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Carreira musical, lógica matemática
Publicado em 07/11/2016

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Análise de big data, os dados de larga escala disponíveis em rede, pode ajudar compositores a ligar sua música ao público ideal

Por Bruno Albertim, do Recife

Eles estão disponíveis até na palma na mão, através de um corriqueiro smartphone. Desde que, no início do já distante ano 2000, o analista norte-americano Doug Laney estruturou o conceito de big data em três "V" (Volume, Velocidade e Variedade), as empresas do mundo globalizado começaram a lançar mão da imensa base de dados relacionados aos hábitos de consumo de quem navega na internet para melhor conduzir o fluxo de decisões nos negócios. Ainda pouco usadas na área musical, as ferramentas de dados podem também azeitar carreiras.

"De cara, podemos dizer que as ferramentas de big data podem ajudar a pensar em  análise de público, ou seja, tentar entender através de dados de consumo qual o gosto do público, de que tipo de música se gosta, qual deve ser o próximo interesse por ritmos e temas", propõe o músico e executivo Jacques Barcia, consultor de Tendências do Porto Digital, o reputado pólo de softwares do Recife. "O big data pode ser útil em três grandes frentes: vendas, composição e performance artística ao vivo".

Mesmo do palco, com um produtor bem equipado com um simples celular, o músico pode até mudar ou potencializar a performance para intensificar a relação com a plateia. "Não conheço ninguém que tenha feito isso, mas é uma possibilidade, sim", diz Barcia. Isso porque, no mundo em que todas aquelas profecias de monitoramento previstas por George Orwell no já nada assustador clássico “1984” são nada mais que rotina, não é mais preciso recorrer a questionários e outros métodos de aferição da sociologia mais clássica.

Se duzentas pessoas fazem check-in numa rede social durante um evento musical, por exemplo, e começam a postar frases e selfies, geram indícios e informações que, processados por aplicativos, podem indicar perfis e expectativas daquela comunidade específica. "Isso pode indicar até uma mudança súbita no repertório para aumentar a temperatura de um show", afirma Barcia.

Com mais parcimônia, os dados podem ser boas ferramentas para as vendas. Uma gravadora pode aferir que tipo de marketing cada artista necessita, que música tem melhor potencial de estourar... Já os independentes podem procurar mercados mais adequados à sua música. "Isso é interessante para quem quer  se manter fiel ao próprio espírito artístico. E se traduz, por exemplo, em perceber que o Recife é uma cidade em que tanto a música brega tem um grande mercado como há um público interessado em música autoral em eventos como festivais."

O festival Coquetel Molotov, por exemplo, reuniu mais de dez mil pessoas no dia 22 de outubro, na capital pernambucana, para assistir a mais de dez shows de artistas independentes - ou seja, todos sem vínculos formais com gravadoras. "Você pode querer ser um artista hiperlocal. (Através do big data), faz um tipo de música em São Paulo que não bomba, mas analisa que no Recife o público para essa música é interessante", diz o consultor.


Coquetel Molotov - edição 2016

Produtora do Molotov, Ana Garcia usou a plataforma Sympla para potencializar a estratégia de divulgação e vendas do festival através das redes sociais. "Conseguimos estatísticas sobre quem compra os nossos ingressos ou acessa a página e sabíamos exatamente a melhor hora de fazer postagens mais eficientes, com retorno de compras", ela conta. "Sempre funcionava mais entre 11h e 18h".

Ao final, ela acabou por ter um desenho nítido do perfil do público do evento. "Descobrimos que 51,4% do nosso público são da faixa 25-34 anos, e 40%, de 18 a 24 anos. 72% usam desktop, e não telefone, para comprar os nossos ingressos e acessar o nosso conteúdo", explica. "O que foi ótimo para ter, além da intuição, informação mais precisa para conseguir produzir o evento".

No campo da composição, também se pode usar big data para saber não só o que  poderia ser mais popular como produto de massa, mas também o que pode ser mais popular dentro de um nicho específico.  E essas ferramentas, antes exclusivas das grandes corporações, hoje estão disponíveis a qualquer cidadão disposto a testá-las e  estudá-las. O IBM Cosmos, por exemplo (ver link), usa o Watson, uma ferramenta de big data com inteligência artificial da IBM, disponível como aplicativo. Projeto experimental, o Watson tem a capacidade de analisar conteúdos de natureza variadíssima produzidos nos últimos anos – de filmes a músicas, de artigos de jornais a discursos de vencedores do prêmio Nobel – e, assim, definir à perfeição o zeitgeist, o espírito do nosso tempo, o conjunto de referências que permeia a cultura contemporânea. Aplicado à música, tal feito pode ser capaz de gerar o próximo fenômeno de massa, em teoria.

Se usado num projeto como o da Sony, de lançar já em 2017 uma música criada por um software a partir de algoritmos, como o site da UBC contou no mês passado, o Watson poderia parir sucessos sem a necessidade de um compositor real por trás deles. A menos que os criadores, dotados de verdadeira sensibilidade artística e inteligência, se antecipem a ele.


 

 



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