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Discos solo de Tom Jobim são tema de exposição no Rio
Publicado em 15/10/2024

Instituto Antonio Carlos Jobim reúne histórias saborosas sobre os 12 álbuns gravados pelo maestro como único ‘titular’; entrada é gratuita

Do Rio

Detalhe da exposição em cartaz no Rio. Divulgação

Tom Jobim com João Gilberto. Tom Jobim com Frank Sinatra. Tom Jobim com Elis Regina. E com Dorival Caymmi. E com Sérgio Mendes. E com Edu Lobo. São tão conhecidos os discos de um dos maiores compositores da história lançados em parceria com artistas de elevadíssimo quilate que, às vezes, acabam eclipsando seus trabalhos solo. E é sobre eles, especificamente os 12 álbuns gravados por Tom como único “titular” entre 1963 e 1994 (ano de sua morte), que se debruça uma exposição recém-inaugurada no Instituto Antonio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro.

Nascida de uma série de conversas entre Paulo Jobim, músico, compositor e filho de Tom morto em novembro de 2022, e o curador Aluísio Didier, “Tom Jobim: Discos Solo” faz uma análise de cada um desses trabalhos, desvelando momentos luminosos do processo criativo do maestro. Os vídeos das conversas, gravados por um aplicativo de videochamadas durante a pandemia, inclusive foram editados pelo cineasta Cayo Oliveira e, dada sua enorme quantidade de insights sobre o universo jobiniano, acabaram entrando na exposição.

“Nas conversas, Paulo conta histórias que os livros não mostram, uma visão do lado de dentro, informações não apontadas nas fichas técnicas. Além disso, as conversas têm um viés musical, já que são feitas por dois músicos. Não me lembro disso ter sido feito antes”, observa Didier em entrevista à UBC.

O número de 12 álbuns solo, aliás, trazido pelo Instituto, ajuda a organizar um pouco as informações contraditórias encontradas em diferentes fontes da internet, como a Wikipédia.

"A lista da Wiki relaciona algumas reedições de álbuns lançados nos EUA e no Brasil. ‘The Composer of Desafinado Plays’, de 1963, e ‘Antonio Carlos Jobim’, de 1964, são o mesmo disco. ‘Jobim’ e ‘Matita Perê’, de 1973, idem. Falta o LP Inédito, gravado em 1987 como brinde de uma empresa em comemoração aos 60 anos do compositor, e só lançado comercialmente em 1995, póstumo portanto, pela Biscoito Fino. Há um 13º que poderia ser considerado, ‘Tom Jobim em Minas Ao Vivo’, uma apresentação gravada em 1986, com piano e voz, só lançado em 2004, também pela Biscoito Fino, mas não entrou nos documentários das conversas com Paulo Jobim”, detalha o curador.

Além das conversas, outras bases de pesquisa foram o amplíssimo material disponível no Instituto e no site jobim.org, além da biografia escrita por Sergio Augusto no “Cancioneiro Jobim” e de livros de Ruy Castro, Helena Jobim, Sergio Cabral, Luiz Roberto Oliveira e Walter Homem. Tudo organizado e examinado pela equipe do Instituto: Cayo Oliveira, que divide a direção da exposição com Aluísio; Tereza Didier, que faz a direção de arte; José Staneck, que faz a organização do acervo; e a coordenadora Georgina Staneck.

Outra das salas com informações sobre cada um dos álbuns solo. Divulgação

Se o foco principal são álbuns como “Wave”, “Antonio Brasileiro”, “Urubu”, “Matita Perê” e outros lançados solo por Tom, não poderia faltar na mostra um robusto material dedicado às parcerias de Tom. Inclusive porque, embora o foco sejam álbuns que o têm como titular único, muitíssimas das canções que os integram foram cocriações dele com outros, de Vinicius de Moraes a Dolores Duran, de Chico Buarque a Newton Mendonça e Luiz Bonfá.

“O mais comum (no processo de criação de Tom) era, primeiro, a criação da música e, depois, da letra, com ou sem parceiros. Mas não há uma regra. Ele procurou e trabalhou com grandes parceiros, a começar por Newton Mendonça, Marino Pinto, Billy Blanco, Luiz Bonfá, passando a Aloysio de Oliveira, Dolores Duran e, claro, Vinicius de Moraes, Chico Buarque…”, elenca Aluísio Didier. “Não são raras as canções em que Jobim assinou música e letra. No início, ‘Corcovado’, ‘Samba do Avião’, ‘Praias Desertas’, ‘Fotografia’, ‘Outra Vez’, ‘Vivo Sonhando’, 'Este Seu Olhar’, ‘Isto Eu Não Faço Não’. Depois, ‘Vou Te Contar (Wave)’, ‘Olha Pro Céu (Look to The Sky)’… A partir de ‘Matita Perê’, ele parece ter ganhado ‘segurança’ para se assumir como letrista de tantas músicas inesquecíveis, como ‘Águas de Março’, ‘Ana Luiza', ‘Ligia’, ‘Boto’ (a citação a ‘No Pilá’, de Jararaca, é algo à parte), ‘Angela’, ‘Gabriela’, ‘Luiza’, ‘Passarim’, ‘Querida’ e outras.”

A série de canções com nomes de mulheres, aliás, rendeu uma divertida confusão que aparece nos vídeos dos papos de Didier com Paulinho Jobim. Certa vez, um pesquisador musical procurou Tom com um projeto de livro sobre suas musas inspiradoras. Já sabendo quem eram, por exemplo, Luiza (inspirada na personagem interpretada por Vera Fischer na novela da TV Globo “Brilhante”) ou Gabriela (a mítica personagem de Jorge Amado), o pesquisador quis saber sobre Carla.

“Que Carla?”, devolveu Tom, de acordo com o relato do seu filho Paulo.

E o pesquisador insistiu:

“A da música dos anos 50, ‘Carla, meu amor’.”

Era a canção “Cala, Meu Amor”, relembrou Paulo entre risos:

“O pesquisador já havia até se encontrado com a mulher que tinha sido a fonte de inspiração.”

“Tom Jobim: Discos Solo” foi montada na própria sede do Instituto Antonio Carlos Jobim, dentro do complexo do Jardim Botânico do Rio. Fundada em 2001, a instituição se dedica a preservar e disponibilizar o acervo do maestro, além de catalogar a obra de outros grandes nomes da nossa música, como Chico Buarque, Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Paulo Moura. A exposição pode ser visitada todos os dias (exceto às quartas-feiras), das 9h às 17h, e a entrada é gratuita.

 

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