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Fióti, o negócio é arte
Publicado em 30/05/2016

Empresário (e irmão) de Emicida, ele agora se lança como cantor e apresenta EP com mistura de samba, MPB, rap e outros sons que fazem dançar e pensar

Por Fabiane Pereira, do Rio

Se você acompanha o rap nacional, com certeza já ouviu falar dele. Fióti é irmão, sócio e empresário de Emicida, um dos artistas mais respeitados deste gênero musical que conquista, a cada ano, mais fãs e mais espaço na mídia tradicional. Com uma sólida carreira no mercado independente e à frente da Laboratório Fantasma - empresa criada por ele e Emicida em 2009, responsável também pela bem-sucedida carreira do rapper Rael -, Fióti é um homem de negócios, sem dúvidas.  Um dos melhores neste mercado que tenta se reerguer com pouca grana e muita criatividade. Misto de produtora, selo e grife, a marca, Laboratório Fantasma, também vende artigos como bonés, camisetas, canecas e acessórios.

Fióti dá recado exclusivo para os leitores do site da UBC

Fióti sempre foi bom ouvinte. Desde os 6 anos, pelo que se recorda, ouve música no rádio. Então, quem o acompanha desde moleque não se surpreendeu quando, no início deste ano, ele anunciou que lançaria seu primeiro EP, “Gente Bonita”. Conheci Fióti já como empresário do Emicida, há uns cinco ou seis anos, e posso garantir que talento não lhe falta para investir em diversas áreas.

“'Gente Bonita' é o primeiro filho planejado do casamento feliz de Fióti com a música”, afirma Emicida no texto de apresentação do trabalho do irmão. O EP traz seis faixas, entre elas a que dá nome ao trabalho e que ganhou o primeiro clipe. Todas as letras são de rappers da nova geração. “Pitada de Amor”, “Só Uma Mulher” e “Gente Bonita” são assinadas por Fióti em parceria com Emicida. “Vacilão” tem letra de Ogi. “Leve Flores” é de Fióti em parceria com Coruja. A sensacional “Obrigado, Darcy” abre o EP. A canção, que também já ganhou clipe com participação de Caetano Veloso, homenageia o antropólogo Darcy Ribeiro e foi feita a seis mãos, por Emicida, Rael e Nave.

Fióti não dorme. É ligado em 220 volts e está sempre atento a tudo. Nestes dias, a correria está dobrada: além de continuar tocando seus negócios, ainda tem uma agenda de imprensa para cumprir e, desta vez, estreando, como entrevistado. Rápido, certeiro e profissional, como em tudo o que faz.

Quanto tempo você levou para preparar este trabalho?
Fióti: Uma vida, jovem. Em estúdio, tudo ficou pronto em dois meses corridos. 

Como se dá seu processo criativo?
Todo o projeto tem colaborações com grandes letristas (MCs) e com grandes músicos. O processo foi fluido, na verdade. Das seis músicas do EP, duas já estavam prontas: “Gente Bonita” e “Só Uma Mulher” (parcerias com Emicida). “Pitada de Amor” eu comecei a escrever e mandei para o Emicida terminar para mim, e ele levou uns dois anos (rs). Mas, quando o cobrei no inicio do ano, ele logo finalizou e me mandou. Já “Vacilão” é um samba incrível do Ogi e foi composta em 2012. Eu a ouvi num evento, gostei, e ele me deu a música. Rodrigo Campos e eu trabalhamos nela no inicio deste ano para ela ganhar forma e corpo em estúdio. “Obrigado, Darcy” é a única regravação do disco. É uma música de Emicida, Rael e Nave que eu regravei e coloquei meu toque e minha personalidade. O processo foi meio intuitivo, queria que a letra ficasse evidente, que as pessoas prestassem atenção na poesia da música, e  acho que consegui isso. “Leve Flores” tem letra do Coruja, um rapper novo do interior de São Paulo. Ele me mostrou a letra, gostei da poesia e mostrei alguns caminhos de harmonia e melodia para onde eu achava que a música poderia ir. Juntos, a construímos. Na hora já me vieram todo o arranjo e também as colaborações que eu gostaria que tivesse essa faixa. Chamei Curumin, Lucas Martins e Zé Nigro para produzir e Anelis Assumpção para fazer os backings vocals. É uma das minhas canções preferidas neste projeto, sou muito apaixonado por reggae.
 

VÍDEO: Assista a 'Gente Bonita', single de Fióti

VÍDEO: Assista a 'Obrigado, Darcy', com participação de Caetano Veloso


Quando você viu que a musica poderia fazer parte da sua vida profissional?
A música sempre fez parte da minha vida. Desde os 6 anos de idade, quando comecei a ouvir o rádio de casa. Quem me conheceu depois que eu virei empresário se surpreende. Mas, para quem me acompanha desde moleque, não é  novidade, sempre toquei e cantei. O que aconteceu é que, nos últimos tempos, realmente preferi focar na empresa e nos meus artistas, e foi bom, pois tudo tem sua hora, esse tempo foi bom para que eu pudesse viver, experimentar, amadurecer e aprender muitas coisas dentro e fora da música. Assim, acredito que o meu primeiro projeto veio com uma maturidade maior.

Como você pretende conciliar os lados empresário e artista?
Não penso em sair do bussiness, até porque eu gosto do que faço, mas a ideia por hora é fazer projetos mais aos finais de semana, exceto, claro, em períodos de lançamento, onde a gente precisa estar preparado para a agenda de divulgação, como é o caso de agora. Minha meta é me estruturar mais, ampliar a equipe e qualificá-la para que possamos “dar conta do recado”. Hoje, o Lab Fantasma já tem um time de médio porte, capaz de dar conta do trabalho do dia a dia sem que eu precise estar 100% presente. Aqui construímos uma trajetória sólida, as pessoas têm compromisso e responsabilidade, então todos estão me ajudando nesse processo. Enquanto as coisas forem assim, acredito que vai ser corrido, mas não impossível. Se virar um grande problema, e eu precisar escolher, aí penso nessa questão lá na frente. Momentaneamente eu tinha a necessidade de voltar à arte e me expressar musicalmente, colocar num disco minhas vontades, minhas influências, minhas referências, e foi isso que eu fiz.


Você vai continuar à frente da Laboratório Fantasma enquanto estiver em turnê, certo?
Sim, vou continuar!

Como administrar tudo isso e ainda a carreira de um dos artistas mais respeitados da cena contemporânea, seu irmão Emicida?
Treinar e qualificar pessoas. Barreiras vão aparecer, mas minha ideia, a partir desse ano, é qualificar pessoas dentro da Lab. Não vai ser fácil, mas até aqui, nessa caminhada, nada foi fácil, então continuaremos trabalhando e realizando nossos sonhos. Esse era mais um deles, esse momento chegou, vamos pegar as dificuldades e domá-las. 

Quando começam os shows? Você pretende passar por quais cidades ainda este ano?
Somente no segundo semestre. Eu vou com calma, primeiro quero que as pessoas ouçam, sintam e divirtam-se com o disco, depois eu vou sair em tour com poucos shows - a maioria em finais de semana -, quero viajar neste “mundão de Deus” encontrando “gente bonita” que se identificou com a música. Aonde tiver um palco e condições mínimas, e se minha “agendinha” permitir, eu vou.

“Gente Bonita” dá nome ao EP e ao single que puxa o trabalho. Quais os artistas que influenciaram este seu primeiro trabalho solo?
O projeto é bem fincado nos ritmos brasileiros e composto só por letras de rappers. Diria que, musicalmente, você percebe ouvindo o disco com atenção todas minhas influências que vão desde Baden Powell até a Turma do Pagode, passando por Racionais, Chico Buarque, Emicida, Rael, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Marisa Monte, Bezerra da Silva, Moreira da Silva, Ceumar, Djavan... e aí vai, hein?!
 


 

 



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