global, aliás, está bem posicionado nesse sentido. América do Sul e África Subsaariana são regiões com enorme potencial de expansão na base de assinantes pagos, o que obviamente atrai a atenção dos agentes de mercado. E gera um efeito de onda. Um streaming forte beneficia toda a indústria da música e seus negócios”, explica o especialista, citando especificamente as vendas de catálogos.

Leo Morel. Foto: arquivo pessoal

Enquanto, nos Estados Unidos e na Europa, a compra de grandes catálogos musicais experimenta uma fase de estabilidade, no Brasil ela deve se expandir, segundo Morel, contribuindo para o aumento das receitas do mercado como um todo.

“United Masters e Believe, só para citar algumas, estão entre as grandes internacionais que montaram operações no Brasil e estão buscando adquirir catálogos pré-existentes. Também há o interesse em aquisições, como ocorreu, por exemplo, no caso da Sony comprando a Som Livre. No relatório, debatemos essa questão do cenário competitivo, da competição acirrada. São muitas as oportunidades atualmente para a indústria musical brasileira”, afirma Morel, que também dá aula no MBA sobre ativos culturais da FGV e é A&R no selo Tratore.

LEIA MAIS: Relembre a reportagem de capa da Revista UBC sobre a compra de catálogos

 

SERTANEJO SEGUIRÁ LIDERANDO, MAS FUNK LEVA ORIGINALIDADE AO MUNDO

Outro aspecto que ele aborda no documento — algo que já fez em outras análises, como este artigo sobre as potencialidades do sertanejo, do funk e da pisadinha — é o papel dos gêneros brasileiros, ou do olhar brasileiro sobre gêneros estrangeiros, na expansão do mercado. Morel defende que o movimento atual de internacionalização, que tem Anitta como uma de suas figuras mais proeminentes, mas não a única, virá por meio da exportação do que o país tem de mais autêntico, único:

“Como o relatório é para um público global, nos preocupamos em explicar um pouco o contexto do sertanejo, do funk, gêneros que muita gente ignora fora daqui. Mostramos, através da análise de dados, que o sertanejo deve seguir liderando o mercado em termos de consumo, por vários fatores. E sua forte ligação com o agronegócio, uma das principais atividades econômicas do país, é, talvez, o principal deles. Mas coloco também a importância da música urbana, particularmente o funk, que tem se beneficiado do TikTok, de uma dinâmica totalmente descentralizada de distribuição, um fenômeno que leva a música urbana às áreas rurais do país, mas que também traz a pisadinha, o piseiro e outros gêneros regionais para os grandes centros.”

Para o pesquisador, o arco de transformação da carreira de Anitta, num primeiro momento distanciando-se do funk para, depois, voltar a abraçá-lo com força, dá fé do status que esse gênero antes marginalizado passou a ocupar no mainstream nacional.

“Anitta surgiu MC Anitta. Na sequência, abandona o termo para se direcionar ao pop, tentando furar a bolha e expandir sua audiência, sobretudo no Brasil, onde o funk sempre sofreu com preconceito e discriminação por parte da elite econômica. Quando quis se expandir internacionalmente, abraçou o reggaeton e outros ritmos latinos, mas foi colocando cada vez mais funk entre seus lançamentos e ajudou a dar notoriedade a esse gênero. Nesse sentido, não foi o único nome internacional que perseguiu o caminho da autenticidade, de uma maneira própria de fazer as coisas. O Sepultura, como seu heavy metal com uma forte pitada brasileira, também estourou no mundo por ter algo diferente, uma peculiaridade nossa. Esse é um caminho para a nossa música lá fora. E certamente ajudará a manter a indústria aquecida e interessante para os agentes de mercado.”

ABERTOS AO QUE VEM DE FORA... MAS NÃO TANTO

Outros dados que entram no documento, dirigido a tomadores de decisão da indústria musical global e disponível para downloads pagos no site do MIDiA, mostram, por exemplo, um consumidor brasileiro mais aberto a escutar música em outras línguas que não o português, pelo menos na teoria. A informação, segundo Morel, foi obtida em entrevistas em que as pessoas disseram estarem dispostas a consumir músicas de outros países — o que não necessariamente se reflete nas mais ouvidas do Spotify. O Top 50 desta quinta, 3 de outubro, por exemplo, é composto por 45 canções nacionais (com, nesta ordem, um funk, um pagode e um sertanejo na cabeça) e só 5 estrangeiras, todas elas em inglês:

“Quem cumpre mais essa função de trazer o que estoura lá fora ainda é o rádio, um meio que continua a ter muita relevância e que se soma a vários outros em que o brasileiro faz descobertas, como os podcasts. Um dado interessante que descobrimos foi que 38% das pessoas aqui ouvem podcasts mensalmente, contra uma média global de 31%. O que pode explicar isso é o YouTube, com a enorme difusão que ele tem. Ainda é a principal plataforma de consumo de música no Brasil, bem à frente do Spotify, que só lidera entre as plataformas exclusivamente de áudio. E no YouTube se consome muito podcast, como Flow, Podpah e vários outros. Conhecer esses dados, esses hábitos de consumo, é fundamental para quem quer tomar boas decisões relacionadas ao mercado daqui”, finaliza.

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