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Vai ter música ao vivo ainda em 2021?
Publicado em 26/07/2021

Enquanto alguns palcos começam a realizar eventos híbridos, outros aguardam para cravar uma possível retomada dos shows

Por Eduardo Lemos, de Londres

O Circo Voador pré-pandêmico: retomada paulatina e cercada de cuidados. Foto: Michelle Castilho

Na última sexta, 23, o cantor e compositor Nando Reis subiu ao palco do Cine Theatro Brasil Vallourec, em Belo Horizonte, envolto em uma atmosfera de estreia. A expectativa não estava no lançamento de um disco ou no início de uma nova turnê, mas na plateia: pela primeira vez em 2021, o Cine Theatro abria suas portas para que o público pudesse assistir a um show presencialmente.

"Estamos percebendo uma forte demanda da população por eventos culturais seguros. A procura tem sido expressiva. Os ingressos para o show de Nando Reis, por exemplo, esgotaram em 24 horas", conta Sandra Campos, gerente de planejamento e ação cultural do Cine Theatro.

Ainda não é como antigamente, claro: foi preciso seguir as normas estabelecidas pela prefeitura de Belo Horizonte, o que inclui limitação de público a 50% da capacidade da casa, distanciamento social, uso de álcool em gel, controle de filas para validação de ingressos e uso de máscara obrigatório. Mas o episódio simboliza uma esperança para o retorno da música ao vivo no Brasil ainda no segundo semestre.

Um dos setores mais afetados pela pandemia, o mercado de shows do país praticamente parou desde março de 2020, deixando a imensa maioria de músicos, produtores e roadies sem remuneração regular desde então. Parte do otimismo vem da evolução da vacinação e da consequente flexibilização de restrições por parte de algumas cidades, como foi o caso em Belo Horizonte. O show de Nando Reis marcou a reabertura da casa para a música ao vivo – novos espetáculos estão agendados para este ano; o próximo é o de Flávio Venturini, em agosto.

Artistas populares tendem a voltar antes que os artistas do chamado "midstream", segundo a empresária Amanda Souza, que gerencia a carreira de Ana Cañas, Maglore e Bemti. "O retorno vai ter muito a ver com o nicho musical de cada um. Para muitas casas menores, não vale a pena abrir as portas com 40% do público presente. Por isso acho que, para o artista independente, 2021 será o ano de começar a esquentar as turbinas, para daí voltar de vez no segundo semestre de 2022", aposta.

Nando Reis durante apresentação no Cine Theatro, em Belo Horizonte, há alguns dias. Foto: Julia Lanari

Ela própria viveu a experiência de retorno aos palcos há duas semanas, quando Ana Cañas se apresentou no Bourbon Street, em São Paulo, que vem realizando espetáculos com presença de público limitada a 30% da capacidade da casa. "Foi muito emocionante fazer show com público depois de mais de um ano e quatro meses. Os meus artistas precisam tocar pra viver, o que me inclui também. Ao mesmo tempo, eles têm uma preocupação social, querem retornar quando de fato houver uma segurança para o público, em primeiro lugar."

Esta é uma preocupação central para o Circo Voador, no Rio de Janeiro. Desde março de 2020, a casa está de portas fechadas. Para Alexandre Rossi, programador do Circo, há uma possibilidade de que os shows retornem no segundo semestre, mas sem garantias. "Temos shows marcados entre outubro e abril de 2022, mas tudo 'a lápis'; a gente sabe que isso só vai acontecer quando for 100% seguro e se as diretrizes oficiais chegarem a tempo de nos programarmos para isso. Por um lado, temos esperança que boa parte dos adultos esteja duplamente vacinada até outubro; por outro, não sabemos se uma variante (do vírus) pode atrasar este planejamento."

Se a retomada acontecer no segundo semestre, Alexandre diz que os shows terão que seguir algumas regras.

"Vamos pedir para as pessoas usarem máscara, álcool em gel e o processo no bar será todo online, via celular", explica.

Já para os festivais de música, a situação é mais delicada. Nenhum evento de grande porte está confirmado para o segundo semestre de 2021, e aqueles que apostavam em um cenário mais favorável no final do ano, já anunciaram novo adiamento. É o caso do Forró da Lua Cheia, tradicional festival de MPB que acontece na região de Ribeirão Preto (SP). A edição de 2020, que celebraria os 30 anos da festa com atrações como Baianasystem, Alceu Valença, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Falamansa e Racionais MCs, foi adiada três vezes. A última mudança aconteceu na semana passada, quando os organizadores informaram que o evento acontecerá em junho de 2022, e não mais em outubro deste ano.

"Queremos promover o festival no momento em que ele puder ser 100% como ele é, principalmente essa edição de 30 anos. A gente não quer fazer pela metade. Nós temos público que vem do país todo e sabemos que a vacinação está mais acelerada em alguns estados e mais atrasada em outros", relata Lincoln Talamoni, um dos programadores do festival.

Neste sentido, o formato híbrido – um show que acontece com a presença do público também é transmitido pela internet – deve ganhar força, mesmo no caso dos festivais. Para Lincoln, "as transmissões online vieram para ficar, então de qualquer forma o evento deverá ser híbrido".

Imagem de uma edição passada do Forró da Lua Cheia. Próxima, só em 2022. Foto: Glauber Oliveira

Mesmo com as portas parcialmente abertas, o Cine Theatro pretende transmitir os espetáculos pela internet. No show de Nando Reis, o público tinha a opção de ingresso virtual (R$ 10) e presencial (R$ 60).

"É uma ótima solução, pois uma parcela da população ainda prefere ficar em casa à espera das vacinas e são grandes consumidores de eventos com transmissão virtual. Outra parte da população já se encontra preparada para eventos presenciais, buscando sentir a experiência dos palcos", diz Sandra Campos, que acrescenta: "Fazer um evento neste formato exige mais investimentos em locação de câmeras de filmagens, internet e suporte para transmissão online segura. Também tem a questão de direitos de obras que podem ou não ser veiculadas em transmissões."

Continuar apostando nas lives também está nos planos do Circo Voador. "As pessoas se acostumaram com os shows online na pandemia, e isso pode ser utilizado neste momento de reabertura", diz Alexandre Rossi.

 

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