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Marisa Monte: gigantes da web cresceram infringindo direitos autorais
Publicado em 26/08/2019

Em entrevista ao jornal 'Folha de S. Paulo', ela diz ver um panorama de transformação no negócio digital, defende a arte como negócio e elogia a lei de direitos autorais

De São Paulo*

Com a autonomia de quem gere sua própria carreira há anos, batalha pelos direitos autorais e conhece o valor do próprio trabalho, Marisa Monte anda inquieta pelas desigualdades no mundo da música digital. Se a facilidade de acesso a um cancioneiro incalculável é grande, os compositores e músicos intérpretes ainda estão entre os menos remunerados e, sobretudo, entre os menos reconhecidos, com seus créditos quase escondidos nas plataformas de música. 

Ela acredita que o panorama melhorará nos próximos cinco ou dez anos, mas crê que as empresas distribuidoras de conteúdos produzidos por outras — ou seja, os serviços de streaming — devem ser responsabilizadas e aprender a dividir o bolo. “A experiência do consumo digital de música pode melhorar, eu acho que isso vai avançar porque as empresas de tecnologia competem entre si. Serão obrigadas a oferecer diferenciais aos artistas”, ela disse em entrevista publicada na edição de sábado (24) do diário “Folha de S. Paulo”

Gigantes da web, como Facebook e o conglomerado Google, também são alvo da cantora e compositora carioca por sua resistência a reconhecer que se beneficiam de conteúdos produzidos por outros e que devem repartir seus ganhos com quem cria a matéria-prima que os alimenta. “O acesso à internet, esse avanço de tecnologia nos últimos anos, isso tudo aconteceu muito rápido. Muito mais rápido do que a discussão sobre as consequências disso tudo. Gigantes como Google e Facebook cresceram muito infringindo os direitos de todo mundo, em função desse vácuo de legislação, que permitiu a divulgação de conteúdo de terceiros em proveito próprio”, ponderou. 

A necessidade de identificar os autores, dar-lhes mais crédito, melhores pagamentos e maior visibilidade na cadeia de produção musical — “É fundamental definir quem terá de prover essas informações de autoria. Quem veicula? A gravadora? O artista? As empresas vão correr atrás porque isso tem que ser discutido” — e a necessidade de os próprios artistas se envolverem mais no negócio também entraram no bate-papo com o jornalista Thales de Menezes. “No segundo álbum dos Tribalistas, a gente fez um hand album, acessado pela internet. É uma espécie de encarte digital com todas essas informações de autoria, produção, gravação. Mas é uma iniciativa isolada”, lembrou. 

LEIA MAIS: Marisa Monte descreve todos os detalhes que fizeram da produção do álbum “Tribalistas” um dos acontecimentos mais relevantes da indústria musical brasileira em 2017. Na Revista UBC

Ela citou também a lei de direitos autorais, frequentemente desrespeitada por usuários que insistem em não pagar pelo uso de canções em seus espaços e/ou programação. “Você tem a opção de não pagar, e manter seu restaurante no silêncio, mas fica sem um conteúdo que agrega valor ao seu serviço. O restaurante que tem música é mais agradável, principalmente uma música bem curada, bem escolhida”, analisou a artista, para quem a lei atual é eficaz e “conversa com leis de direitos no mundo todo. Escritórios brasileiros que cuidam disso, como UBC e Abramus, estão conectados a grupos e sociedades de fora do Brasil. Eles também recolhem direitos para estrangeiros, têm que se manter dentro da realidade do mundo hoje. Arrecadar bem é importante para recompensar o investimento.”

Por fim, ela concluiu com uma defesa da criação artística como patrimônio cultural de todos mas também como negócio que deve ser bem recompensado economicamente para manter sua viabilidade. “Acho importante entender que, além de ser a alma da nação, a fronteira do pensamento e de ser importante para empurrar a sociedade a um pensamento de vanguarda, a cultura tem um papel mais pragmático, que talvez os liberais entendam melhor, que é a questão econômica de fato. A questão econômica da arte não é pequena, não é inegável, não é secundária.”

*Com informações do jornal “Folha de S. Paulo”


 

 



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