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‘Ainda Estou Aqui’ põe Erasmo nas paradas dois anos depois de sua morte
Publicado em 13/12/2024

Música "É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo", lançada em 1971, conquista nova geração e viraliza após integrar trilha sonora do filme

Por Nathália Pandeló, do Rio

Dois anos após sua morte, Erasmo Carlos retornou às paradas de sucesso. A música “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo”, lançada em 1971, ganhou novo alcance ao integrar a trilha sonora de “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles. O longa, que já ultrapassou a marca de 2 milhões de espectadores, impulsionou a canção às primeiras posições das plataformas de streaming. Tudo graças à popularidade do filme, recentemente indicado ao Globo de Ouro de melhor filme em língua não inglesa (com Fernanda Torres indicada a melhor atriz) e candidatíssimo ao Oscar de melhor filme internacional.

A balada existencialista, composta por Erasmo com Roberto Carlos e apresentada no sétimo álbum do Tremendão, “Carlos, Erasmo…”, se destaca pelo toque da guitarra de Lanny Gordin entre as cordas orquestradas. Com versos melancólicos que captam a angústia gerada pelo período da ditadura, evoca com sobriedade o clima sombrio do Brasil de mais de cinco décadas atrás.

Imagem promocional do filme, com os atores Selton Mello e Fernanda Torrres. Reprodução

Um ressurgimento que surpreendeu muita gente, já que essa pérola acabava ficando em segundo plano em meio a tantos sucessos - como “Além do Horizonte”, “Gatinha Manhosa” e “É Proibido Fumar”. Agora, não mais.

Números que impressionam

Os dados de streaming surpreendem: segundo a Deezer, houve um crescimento de 330% nas reproduções da música em 11 de novembro, comparado ao dia anterior à estreia do filme. A ascensão continuou, atingindo 455% de aumento em 18 de novembro. No Spotify, a canção alcançou a terceira posição na playlist "50 que viralizaram - Brasil", enquanto no Shazam, aplicativo que identifica músicas tocando no ambiente, chegou ao segundo lugar.

No TikTok, a faixa conquistou principalmente o público jovem. Dados do creative center da plataforma mostram que 86% dos vídeos usando a música são de usuários entre 18 e 24 anos. A música atingiu seu pico de popularidade em 29 de novembro, com 100% de engajamento – um salto impressionante considerando que duas semanas antes registrava 4%. Apenas 5% dos vídeos são feitos por usuários com mais de 35 anos, com 86% integrando o demográfico de 18 a 24 anos e confirmando o alcance da canção entre as novas gerações.

O sucesso atual não se limita ao Brasil. Além de fazer parte da trilha sonora da série americana “Outer Banks” (Netflix), a faixa também esteve na novela “Amor de Mãe” (2019), dois outros momentos de redescoberta. Com isso, conteúdos gerados em Portugal e nos EUA também utilizam “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo”.

Detalhe da capa do disco 'Carlos, Erasmo', que trouxe a versão original da música. Reprodução

Os bastidores da trilha sonora

O departamento musical do filme foi comandado por Steve Bouyer e Pascal Mayer, com consultoria de Gustavo Montenegro, porém a escolha de “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo” surgiu de forma orgânica. Inicialmente creditada ao diretor Walter Salles e ao roteirista Murilo Hauser, a ideia teria partido, na verdade, do montador Affonso Gonçalves, conforme revelado por Salles à UBC.

A trilha sonora reúne outras lendas da música brasileira, incluindo nomes como Gal Costa, Tim Maia, Tom Zé e Roberto Carlos. Também figuram, ao longo de “Ainda Estou Aqui”, artistas internacionais como Serge Gainsbourg & Jane Birkin, Donny Hathaway e Cesária Évora. A música original ficou a cargo do compositor Warren Ellis.

Léo Esteves, filho de Erasmo e empresário de Roberto Carlos, celebra este momento.

“O Erasmo sempre foi um cara que confidenciava que queria ser lembrado por suas músicas, não por si”, compartilha. “Não é surpresa que as pessoas comecem a redescobri-lo em suas fases. Teve a fase Jovem Guarda, depois teve uma fase existencial de questionamentos do mundo, como a que tem essa música, ‘É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo’, e também ‘Gente Aberta’, a mais executada dele no Spotify.”

De fato, a canção que Léo pontua, de autoria de Erasmo e Roberto, caminha para 20 milhões de audições na plataforma.

“É uma fase muito emblemática”, ressalta Esteves sobre o período em que “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo” foi gravada. “O álbum 'Carlos, Erasmo' é muito rico criativamente, porque ele começou a ter contato com músicos diferentes, com os baianos, com toda o pessoal da Tropicália. Erasmo saiu de São Paulo, foi para o Rio e teve todo um acompanhamento do cast da Polygram”, recorda Léo.

O disco vai da psicodelia ao samba-rock, funk e soul, com gravações de “De Noite Na Cama” (Caetano Veloso), “Agora Ninguém Chora Mais” (Jorge Ben Jor), “26 Anos de Vida Normal” (Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle), entre outras.

Um detalhe importante sobre a inclusão da música no filme é que o próprio Erasmo Carlos autorizou seu uso antes de falecer.

“Eu comentei com ele sobre o filme”, revela Léo Esteves. “Para o cinema, a gente libera muito antes de a obra ser lançada. Ele achou bacana, achou lindo o roteiro, na época passaram para a gente. Os atores envolvidos, a direção marcante, ele tinha uma expectativa muito alta. Então foi muito bacana que realmente a expectativa que ele teve, onde ele estiver, ele está acompanhando e batendo palma”, comemora.

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Reconhecimento póstumo e projetos futuros

O momento é especialmente significativo para o legado de Erasmo Carlos, que recentemente foi reconhecido com um Grammy Latino póstumo. Seu álbum “Erasmo Esteves”, lançado em maio de 2024, venceu na categoria Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa. O disco, que mistura esboços em fitas cassetes e canções finalizadas postumamente, foi um projeto desenvolvido pelo diretor artístico Marcus Preto em parceria com Léo Esteves e o produtor musical Pupillo Oliveira.

O filho revela que tem compartilhado rascunhos e fitas do pai com compositores contemporâneos que beberam da fonte de Erasmo, como Marisa Monte, Nando Reis, Arnaldo Antunes, Frejat, Tim Bernardes, Teago Oliveira e Roberta Campos. Parte desse material gerou o projeto “Erasmo Esteves”.

Para Léo, esse reconhecimento é a realização do desejo de seu pai: que sua obra continuasse tocando as pessoas.

“Estou muito feliz com esse momento do Erasmo”, diz o empresário, que, até o dia em que conversou com a UBC, não tinha assistido a “Ainda Estou Aqui” no cinema. “As pessoas têm comentado muito que a música foi muito marcante no filme. Ele ficaria com aquela carinha muito feliz, olhando assim de lado, meio reconhecendo que as pessoas estão bebendo na fonte da obra dele”, reflete.

O retorno de “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo” às paradas de sucesso ilustra como o cinema pode dar nova visibilidade a canções do passado. Enquanto a música continua conquistando novos ouvintes através do streaming e do TikTok, o catálogo de Erasmo Carlos se mantém circulando entre diferentes gerações de artistas e público, seja através de regravações, samples ou trilhas sonoras. Um trabalho para o qual a editora da obra, a Warner Chappell Brasil, reivindica um papel importante.

"De nossas reuniões para o mundo! O catálogo de Erasmo Carlos, mais uma vez, se destacou em nossos pitchings, chamando a atenção de supervisores musicais nos Estados Unidos. Com um planejamento preciso e uma execução rápida, garantimos um licenciamento de sucesso, consolidando a presença do compositor no cenário internacional", diz Flavia Cesar, diretora de Estratégico, Comercial, Filmes e Sincronização da editora. "Já na trilha de 'Ainda Estou aqui', o processo de licenciamento (na editora) foi realizado com o objetivo de integrar de forma autêntica a música desse incrivel artista à narrativa do projeto. A seleção das canções do filme foi cuidadosamente orientadas pela conexão emocional com a trama, ao mesmo tempo em que reforça o impacto artístico e cultural da obra e reflete o cenário histórico do Brasil na época retratada."

 

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