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Musical em homenagem a Ary Barroso estreia no Teatro Castro Alves
Publicado em 07/01/2020

Em “Os Pássaros de Copacabana”, companhia Teatro Nu apresenta uma protagonista travesti e toca em temas espinhosos no atual panorama político-cultural nacional

Do Rio

Foto de Fabio Abu

Em fevereiro de 1964, um militar encomenda a sua amante, uma travesti, um show para homenagear o recém-falecido Ary Barroso, um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos. Não podia prever que pouco mais de um mês depois, em março, um golpe militar mudaria radicalmente as coisas no país.

Esta é a trama de “Os Pássaros de Copacabana”, espetáculo musical da companhia Teatro Nu dirigido por Gil Vicente Tavares e estrelado por Marcelo Praddo que, montado originalmente em 2017, volta à sala do coro do mítico Teatro Castro Alves, em Salvador, de 15 de janeiro a 5 de fevereiro.

Recheada de canções do autor de “Na Baixa do Sapateiro”, “No Rancho Fundo” (com Lamartine Babo) e “Aquarela do Brasil”, a obra vencedora dos prêmios Braskem (melhor diretor, melhor ator) e Cenym (melhor monólogo) conta com o músico convidado Elinaldo Nascimento. E exalta a rica obra de Barroso — que aparece em grandes clássicos e em canções “alternativas”, como a vanguardista “Inquietação”, que, para Tavares, “tem esse estilo pré-Baden Powell, antecipa a bossa nova”.

Para além da parte musical, o espetáculo toca em questões espinhosas nos dias que correm. A própria intérprete, uma mulher trans, é uma declaração de princípios por parte dos idealizadores. Outra é a crítica ao regime de exceção imposto pelos militares, que o discurso conservador tenta suavizar.

“As canções que escolhemos parecem ter sido escritas para o espetáculo, para essa personagem. 'Dá Nela', 'Tu Qué Tomá Meu Home' (dos versos “eu gosto é de levar pancada e até de passar fome”)... Ao mesmo tempo, canta canções louvando o Brasil e a nossa cultura, às vésperas do golpe. Ressignifica tudo”, comenta o diretor. “Minha intenção é espelhar os vários golpes que, seguidamente, sofremos. Essa personagem mostra uma resistência a esse país. Mas o espetáculo é algo pessimista. Ela tenta resistir ao inevitável e acaba meio perdida. Talvez remeta ao que muita gente sentiu durante o golpe à Dilma (Rousseff, ex-presidente retirada do poder no impeachment de 2016). Me inspirei muito nesse sentimento.”

Gil Vicente Tavares conta ainda que demorou quatro anos entre a concepção da peça e a obtenção de patrocínio. Segundo ele, o panorama vem piorando desde então. “Vivemos um risco de cortes de verbas, de editais, repasses. Cada vez mais, vamos ter que utilizar, como dizia (o dramaturgo Bertold) Brecht, outras formas de dizer a verdade. Vejo a Bahia como um estado de resistência. Salvador também. De um modo geral, a cidade não é afeita à conjuntura que o país está vivendo.”

Na próxima edição da Revista UBC, no fim deste mês na íntegra aqui no site, leia uma reportagem sobre o momento político complicado para a cultura. E produtores, diretores e outras figuras da indústria cultural propõem caminhos para o desbloqueio. 

 


 

 



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