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Covid-19: festas populares têm cascata de cancelamentos e adiamentos
Publicado em 27/07/2020

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Além de carnaval e réveillon, eventos como a Lavagem do Bonfim, em Salvador, e a parada LGBTQ+, em São Paulo, estão ameaçados; prejuízo pela suspensão das festas juninas passou de R$ 1 bilhão, R$ 5,5 milhões só em execução pública

Por Luciano Matos, de Salvador

Carnaval e réveillon estão sob ameaça em grandes capitais e diversos estados brasileiros devido à falta de controle da pandemia de Covid-19. Mas não são os únicos eventos em suspenso. Em Salvador, por exemplo, todo o calendário de festas populares de verão deve sofrer adiamentos ou cancelamentos, segundo as autoridades municipais e estaduais, incluindo as tradicionais festas de Santa Bárbara, Conceição da Praia, Lavagem do Bonfim e Iemanjá. Em São Paulo, a Virada Cultural, um dos principais eventos da cidade, que deveria ter acontecido em maio e foi adiada para setembro, será totalmente on-line, para evitar concentrações. A prefeitura da capital paulista está definindo com os organizadores da Parada LGBTQ+ e da Marcha para Jesus, que foram adiados para novembro, como serão realizados os eventos este ano, mas tudo leva a crer que tampouco serão realizados presencialmente.

Em Belém, o Círio de Nazaré, um dos maiores eventos religiosos do país, que atrai cerca de 2 milhões de pessoas, tem seu cancelamento dado como certo. A diretoria da festa criou a Comissão Especial de Análise da Pandemia da Covid-19, que está estudando o assunto e deve emitir nos próximos dias um parecer técnico-científico para orientar a decisão da Arquidiocese sobre o Círio 2020. Já no Amazonas, o tradicional Festival Folclórico de Parintins, por ora, está mantido para 6 a 8 de novembro. Originalmente marcado para acontecer entre os dias 26 e 28 de julho, o evento foi adiado por conta da pandemia. Segundo os organizadores, o evento será aberto ao público “seguindo todas as medidas de segurança que forem determinadas pelas autoridades.”

O são-joão, uma das festas mais populares do país, especialmente no Nordeste, foi uma das que já sofreram os impactos brutais da paralisia econômica e social. Estimativas realizadas por empresários dão conta de um prejuízo global de mais de R$ 1 bilhão na economia dos principais estados nordestinos, isso contabilizando os maiores festejos juninos de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Bahia, sem contar as centenas de pequenos municípios que também promovem seus eventos e os outros estados. Uma estimativa da Superintendência de Estudos Econômicos da Bahia indica que só no estado o prejuízo para a economia do interior ultrapassou R$ 500 milhões.

Só na arrecadação de direitos autorais de execução pública das músicas tocadas nas festas, o tombo foi de quase 94% em relação ao ano passado. Ou seja, o valor arrecadado foi de R$ 360 mil, contra R$ 5,885 em 2019. 

Para além dos titulares das músicas mais usadas nos festejos, o impacto afeta toda uma cadeia produtiva e a geração de milhares de postos de trabalho. Em cidades como Campina Grande e Caruaru, as festas chegam a reunir mais de 2 milhões de pessoas, gerar mais de 10 mil empregos diretos e indiretos e movimentar R$ 200 milhões. Com os cancelamentos em cascata em várias cidades, algumas optaram por adiar os festejos para o segundo semestre, como Campina Grande, na Paraíba, que reprogramou para o período de 9 de outubro a 8 de novembro. Em Pernambuco, Caruaru optou por realizar uma edição virtual este ano.

O Rio de Janeiro, cujo setor turístico — incluídos grandes eventos — responde por mais de 7% do PIB local, segundo o IBGE, é um dos lugares onde a situação de festas como réveillon e carnaval, entre outras, continua mais em aberto. 

Em nota enviada à UBC, a Riotur diz que ainda não foi tomada uma decisão sobre ano-novo e festejos de momo, embora escolas de samba e blocos admitam que sequer têm um calendário para começar a planejar o ano que vem. 

A Riotur ressalta como é complexo o planejamento desses eventos em situação normal, e que, no cenário atual, requer cuidados ainda mais especiais. “Ambas as festas reúnem milhões de pessoas, com intensa movimentação pela cidade, incluindo o aumento do uso do transporte público durante um extenso período de tempo”. Na nota, a empresa lembra que o carnaval acontece num feriado nacional e envolve outras esferas, e não apenas a municipal. “Trata-se, portanto, de uma questão muito ampla, com vários atores envolvidos. Uma decisão sobre a realização ou não de eventos deste porte deve ser tomada em conjunto, sempre baseada em estudos científicos que garantam a segurança de todos”.

O prefeito de Salvador, ACM Neto, propôs uma espécie de coalizão de cidades — principalmente as maiores, como São Paulo, Rio e Recife, entre outras — para debater o carnaval do ano que vem. A ideia dele é que, num caso de cancelamento, todas adiram coletivamente à medida, para evitar o êxodo de todos os potenciais foliões a uma mesma praça. Já o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, não quer nem saber de falar em festas antes de que a situação da pandemia esteja controlada — de preferência com uma vacina descoberta e anunciada. “(O réveillon) é um evento que requer a organização de pelo menos três meses, envolve patrocínio, agenda de artistas, pacotes promocionais de hotéis, turismo”, descreveu o prefeito durante uma entrevista na qual anunciou o cancelamento da tradicional festa da Avenida Paulista, que reúne mais de um milhão de pessoas.

O número de mortes e infectados deixado pela Covid-19 é assustador, com perdas irreparáveis em diversas famílias. As consequências, no entanto, devem permanecer mesmo após uma diminuição da contaminação. Os prejuízos em diversas áreas ainda são incalculáveis e, no setor de eventos, deve ser gigantesca. Grandes festas e eventos paralisados, adiados e cancelados provocam não só um óbvio baque econômico, mas na própria expressão cultural e artístico do país. Carnaval, Réveillon e as festas populares são uma mostra disso. Após resolvido o problema de saúde, um dos desafios a seguir é como recuperar tudo isso.

Nos próximos dias, leia na nova edição da Revista UBC, na íntegra aqui no site, uma atualização sobre a situação de carnaval e réveillon nas principais capitais brasileiras. 


 

 



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