Instagram Feed

ubcmusica

No

cias

Notícias

“É uma hora em que o compositor tem que mostrar serviço”
Publicado em 13/11/2018

Imagem da notícia

Nei Lisboa fala sobre o papel do criador no momento conturbado do país, repassa questões da sua trajetória de 40 anos marcada por sucessos e trabalhos para trilhas sonoras e comenta seu processo de criação

De São Paulo

Em 40 anos de uma bem-sucedida carreira na música, o gaúcho Nei Lisboa visitou grandes gêneros como MPB, pop-rock, folk ou o regional candombe uruguaio e privilegiou a qualidade à quantidade. “Parafraseando Millôr, 'enfim, um compositor sem estilo'”, ele brinca, referindo-se a si. Autor de 150 canções — “não são realmente muitas, porque não costumo terminar uma canção se ela não promete muito, e dois terços do que compus eu gravei” —, o também cantor, músico e escritor descreve o que crê ser uma espécie de permanência em meio à sua pluralidade de interesses estéticos: “Há algo reconhecível, sim: um sotaque poético, talvez uma persistência na análise social, de comportamento, frequentemente pelo viés da ironia e de um ceticismo pró-ativo”.

Com sucessos como “Carecas da Jamaica” e “Hein?!”, onze álbuns de estúdio lançados e trilhas compostas para filmes como “Deu Pra Ti, Anos 70”, “Houve Uma Vez Dois Verões” e “Meu Tio Matou um Cara”, o autor, recém-filiado à UBC, repassa questões da sua trajetória numa conversa por e-mail.

LEIA MAIS: O que há por trás da renovada cena pop-rock de Porto Alegre

Além de ter lançado muitos álbuns interpretando suas canções, você também teve inúmeras gravações por outros intérpretes de todo o país, como Simone Capeto, que gravou um disco inteiro (“Bom Futuro”) só com obras suas. Lembra-se de quem foi o primeiro artista que o gravou? E como foi o processo de “venda” do seu trabalho a outros cantores e intérpretes?

Se bem me lembro, foi a Cida Moreira, em 1982, gravando “Não Me Pergunte a Hora”, parceria com o Augusto Licks. Gosto muito de ouvir minhas canções na voz de outros, mas nunca me preocupei nem investi maior esforço nisso. Acho que deveria ter feito mais, e talvez venha a fazê-lo, essa coisa de oferecer material e até de compor pensando em outros intérpretes. 

Uma marca importante do seu trabalho é a elaboração de trilhas sonoras para o cinema. Hoje, cerca de 60% da arrecadação de direitos autorais no país vêm do setor audiovisual. Como surgiu a oportunidade de atuar nesse segmento?

É uma coisa na maior parte antiga, vem de uma relação próxima com o pessoal da Casa de Cinema, aqui de Porto Alegre, lá nos anos 80. Também aconteceu sempre a partir de um convite, uma solicitação de uso do repertório. Então, nem me passava pela cabeça o quanto isso pudesse ou não ser vantajoso financeiramente.

Como é o seu processo de produção/criação? Que tipo de coisas o inspiram? 

Bom, antes de mais nada, a partir daquilo que anda tão em falta: tempo. Tempo para o ócio criativo, tempo para escuta, para estudo, para errar bastante e encher o lixo de papel rabiscado. E, dentro disso, estar atento para o que instiga, o que traduz e questiona a nossa época, nossa condição civilizatória. Ou de barbárie...

O momento conturbado que o país vive também é inspiração?

Nem me fale, já estamos vivendo um revival farsesco da ditadura militar, e com tudo em cima para piorar. Desde meu último CD, lançado em 2015 (“Telas, Tramas e Trapaças do Novo Mundo”), o tema já está bem presente. Agora se torna obrigatório, mas também muito duro de abordar, de se enfiar o dedo na ferida. É uma hora em que o compositor tem que mostrar serviço, tem que oferecer a corações e mentes um aconchego e uma perspectiva de resistência, com compaixão e lucidez.

Já tem acumuladas inéditas suficientes para um novo álbum?

Talvez uma metade, canções que saíram avulsas, mas o trabalho mais significativo, formador de um álbum, de um conceito, ainda está por vir. Quero crer que para o início do ano que vem.

Por que a decisão de vir para a UBC? O que espera do trabalho da associação na gestão dos seus direitos autorais de execução pública?

Desde que a UBC abriu sucursal em Porto Alegre, isso já estava no radar. Aproveitei um momento, agora, buscando me organizar na questão de direitos, e decidi pela transferência. A UBC, além da proximidade, parece muito bem estruturada, então estou confiante de que foi uma mudança positiva.


 

 



Voltar