Instagram Feed

ubcmusica

No

cias

Notícias

Festival In-Edit Brasil chega à 17ª edição com mais de 60 documentários musicais
Publicado em 11/06/2025

A maioria das sessões é gratuita, e o evento, em São Paulo, ainda conta com shows, palestras, feira de vinil e exibições online

Por Kamille Viola, do Rio

Hyldon e o diretor Felipe David Rodrigues durante a gravação do documentário sobre o cantor e compositor. Divulgação

Os fãs de música e cinema podem comemorar: chega à 17ª edição o In-Edit Brasil — Festival Internacional do Documentário Musical, que acontece de 11 e 22 de junho. Serão exibidos 64 filmes, entre nacionais e internacionais, espalhados por salas em São Paulo, a maioria em sessões gratuitas. Além disso, a programação inclui shows, debates, encontros, exibições comentadas com convidados especiais e a já tradicional feira de vinil. O festival conta ainda com a exibição online e gratuita de 22 dos títulos selecionados.

Do pagode dos anos 90 a uma cantora trans que despontou no cenário no rhythm and blues dos anos 1960 e depois desapareceu, há uma pluralidade de personalidades e temas presentes na seleção.

“Essa diversidade — de gêneros, de propostas musicais, mas também culturais, de países, de outras regiões do Brasil — é o grande trunfo do In-Edit. É poder ver o máximo de cores e entender que a coisa é muito mais ampla do que o seu umbigo, ou o seu penteado, ou a sua camiseta de banda. Tudo está inserido em um contexto”, defende o diretor artístico e criador do In-Edit Brasil, Marcelo Aliche. “Este ano, por exemplo, pela primeira vez temos um filme de Rondônia."

O público aguardado é de cerca de 20 mil pessoas, um número bastante expressivo para o cinema em tempos de streaming. Para Marcelo Aliche, apesar do crescente interesse pelo cinema nacional gerado pelo sucesso do longa “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles (e, mais recentemente, pelas premiações a "O Agente Secreto" em Cannes), os frequentadores do In-Edit são diferentes dos cinéfilos em geral.

“O festival atrai mesmo gente fã de música, não somente fã dos artistas, é mais amplo que isso. É o cara que gosta de música como arte ou como expressão, inclusive expressão social”, analisa. “Ao trabalhar com música e com filmes inéditos, a gente gera um interesse muito grande de distribuidoras, de imprensa, enfim, da indústria de maneira geral”, pondera.

MAIS DE 15O INSCRITOS

O Panorama Brasileiro, que se divide entre as seções Competição Nacional, Mostra Brasil, Brasil.Doc, Curta um Som e Sessões Especiais, apresenta estreias nacionais e produções inéditas dedicadas a importantes nomes e cenas da música brasileira. Já o Panorama Mundial reúne filmes recentes e inéditos no Brasil que lançam novos olhares sobre personagens, movimentos e histórias da música ao redor do mundo. Segundo Aliche, este ano aumentou o número de inscritos; foram mais de 150. A título de comparação, outros países onde o In-Edit acontece, como Holanda e Espanha, têm cerca de 25 filmes nacionais inscritos por ano.

Na abertura do festival, na quinta-feira (11), no CineSesc, uma première do documentário “Anos 90 — A Explosão do Pagode”, de Emílio Domingos e Rafael Boucinha. O filme revisita a trajetória e o impacto cultural do pagode dos anos 1990.

“Esse filme e o do ‘Hardcore 90’ trazem um novo olhar sobre os movimentos. O ‘WR Discos — Uma Invenção Musical’, que mostra o legado desse estúdio na Bahia, também. Isso sempre nos ajuda a ressignificar e a completar lacunas de informação, e é muito importante para o Brasil e para a cultura brasileira”, analisa Aliche.

VEJA MAIS: O trailer de 'Anos 90 — A Explosão do Pagode'

 

CAZUZA, HYLDON, CACHORRO GRANDE

A Competição Nacional traz filmes que retratam personagens marcantes e trajetórias singulares da música brasileira. O vencedor será exibido no In-Edit Barcelona 2025 (o evento nasceu na cidade espanhola, em 2002), com a presença de seu realizador ou realizadora. Entre os concorrentes deste ano, o longa “Cazuza: Boas Novas”, que acompanha o retorno do cantor após o diagnóstico de Aids — na época, um grande estigma — com o lançamento de três álbuns, entre os anos de 1987 e 1989, quando recebeu prêmios e fez mais de quarenta apresentações do espetáculo “O Tempo Não Para”, que se tornou um dos mais emblemáticos de sua carreira.

Com direção de Nilo Romero (músico, amigo e diretor musical do último show de Cazuza) e codireção de Roberto Moret, o filme, que faz sua première nacional no festival, traz imagens de arquivo, vídeos inéditos e depoimentos de pessoas próximas, como Ney Matogrosso, Gilberto Gil, Frejat e Lucinha Araújo. Com um estado de saúde que a cada dia se agravava mais, o artista lutou contra o preconceito com quem havia contraído o vírus HIV e mergulhou em uma das fases criativas mais intensas de sua trajetória.

VEJA MAIS: O trailer de 'Cazuza: Boas Novas'

 

Também disputando o prêmio, “As Dores do Mundo: Hyldon”, de Emílio Domingos e Felipe David Rodrigues, marca os 50 anos do álbum de estreia solo do artista, “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda” (1974), e passeia por sua história, falando sobre sua infância, seus primeiros passos como guitarrista e produtor musical, paixões que se transformaram em letras e vai até o pós-lançamento do emblemático disco. O longa traz depoimentos de nomes como Seu Jorge, Liniker, Mano Brown, Curumin, Arnaldo Antunes, Wanderléa e Sandra Sá, entre outros, além do próprio Hyldon.

A Competição Nacional traz ainda “A Última Banda de Rock”, de Lírio Ferreira, sobre a banda Cachorro Grande; “Alma Negra, Do Quilombo Ao Baile”, de Flavio Frederico, que resgata a importância dos bailes black no Brasil como espaços de resistência e afirmação da identidade negra; “Amor e Morte em Julio Reny”, de Fabrício Cantanhede, com a história do cantor e compositor gaúcho Julio Reny, um talento recluso; “As Travessias de Letieres Leite”, Iris de Oliveira e Day Sena, sobre o maestro baiano e seu imenso legado; “Ave Sangria, a Banda que Não Acabou”, de João Cintra e Mônica Lapa, que retrata a mítica banda psicodélica pernambucana; “Brasiliana: O Musical Negro que Apresentou o Brasil ao Mundo”, de Joel Zito Araújo, que resgata o pioneiro espetáculo brasileiro; “Os Afro-Sambas: O Brasil de Baden e Vinícius”, de Emílio Domingos, que mergulha no processo de criação do emblemático álbum de 1966; e “Sem Vergonha”, sobre transgressora cantora Maria Alcina.

O Panorama Mundial traz filmes inéditos sobre John Lennon e Yoko Ono (“One to One: John & Yoko”); a consolidação do hip hop norte-americano nos anos 1990 (“It Was All A Dream”); os ícones do indie rock Butthole Surfers (“Butthole Surfers: The Hole Truth and Nothing Butt”); o hardcore punk do Fugazi (“We Are Fugazi, From Washington DC”); a cantora Peaches (“Peaches Goes Banana”); a descoberta de Jackie Shane (“Any Other Way: The Jackie Shane Story”), cantora trans negra que despontou no cenário no rhythm and blues dos anos 1960 e desapareceu; e o compositor John Williams, responsável por trilhas sonoras de  Star Wars, E.T. e Indiana Jones (“Music by John Williams”), entre outros.

Também se destacam na programação do In-Edit Brasil 2025 títulos dedicados a cenas regionais e movimentos alternativos, como o rock de Goiânia (“Goiânia Rock City”), a música de Porto Velho, Rondônia (“Concerto de Quintal”), e o hardcore brasileiro dos anos 1990 (“Hardcore 90”), com bandas como No-Violence, Agrotóxico, Tube Screamers e Dominatrix. “O pôster do In-Edit é sempre um personagem com os olhos de alto-falante, porque a gente vê o mundo através da música. Então, não é só o músico ou só a história da banda, ou do selo, ou do não sei quê. Tudo está sempre colocado dentro de um contexto histórico, social, político, econômico”, frisa Marcelo Aliche.

Dezesseis anos depois da estreia da edição nacional do In-Edit, em 2009, ele celebra o crescimento da cena de documentários musicais no país. “O Brasil é um país meio sem memória, a gente tem uma dificuldade em guardar nossas histórias e nossos documentos e, enfim, valorizar a nossa própria história. Nesses anos todos de In-Edit, dá para ver uma uma evolução muito grande nisso. Primeiro na diversidade de temas, depois no fato de que existem cada vez mais arquivos sendo encontrados, enfim, existe uma profissionalização desse assunto”, comemora.

VEJA MAIS: O trailer de 'As Dores do Mundo: Hyldon'

 

SESSÕES ESPECIAIS COM SHOWS

Como já é tradição, o In-Edit Brasil 2025 terá shows especiais relacionados a filmes que estão na programação. No dia 13 de junho (sábado), às 19h, no Centro Cultural São Paulo (CCSP), às 19h, o cantor e cavaquinista Salgadinho, ex-vocalista do grupo Katinguelê e uma das estrelas do filme “Anos 90 — A Explosão Do Pagode”, apresenta uma versão pocket de seu projeto “Amigos do Pagode 90”, que resgata os grandes clássicos daquela década. A entrada é gratuita.

Já dia 19 de junho (quinta), às 18h, na Cinemateca Brasileira, será exibido o longa “Noite do Espantalho” (1974), dirigido pelo cantor, compositor, ator e cineasta Sérgio Ricardo (1932-2020), celebrando a aquisição do arquivo do artista pela cinemateca. Em seguida, é vez do espetáculo “Sérgio Ricardo Memória Viva”, no qual Marina Lutfi (voz e percussão) e João Gurgel (voz e violão), filhos do multi-artista, celebram a obra do multiartista apresentando canções de sua discografia, com foco nas trilhas criadas para o cinema. O pocket-show conta com a participação especial da outra filha de Sérgio Ricardo, Adriana Lutfi (voz), e é gratuito.

No dia 20 de junho (sexta), às 19h, o Cine Joia excepcionalmente volta a ser uma grande sala de cinema para a première do longa “Goiânia Rock City”, de Théo Farah, que será exibido às 19h. O documentário mergulha na cena roqueira da cidade desde o início dos anos 2000, revelando os bastidores, personagens e o espírito que transformou Goiânia em um dos polos mais efervescentes da música independente brasileira. Em seguida, a casa retoma sua atual vocação para receber em seu palco algumas das das bandas que são tema do documentário, como Violins, MQN, Black Drawing Chalks e Hellbender. Os ingressos custam para a sessão dupla custam R$ 40,00 e podem ser comprados neste link.

ONDE ACONTECE O FESTIVAL

O In-Edit terá sessões no CineSesc, Cinemateca Brasileira, Spcine Olido, Spcine Paulo Emílio (CCSP), Cine Bijou e Cine Matilha (Matilha Cultural), além de uma sessão especial no Cine Joia e de uma seleção online e de graça nas plataformas Spcine Play, Sesc Digital e Itaú Cultural Play (IC Play).

Com exceção do CineSesc e do Cine Joia, as sessões presenciais serão gratuitas, com retirada de ingressos na bilheteria das salas uma hora antes do início de cada sessão. No CineSesc, será cobrado um valor promocional para o ingresso, R$ 10,00.

A programação completa do In-Edit Brasil 2025 pode ser vista no site do evento.

 

LEIA MAIS: Como foi reunido o elenco de estrelas do documentário 'Milton Bituca Nascimento'

LEIA MAIS: Arrigo Barnabé, Caymmi, funk e muito mais na edição 2024 do In-Edit Brasil


 

 



Voltar