Evento global acontece pela primeira vez na Bulgária e reúne sociedades de gestão coletiva de todo o mundo
De São Paulo e Paris*
Björn Ulvaeus, presidente da Cisac, fala durante a Assembleia Geral do ano passado, realizada em Seul. Foto: Cisac
A Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores (Cisac) realiza no próximo dia 28 de maio sua Assembleia Geral em Sófia, na Bulgária. A reunião, que acontece pela primeira vez no país e é organizada pela sociedade local Musicautor, deve reunir criadores, representantes de organizações de gestão coletiva e autoridades públicas de diversos países.
A proteção dos direitos autorais em tempos de inteligência artificial será o principal tema do encontro. A expectativa é que os debates abordem o impacto das tecnologias generativas sobre o trabalho criativo, com foco na necessidade de regras claras de transparência, consentimento e remuneração justa por parte dos desenvolvedores de IA.
Além da IA, estarão na pauta desafios como a valorização das obras nos serviços de streaming, a frágil aplicação da lei autoral em alguns países e os obstáculos enfrentados pelas sociedades de autores para garantir o pagamento aos titulares de direitos.
O presidente da CISAC e cofundador do ABBA, Björn Ulvaeus, fará um discurso de abertura transmitido por videochamada, compartilhando suas reflexões sobre como a IA pode ser uma ferramenta para os criadores, desde que seus direitos sejam devidamente protegidos.
Os participantes também se reunirão com o primeiro-ministro da Bulgária, Rosen Zhelyazkov, para discutir a situação do setor criativo no país. O atual presidente do Conselho de Administração da Cisac, Marcelo Castello Branco (diretor-executivo da UBC), o diretor-geral da Cisac, Gadi Oron, e o presidente da Musicautor, Iassen Kozev, falarão sobre as atividades e prioridades atuais.
PAINÉIS VARIADOS COM VÁRIAS SOCIEDADES
A programação inclui painéis sobre litígios e regulação da IA, combate a fraudes no registro de obras geradas por máquinas e o uso de dados para melhorar a arrecadação e a distribuição de direitos. Representantes de sociedades como GEMA (Alemanha), PRS for Music (Reino Unido), ADAGP (França), APRA AMCOS (Austrália) e RIAA (EUA) participam das mesas.
Um dos destaques será a apresentação de atualizações do sistema CIS-Net, ferramenta usada para a troca de dados entre as mais de 200 sociedades-membro da CISAC. Também será realizado, no dia 29, o “Dia dos Criadores”, promovido em parceria com o CIAM (Conselho Internacional de Criadores Musicais), para debater o papel dos autores na formulação de políticas públicas.
Além de Ulvaeus, nomes como Yvonne Chaka Chaka (cantora sul-africana), Kazuhiko Fukuoji (pintor japonês), Ángeles González-Sinde (roteirista espanhola) e Arturo Márquez (compositor mexicano) estarão em Sófia representando diferentes repertórios artísticos. Haverá ainda uma sessão dedicada ao mercado da Europa Central e Oriental, com participação de sociedades da Polônia, Hungria, Croácia e Bulgária.
ESCOLHA SIMBÓLICA
A escolha da capital búlgara como sede do encontro também tem um caráter simbólico. Apesar da riqueza cultural do país, os criadores locais enfrentam sérias dificuldades para garantir a aplicação dos seus direitos. A Musicautor, anfitriã do evento, tem pressionado o governo búlgaro a criar um regime de remuneração por cópia privada — modelo já adotado em grande parte da União Europeia, mas ainda inexistente no país.
“A chegada da Assembleia Geral da CISAC a Sófia é uma oportunidade para modernizarmos nossa estrutura de proteção aos criadores e integrarmos a Bulgária ao debate global”, disse Ivan Dimitrov, diretor da Musicautor.
O diretor-geral da CISAC, Gadi Oron, também destacou o momento crítico para o setor:
“Estamos diante de ameaças existenciais. Se os direitos dos criadores não forem protegidos, especialmente diante do avanço da IA, todo o ecossistema criativo corre risco”, afirmou.
*Com informações da Cisac
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